Erro

Síndrome de Ulisses – O que sentimos durante a migração

Postado por Caio Augusto Melville de Souza Zanis em 23/09/2025 16:48


O processo migratório é complexo e atravessa diversas dimensões da vida do sujeito. Migrar não significa apenas deslocar-se fisicamente: implica deixar para trás vínculos afetivos, sociais e culturais, além de lidar com a incerteza do que será encontrado no destino.

Do ponto de vista da saúde mental, é importante destacar alguns fatores de risco frequentemente presentes nesse processo:

  • Perda e luto múltiplo, pelo afastamento da família, amigos, território, língua, costumes e identidade social;
  • Estresse de adaptação, ao aprender uma nova língua, enfrentar preconceito, racismo ou xenofobia, e lidar com barreiras legais e burocráticas;
  • Vulnerabilidade socioeconômica, com risco de desemprego, trabalhos precários, insegurança alimentar e falta de moradia;
  • Exposição a violências, tanto no trajeto migratório quanto no país de acolhida (violência física, sexual, institucional e discriminação).

Apesar desses desafios, a migração também pode ser um espaço de resiliência e crescimento pessoal, sobretudo quando há redes de apoio comunitário, políticas públicas de acolhimento e acesso a serviços de saúde mental.

Nesse contexto, destaca-se a chamada Síndrome de Ulisses, termo proposto pelo psiquiatra Joseba Achotegui, da Universidade de Barcelona, para descrever o estresse crônico e múltiplo associado ao processo migratório. O nome faz referência ao herói grego Ulisses (Odisseu), que enfrentou longas jornadas, incertezas e sofrimentos longe de casa. É importante ressaltar que a Síndrome de Ulisses não é considerada uma doença mental, mas sim um quadro reativo de sofrimento intenso diante de múltiplas adversidades. Ela surge quando a carga de estresse ultrapassa a capacidade de adaptação do indivíduo, especialmente em contextos de migração forçada ou precária.

Entre os sintomas mais comuns estão:

  • Tristeza profunda e choro frequente;
  • Ansiedade, medo e irritabilidade;
  • Sensação de desamparo e solidão;
  • Insônia e fadiga;
  • Dificuldades cognitivas (atenção, memória);
  • Sintomas somáticos (dores de cabeça, musculares, problemas gastrointestinais).

Esse quadro intensifica os sentimentos de não pertencimento, pois o migrante pode não se sentir integrado nem no país de acolhida, nem ao retornar ao de origem. Além disso, aumenta a vulnerabilidade a quadros clínicos mais graves, como depressão maior, transtornos de ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático, prejudicando a vida social, acadêmica e profissional.

No mundo contemporâneo, a migração é um fenômeno constante, e o Brasil é reconhecido como um grande exportador de migrantes. É comum dizer que “em qualquer lugar do mundo há um brasileiro”. No entanto, brasileiros que migram para outros países podem vivenciar de forma intensa a Síndrome de Ulisses, em especial devido a barreiras linguísticas, episódios de xenofobia (como relatado em Portugal), subemprego e ausência de uma rede de apoio sólida.

Diante disso, algumas estratégias podem ajudar o migrante a enfrentar melhor esse processo:

  • Reconhecer que tristeza, saudade e estresse fazem parte da migração, mas não significam incapacidade;
  • Buscar redes de apoio, como associações de brasileiros no exterior, grupos comunitários e coletivos culturais;
  • Manter contato frequente com a família e amigos no país de origem (por internet, ligações ou vídeo chamadas);
  • Investir na integração local, aprendendo a língua, participando de atividades culturais, voluntariado ou esportes coletivos — sem perder a identidade cultural;
  • Cuidar do corpo, mantendo sono adequado, boa alimentação e prática regular de exercícios físicos para reduzir os efeitos do estresse;
  • Procurar apoio psicológico, seja com profissionais locais, grupos de apoio ou serviços gratuitos em consulados, ONGs e universidades que atendem migrantes.

É fundamental compreender que a Síndrome de Ulisses não se trata de “loucura” ou incapacidade, mas de uma resposta humana diante de adversidades extremas. O reconhecimento desse quadro e o acesso a estratégias de apoio podem transformar a experiência migratória, reduzindo o sofrimento e fortalecendo a resiliência.


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