Postado por Juana Contreira Pereira da Costa em 14/02/2024 17:12
Na infância passamos por uma ilusão de completude onde achamos ser tudo para o outro, - idealmente - a sua majestade o bebê, como diria Freud, esperneia e lá vão os pais correndo atrás atendendo suas necessidades. Com o decorrer do tempo - também idealmente - a criança perde tal fantasia, se deparando com a sua própria individualidade, com um mundo que não gira em torno de seu umbigo.
Todos nós carregamos a lembrança ilusória de quando-eramos-um. Há quem continue tão apegado a tal fantasia que avança uma vida inteira tentando voltar a este estado fusional em que não há frustrações ou discrepâncias, este lugar-onde-não-falta.
Estes sujeitos, por motivos que passam desde o abandono afetivo até a superproteção, não conseguiram se desprender da ilusão de completude. Perduram em um estado de insegurança em serem sozinhos, incapazes de se sentirem inteiros em suas individualidades.
Querer ser tudo para o outro é uma forma de reeditar vínculos infantis, com o intuito de reviver o ideal de fusionamento com o outro, isto é, de dependência.
Geralmente, é nas relações amorosas que se busca essa reprodução. Ana Suy, grande psicanalista e escritora, nos diz que o amor é mortífero, nele se quer aniquilar a si mesmo e ao outro em prol da formação de um só ser, em uma busca de eliminar a falta, falta esta que é intrínseca a nós.
Não podemos ser tudo para o outro e o outro não pode ser tudo para nós, pelo simples fato de que não haveria nem um “eu” nem um “outro” para contar essa história. Se faz necessário um intervalo entre o eu e o outro para que haja amor entre dois sujeitos.
A aceitação dessa falta, desse vazio inerente, é o primeiro passo para uma relação saudável e equilibrada. É reconhecer que somos seres individuais, com nossas próprias necessidades, desejos e limitações. É entender que o amor verdadeiro não busca fundir-se num só, mas sim complementar-se, respeitando e valorizando a singularidade de cada um. É nesse espaço entre o eu e o outro que floresce a verdadeira conexão, baseada na liberdade, na reciprocidade e no crescimento mútuo.
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Psicóloga Juana Contreira
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