Postado por Maria Cecilia Ramalho de Camargo em 15/10/2025 11:30
As terapias afirmativas referem-se a abordagens terapêuticas que reconhecem e valorizam as identidades de pessoas pertencentes a grupos minoritários, como pessoas LGBTQIAPN+, considerando os efeitos adversos do estigma, discriminação, preconceito internalizado e outras formas de opressão. A ideia central é que a terapia não seja apenas livre de preconceito, mas que ativamente afirme e valide a identidade do indivíduo. Essas abordagens incorporam conhecimentos específicos sobre os grupos atendidos, levam em conta o estresse minoritário os custos psicológicos de pertencer a um grupo socialmente marginalizado e utilizam práticas que promovem autocompaixão, resiliência, autoestima e integração identitária. Importante destacar que a terapia afirmativa não busca “corrigir” ou “adequar” identidades diversas, mas apoiar o processo de afirmação pessoal, oferecendo um ambiente seguro para lidar com impactos emocionais e sociais.
No que se refere a prática, elementos comuns que compõe as terapias afirmativas são: Criação de um ambiente terapêutico seguro e acolhedor para expressão da identidade; trabalho com o estigma social e internalizado, ajudando o indivíduo a identificar seus efeitos sobre a saúde mental; incentivo à participação em redes de apoio e grupos de pertencimento e o uso de intervenções de cada abordagem adaptadas ao contexto da comunidade LGBTQIAPN+. Pesquisas demonstram a eficácia das intervenções afirmativas no aumento do bem-estar e da autoestima, bem como na redução do estresse e da autocrítica. Apesar disso, ainda há desafios, como a necessidade de formação continuada dos profissionais, resistência institucional e escassez de protocolos padronizados.
As terapias afirmativas reduzem sintomas de depressão, ansiedade e ideação suicida entre pessoas LGBTQIAPN+, por abordarem diretamente fatores de estresse relacionados ao preconceito. Elas promovem autoestima, autoconhecimento e aceitação da identidade, resultando em melhora significativa do bem-estar psicológico. Essas práticas fortalecem o senso de pertencimento e autenticidade, reduzindo sentimentos de vergonha e culpa, e favorecendo relações interpessoais mais saudáveis.
A formação de profissionais com consciência dos próprios vieses e capacitados para atuar afirmativamente reduz práticas terapêuticas danosas e patologizantes. As terapias afirmativas contrapõem abordagens de “cura” ou “conversão”, promovendo práticas éticas alinhadas às diretrizes do Conselho Federal de Psicologia e organismos internacionais. As terapias afirmativas inserem-se em uma perspectiva de equidade e justiça social, reconhecendo que identidades minoritárias historicamente sofrem opressão. Assim, a prática terapêutica assume também um papel político e social na promoção de direitos e na redução de desigualdades em saúde mental.
Dessa forma, as terapias afirmativas representam uma prática clínica comprometida com a validação e o acolhimento das identidades diversas, atuando não apenas na redução do sofrimento, mas também na promoção de dignidade, pertencimento e saúde mental. Para que seu potencial seja plenamente alcançado, é fundamental o investimento em formação, pesquisa e políticas públicas que garantam acesso e qualidade nesse tipo de atendimento.
Referências bibliográficas
- Mussi, S. V., & Malerbi, F. E. K. (2020). Revisão de estudos que empregaram intervenções afirmativas para pessoas LGBTQI+ sob uma perspectiva analítico-comportamental. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 22(1). Disponível em: https://rbtcc.com.br/RBTCC/article/view/1438