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Longe de casa: impactos psicológicos da migração

Postado por Caio Augusto Melville de Souza Zanis em 01/10/2025 12:29


Longe de Casa: os impactos psicológicos da migração

“Mais um dia chegando do trabalho, cansado, com fome, atravessando esse bairro estranho. O cheiro da comida que corre pela rua é diferente, e a sensação que este lugar me traz não me acolhe, antes me empurra para dentro de mim mesmo. Muitas pessoas, mesmo com um sorriso no rosto e um boa-noite generoso, me fazem sentir deslocado, e percebo que minha forma não se encaixa aqui. A rotina, a correria desse novo espaço, é tão diferente daquela que chamo de lar. Longe de casa eu estou, ainda que possa ouvir minha música, cozinhar uma receita deixada por minha avó, ler as notícias de onde vim, ou tentar uma vídeochamada que insiste em travar, cair ou reduzir-se apenas ao áudio. Ainda assim, estou longe de casa.”
(texto feito se baseando nos relatos de pessoas migrantes)

Estar longe de casa é uma experiência que ultrapassa a distância física. É uma vivência emocional, cultural e identitária que atravessa profundamente quem precisa se deslocar, seja dentro do próprio país ou para além de suas fronteiras. “Casa” não é apenas o espaço em que se dorme ou se guarda pertences; é também o vínculo com pessoas, os cheiros familiares, a cadência da língua, os sabores do cotidiano e as pequenas rotinas que nos fazem pertencer. Quando se migra, esses pontos de apoio se perdem, e junto deles, muitas vezes, a sensação de segurança e de identidade.

A migração pode acontecer de formas diferentes. No âmbito interno, ainda se preserva uma proximidade cultural e linguística, mas mesmo assim pode emergir o estranhamento, o preconceito regional e o sentimento de deslocamento. Já a migração externa acrescenta barreiras mais densas: o idioma desconhecido, a diferença cultural profunda, a xenofobia que, em muitos casos, se impõe. Apesar dessas distinções, ambas compartilham um mesmo peso: a sensação de não pertencer completamente nem ao lugar de origem, nem ao de destino.

Os impactos dessa experiência se desdobram de maneira distinta para cada fase da vida. Para os adultos, estar longe de casa é muitas vezes dor e luto — o rompimento com aquilo que sustentava sua identidade. Para crianças e adolescentes, a vivência pode carregar contradições: dor da perda, sim, mas também a abertura para criar identidades híbridas, fundindo referências e reinventando modos de ser. Do ponto de vista psicológico, essa distância se manifesta em formas de solidão e saudade, na ausência de uma rede de apoio próxima; em um luto migratório, como nomeia a psicologia, que descreve a perda não apenas de pessoas, mas de rotinas, idioma, status social e referências de vida; e em estados de ansiedade e incerteza, provocados pelo desconhecido e pelas barreiras culturais.

Ainda assim, há caminhos que podem ajudar a elaborar essa travessia. Muitos migrantes encontram força em manter rituais de conexão com sua origem: cozinhar um prato típico, ouvir músicas do país natal, recriar tradições familiares ou insistir nas chamadas de vídeo que, mesmo falhas, aproximam afetos. Outros se fortalecem ao construir redes de apoio no novo lugar, seja ao se aproximar de conterrâneos, seja ao abrir-se a novas amizades. E, em muitos casos, a psicoterapia surge como um espaço fundamental para lidar com as perdas, acolher a saudade e reorganizar a identidade no processo migratório.

A expressão cultural também se mostra uma via poderosa de ressignificação. Migrantes transformam sua saudade em música, poesia, culinária, religião ou escrita, criando novos modos de narrar e pertencer. A psicologia reconhece nessas expressões não apenas manifestações artísticas, mas formas de enfrentamento e de reconstrução simbólica da ideia de casa.

Estar longe de casa, portanto, é ao mesmo tempo perda e possibilidade. É a sensação de deslocamento, mas também a chance de criar novos lugares de pertencimento. Cada migrante carrega consigo uma casa interior, feita de memórias e afetos, que se reinventa a cada encontro, a cada lembrança preservada, a cada história que vai sendo escrita no caminho.


 

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