Postado por Gabriel Rocha em 11/11/2025 10:02
Imagine que a vida é um grande mar — imenso, imprevisível, cheio de correntes que mudam de direção sem avisar.
E que cada um de nós tem o seu próprio barco para navegar.
Quando nascemos, ainda estamos no barco dos nossos pais. É ali que aprendemos o básico: como remar, como ajustar as velas, como reagir quando o vento muda. Eles nos ensinam o que sabem — com as ferramentas e materiais que têm. Alguns nos ensinam a remar com força, outros a observar o vento, outros a esperar a maré certa.
O mar, é claro, faz a sua parte. Às vezes é gentil e nos embala. Outras, revolto, nos vira de ponta-cabeça.
É no balanço entre o que aprendemos e o que o mar nos ensina que começamos a construir o nosso próprio barco.
E quando ele fica pronto, chega o momento inevitável: soltar as amarras e partir.
A primeira viagem é cheia de descobertas.
Cada rota parece uma aventura, cada onda, um desafio. A sensação de liberdade é enorme — mas a de solidão, às vezes também.
No caminho, cruzamos outros barcos.
Alguns passam rápido e desaparecem no horizonte. Outros vêm devagar e ficam por um tempo ao nosso lado. E há aqueles que, de tão bonitos, a gente até pensa em pular pra dentro.
Mas o que acontece com o nosso barco quando fazemos isso?
Muitas vezes, ele fica lá atrás — ancorado, esquecido, ou à deriva.
A verdade é que todos os barcos têm seus buracos e remendos.
E quando o nosso está com um furo, ou uma parte quebrada, é natural querer buscar abrigo no barco de alguém.
Parece mais fácil dividir o leme do que encarar o conserto.
Mas nenhum barco foi feito pra carregar dois navegadores por muito tempo.
O outro pode querer seguir pra outro lado, procurar novas ilhas, novas rotas.
E quando chega o momento de separar os barcos, o estrago pode ser grande.
Às vezes o barco compartilhado se parte ao meio — e cada um leva um pedaço, tentando fazer dele um novo.
Reconstruir o próprio barco enquanto o mar ainda balança é um dos trabalhos mais difíceis da vida.
Mas também é um dos mais bonitos.
É ali, entre ondas e remendos, que a gente aprende o que realmente sustenta uma embarcação: não a madeira, nem o tecido da vela, mas a vontade de continuar navegando.
Por isso, cuide do seu barquinho.
Passe um verniz quando o tempo estiver bom. Reforce as tábuas quando sentir que algo range. Aprenda a reconhecer os ventos — e, principalmente, a parar quando for preciso.
Viver não é navegar sozinho.
É aprender a remar ao lado de outros barcos sem perder o rumo do seu.
É saber que dá pra seguir junto, sem se misturar.
E quando as rotas se separarem, que o seu barco continue firme, pronto pra seguir, com o leme nas suas mãos e o coração apontado pro horizonte.
E mesmo que falte um pedaço (sempre falta), não esqueça:
Você tem um barco inteiro :)