Postado por Wanessa Viegas Lemos em 03/06/2025 13:35
“De repente, me deu um aperto no peito.”
“Comecei a chorar do nada.”
“Explodi e nem sei por quê.”
Você já ouviu ou disse algo assim? Pois saiba: na psicologia, especialmente na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), essas situações nunca são realmente “do nada”. O que parece surgir sem motivo é, na verdade, o resultado de uma série de pensamentos, interpretações e experiências que se acumulam — muitas vezes sem que a gente perceba.
Neste artigo, vamos explorar por que, para a TCC, nada acontece por acaso e como essa abordagem nos ajuda a entender e lidar melhor com nossas emoções, comportamentos e reações.
No cotidiano, é comum sentirmos que certos estados emocionais surgem do nada. Um ataque de ansiedade, uma crise de choro, uma irritação aparentemente desproporcional. Mas a TCC nos convida a olhar mais de perto: o que passou pela sua mente segundos antes disso? Que situações, pensamentos ou lembranças vieram à tona, ainda que de forma sutil?
A verdade é que o que chamamos de “do nada” costuma estar ligado a padrões de pensamento automáticos, aprendidos ao longo da vida. Esses pensamentos, muitas vezes distorcidos ou exagerados, influenciam como nos sentimos e como reagimos.
Um dos pilares da Terapia Cognitivo-Comportamental é o modelo cognitivo, que parte da ideia de que nossas emoções e comportamentos são influenciados pela forma como interpretamos os acontecimentos — e não apenas pelos acontecimentos em si.
Imagine a seguinte situação: duas pessoas recebem um feedback crítico no trabalho.
Pessoa A pensa: “Eu nunca faço nada direito. Vou ser demitido.”
Emoção: ansiedade, culpa.
Comportamento: retraimento, queda de desempenho.
Pessoa B pensa: “Ok, não foi meu melhor dia, mas posso melhorar.”
Emoção: leve frustração, motivação.
Comportamento: busca de soluções, aprendizado.
Perceba: o evento é o mesmo, mas a forma como cada um pensa sobre ele muda completamente os desdobramentos emocionais e comportamentais.
Os chamados pensamentos automáticos são aqueles que surgem rápida e automaticamente em resposta a uma situação. Muitas vezes, nem nos damos conta deles, mas eles moldam diretamente o que sentimos.
Por exemplo, ao passar por alguém conhecido na rua que não acena, você pode pensar:
“Me ignorou. Não gosta mais de mim.” → Emoção: tristeza ou rejeição.
“Deve estar distraído.” → Emoção: indiferença ou compreensão.
Esses pensamentos automáticos têm raízes mais profundas: nossas crenças centrais. São ideias que formamos sobre nós mesmos, os outros e o mundo, geralmente desde a infância. Crenças como “eu não sou bom o bastante” ou “as pessoas sempre me abandonam” tornam nossos filtros mentais mais sensíveis a certos tipos de interpretações.
A TCC entende que o que sentimos hoje tem muito a ver com o que vivemos antes. Cada emoção “sem motivo” pode carregar marcas do passado: traumas, rejeições, frustrações, perdas. Isso não significa que estamos presos ao que aconteceu, mas sim que esses registros emocionais podem ativar respostas automáticas no presente.
Um exemplo: uma pessoa que cresceu sendo muito criticada pode ter desenvolvido uma crença de que precisa ser perfeita. Anos depois, um simples erro no trabalho pode gerar uma reação desproporcional de vergonha ou raiva. De novo: não é do nada. É do vivido.
A beleza da Terapia Cognitivo-Comportamental é justamente sua proposta prática: identificar os padrões de pensamento e comportamento que nos causam sofrimento e trabalhar, de forma ativa, para transformá-los.
Durante o processo terapêutico, a pessoa aprende a:
Identificar pensamentos automáticos negativos;
Analisar se esses pensamentos são baseados em fatos ou distorções cognitivas (como catastrofização, generalização, pensamento tudo ou nada, etc.);
Reformular pensamentos disfuncionais, buscando interpretações mais realistas e equilibradas;
Modificar comportamentos que reforçam o sofrimento emocional.
O resultado não é só mais clareza, mas mais autonomia emocional. Ao perceber que suas reações fazem sentido — mesmo que estejam baseadas em interpretações equivocadas —, a pessoa passa a se conhecer melhor e a lidar com mais eficácia com seus desafios internos.
Veja algumas situações comuns e o que pode haver por trás delas:
O que parece surgir “de repente” pode estar relacionado a um acúmulo de microestresses, preocupações recorrentes ou situações mal processadas. A TCC investiga os pensamentos e crenças que alimentam essa ansiedade.
A raiva pode ser um sintoma secundário de frustração, medo ou insegurança. Muitas vezes, o que parece exagerado tem origem em crenças como “se eu não tiver controle, tudo vai dar errado”.
A tristeza pode ser sinal de luto não elaborado, sensação de impotência, ou pensamentos de autocrítica constantes. A TCC ajuda a identificar esses gatilhos internos e a resignificar experiências.
Importante destacar: reconhecer que “nunca é do nada” não é o mesmo que justificar todo sofrimento. A TCC não busca culpados, mas compreensão. Ela parte do princípio de que entender de onde vem é o primeiro passo para saber para onde ir.
Quando dizemos “não sei por que estou assim”, estamos apenas no início da investigação. A TCC convida a fazer justamente o oposto: mergulhar, com curiosidade e sem julgamento, no que está por trás dos sintomas.
É esse olhar mais profundo e estruturado que permite transformar padrões inconscientes em escolhas conscientes.
Porque, afinal, nunca é do nada. É do vivido. É do pensado. E pode ser ressignificado.
Se você se identificou com esse conteúdo e deseja compreender melhor suas emoções, pensamentos e comportamentos, considere buscar um(a) psicólogo(a) com abordagem cognitivo-comportamental. A TCC pode ser uma poderosa aliada no seu processo de autoconhecimento e mudança.