Erro

"Zona de conforto? Mas nem é confortável..."

Postado por Flavia Franciny Costa Rojas em 16/05/2022 21:28


Alguns sofrimentos são familiares, por isso nos custa desapegar deles. É sempre polêmico e doloroso falar sobre zona de conforto. Como se isso fosse um lugar, um espaço restrito que nós conseguimos acessar quando quisermos e que é rodeado por prazeres e momentos de felicidade. Conforto nos remete ao que é confortável. Não é culpa nossa pensar isso, até o dicionário diz.

 

con·for·to |ô|

substantivo masculino

1.  Ato ou efeito de confortar ou de se confortar.

2. Aquilo que fortalece ou revigora.

3. Sensação de prazer, de bem-estar ou de comodidade (

"conforto", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/conforto 

 

Entretanto, deixamos passar batido o sentido que conforto nos remete e cuja palavra ele é sinônimo: comodidade. E segundo o dicionário....

 

co·mo·di·da·de

substantivo feminino

1. Qualidade do que é  cômodo.

2.  Objeto  cômodo.

3. Ausência de  incômodo.

"comodidade", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/comodidade 

 

 

A comodidade nos leva a definição mais aproximada daquilo que a zona de conforto diz, mas que teimamos em não reconhecer. Seja por brincadeira, seja por seriedade, frases como "se essa é a zona de conforto, imagina o resto" circulam entre as pessoas de modo geral. Mas ela denuncia exatamente aquilo que o conceito de zona de conforto quer dizer a partir do momento que focamos na ideia de comodidade. Nos acomodamos não apenas ao que nos é prazeroso, mas também ao que nos traz pouco ou nenhum incômodo.

 

Acontece que, quando estamos acostumados a alguma situações ou aprendemos a viver de determinada forma, podemos demorar para nos incomodar com algo que para nós é normal. Alguns podem pensar: ué, mas se é normal para mim, está tudo certo, não há com o que me incomodar. Entretanto, quando estamos falando da vida e seus problemas reais, as coisas não são tão simples assim. Muitas vezes algumas coisas que não gostamos na nossa vida ou comportamentos que repetimos estão relacionadas a outras áreas ou dimensões da nossa vida que não estamos conseguindo olhar ou não queremos mudar.

 

Digo que não queremos mudar, por que em alguns casos, nos damos conta do que precisa ser feito, mas não damos os passos necessários (e aí entram diversos pontos a serem explorados). Em outros, estamos muito perdido, sem saber por onde começar ou entender o que está acontecendo. Seja de um jeito ou do outro, a inércia, o não fazer nada, acaba sendo um fuga para não precisar ter que lidar com o problema. A comodidade, isto é, ficar acomodado a situação, acaba sendo uma alternativa, ainda que as circunstâncias não estejam favoráveis.

 

Nesses casos, é preferível continuar no que é familiar e não se jogar no incômodo da incerteza.

Muitas vezes sair da zona de conforto não é sobre sair do lugar que está bom, mas sim do lugar que, apesar do sofrimento, traz segurança e noção de saber onde está.

 

Essa necessidade de saber onde está e buscar algum nível de segurança é um comportamento humano comum, fazemos isso por instinto de sobrevivência. Entretanto, quando estamos lidando com a nossa vida individual precisamos sempre pensar em como isso tem afetado a forma como nos vemos ou queremos viver futuramente, ou mesmo as situações que cismam em se repetir no presente.

 

Ficamos na zona de conforto quando postergamos decisões que sabemos que já passou da hora de tomar, quando adiamos início de novos projetos ou mudança de vida, quando ignoramos fechamentos de ciclos de relacionamentos ou trabalho, quando deixamos de lado nossos desejos com medo de decepcionar os outros. Existe uma serie de situações que nos mantém não em "zona confortáveis", mas em zonas que apesar do sofrimento, nos dão algum chão pra pisar.

 

Acontece que esse chão contém espinhos, e cada vez que pisarmos ou tentarmos nos locomover seremos lembrados disso. Para fora dessa zona de espinhos existe uma zona desconhecida, mas que só conheceremos se nos propormos a explorar. Parte disso nos pede que possamos abrir mão do que, nesse momento, nos é cômodo. Nesse caso, podemos ver que existe sempre um preço a ser pago, seja ficando ou indo, seja pisando nos espinhos ou enfrentando o desconhecido.

 

Dar um passo ou outro é difícil, se fosse fácil não seríamos humanos. E é por isso que no meio do caminho buscamos ajuda e forças para entendê-lo ou ao menos torná-lo menos assombroso. A terapia é uma ferramenta que pode ajudar nesse processo, que convoca a questionar alguns lugares, mas ao mesmo dá suporte e alguma sustentação nesse percurso.

Psicóloga Flávia Costa
CRP 05/60279
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