Erro

Tudo na Clínica Psicanalítica é sobre Amor?

Postado por Laís Comini em 14/04/2025 12:05


Amar, dizia Lacan, é dar o que não se tem!

 

Na psicanálise, o amor ocupa um lugar de destaque na relação transferencial entre analisando e analista. Lacan dizia que "Transferência é amor". Mas vamos do inicio:

Esse fenômeno, inicialmente abordado por Freud, evidencia a projeção de afetos inconscientes que, no setting analítico, se manifestam como repetição de laços e desejos primordiais. O amor transferencial inscreve-se como um elemento estruturante na clínica psicanalítica, permitindo o acesso às formações inconscientes que sustentam os significantes e articulam os impasses do desejo no sujeito.

Freud reconheceu a complexidade desse amor, situando-o no campo da repetição e do desejo. Ele compreendeu que a transferência é, ao mesmo tempo, um obstáculo e uma via de cura. Por meio dela, o analisando revive experiências infantis e reativa laços simbólicos que foram reprimidos. Assim, o amor, enquanto expressão transferencial, torna-se parte do movimento pulsional, permitindo que o sujeito se aproxime de suas formações inconscientes.

Entretanto, a transferência pode funcionar também como oposto na engrenagem analítica, surgindo como resistência. Freud identificou que a transferência, embora seja uma ferramenta de acesso ao inconsciente, pode também funcionar como um mecanismo de defesa, dificultando o progresso da análise.

Quando o analisando inscreve no analista os afetos e desejos oriundos de seu inconsciente, essa projeção pode, concomitantemente, operar como um mecanismo defensivo que visa evitar o confronto com conteúdos psíquicos penosos ou perturbadores. Nesse movimento, a resistência emerge como uma estratégia para salvaguardar a economia psíquica do sujeito, ao interditar o desvelamento e a elaboração de significantes que sustentam seus conflitos. Desse modo, a transferência, que em sua essência deveria funcionar como via privilegiada de acesso ao inconsciente, pode paradoxalmente instaurar-se como um entrave no progresso do trabalho analítico.

Lacan, por sua vez, expandiu a concepção freudiana ao trazer o amor para o campo do desejo e do discurso. Ele afirma que o analista deve situar-se no lugar de objeto a, isto é, no vazio que incita o desejo do analisando. Nesse ponto, o amor na clínica assume uma dimensão simbólica, permitindo que o analisando confronte suas construções psíquicas. Ao operar como objeto causa do desejo, o analista possibilita que o sujeito mova-se em direção à reconstrução do seu discurso, promovendo deslocamentos significativos na economia pulsional.

No registro psicanalítico, o amor é situado como um ato que se funda na falta constitutiva do sujeito, conforme articulado por Lacan em sua máxima: "amar é dar o que não se tem". No campo da clínica, esse amor assume uma posição ética e estruturante na relação transferencial, na medida em que o analisando, ao endereçar seu desejo ao analista, projeta os significantes que sustentam seus traumas, fantasias e impasses pulsionais. O amor transferencial, enquanto expressão do desejo inconsciente, não se apresenta como uma satisfação plena ou como uma relação interpessoal convencional. Pelo contrário, opera como um motor que impulsiona o sujeito a atravessar o fantasma que organiza seu gozo.

Assim, na dinâmica clínica, o amor não é concebido como uma entrega total, mas como uma oferta daquilo que não se possui: a própria falta. Esse movimento permite que o analisando, ao se confrontar com sua repetição neurótica, encontre no processo analítico uma via de transformação subjetiva. O amor, então, inscreve-se como um ato ético que sustenta a travessia do desejo e possibilita a construção de um novo laço com o inconsciente..

O amor é TUDO na clínica psicanalítica? 🤔 eu diria que o amor, como ferramenta analítica, é justamente o que marca a impossibilidade do 'TUDO', a impossibilidade de 'completude', indicando a castração. Lacan, ao dizer que "amar é dar o que não se tem", está incluindo a falta na dinâmica do amor. Portanto, para que um processo de análise ocorra, é preciso amor para sustentar as impossibilidades, a falta e o desejo.






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