Postado por Viviane Azevedo Figueiredo em 15/10/2025 14:10
A depressão é um transtorno multifatorial, que envolve alterações biológicas, psicológicas e sociais. Não se trata apenas de um estado de tristeza ou desânimo, mas de um adoecimento emocional complexo, que pode comprometer significativamente a capacidade da pessoa de se relacionar, trabalhar, cuidar de si e manter vínculos saudáveis.
Embora o sofrimento pareça “individual”, a depressão raramente ocorre de forma isolada. Na perspectiva sistêmica, ela se manifesta dentro de um contexto relacional, um sistema que inclui a família, os vínculos afetivos e o ambiente de vida. Isso significa que o sintoma, muitas vezes, comunica algo que o sistema ainda não conseguiu expressar de outra forma.
O impacto da depressão nas relações
A depressão costuma alterar a maneira como a pessoa percebe o mundo e a si mesma. Sentimentos de culpa, vazio e desesperança fazem com que o indivíduo se afaste emocionalmente, mesmo quando há amor e desejo de estar perto.
Esse afastamento é interpretado, por quem convive, como rejeição, frieza ou desinteresse — o que gera conflitos, mágoas e um ciclo de incompreensão mútua.
Nos relacionamentos amorosos, isso se expressa em frases como:
> “Sinto que ela não me ama mais.”
> “Ele não quer conversar, parece distante.”
> “Fazemos tudo por ela, mas nada a faz reagir.”
Essas reações não são falta de vontade, mas sintomas do adoecimento. O cérebro deprimido funciona em ritmo diferente: há lentificação, fadiga, dificuldade de concentração, alterações de sono, apetite e libido. Além disso, o indivíduo deprimido perde a capacidade de sentir prazer (anedonia), o que impacta diretamente a convivência familiar.
A perspectiva sistêmica: o sintoma como comunicação
Na terapia sistêmica, compreendemos a depressão não apenas como um problema do indivíduo, mas como um sinal de desequilíbrio nas relações.
O sintoma pode representar, simbolicamente, algo que o sistema precisa ver, integrar ou transformar.
Por exemplo:
* Em famílias marcadas por lutos não elaborados, a depressão pode surgir como uma forma inconsciente de manter viva a memória de quem partiu.
* Em dinâmicas de lealdade familiar, a pessoa pode carregar inconscientemente dores de gerações anteriores, repetindo padrões de sofrimento.
* Em contextos de relações abusivas ou vínculos frágeis, a depressão pode ser uma forma de “parar o mundo”, de expressar aquilo que não consegue ser dito.
Assim, mais do que tratar apenas o sintoma, é fundamental **compreender o contexto em que ele se manifesta**.
O papel da família e dos vínculos no processo de recuperação
A presença da família é essencial, mas nem sempre simples.
Quem convive com alguém deprimido costuma oscilar entre a tentativa de ajudar e o cansaço de não ver mudanças. É importante compreender que o apoio emocional não substitui o tratamento, mas é um complemento valioso.
O que mais ajuda é a presença empática, o respeito ao ritmo do outro e o incentivo à busca de ajuda profissional.
A psicoterapia, aliada à avaliação psiquiátrica quando necessário, permite que o paciente **reconstrua a narrativa da própria história**, reconheça gatilhos e ressignifique vínculos.
A abordagem sistêmica, especialmente, favorece o entendimento das **relações de pertencimento, lealdade e repetição transgeracional**, oferecendo um caminho de reorganização emocional e relacional.
Depressão: um convite à reconstrução
Ainda que dolorosa, a depressão pode se tornar um convite para o reencontro consigo e com os vínculos mais profundos.
Ao olhar para essa dor com consciência e acolhimento, o indivíduo aprende a reconhecer seus limites, a pedir ajuda e a reconstruir laços de forma mais autêntica e saudável.
Reflexão final
A depressão não define quem você é , ela sinaliza que algo dentro de você precisa ser olhado com mais cuidado.
Buscar ajuda não é fraqueza, é um gesto de coragem e amor-próprio.
E quando um membro da família se cuida, todo o sistema se transforma.
Se você tem sentido o peso do desânimo, ou percebe alguém próximo se afastando emocionalmente, talvez seja o momento de acolher essa dor com mais gentileza.
A terapia pode ser o espaço seguro onde você reencontra sentido, reconstrói vínculos e inicia uma nova forma de viver.
Viviane A Figueiredo
CRP 04/77523
Contato: (38) 99973-7352