Postado por Paulo Barros em 02/12/2020 19:51
Existe diferença no atendimento psicológico com clientes cisgêneros/heterossexuais e pessoas que façam parte da população LGBTQIA+?
O/A psicólogo/psicóloga precisa ter um treinamento específico para atender demandas vindas da população LGBTQIA+?
Ouço estas perguntas com uma certa frequência.
Porém, prefiro fazer outra pergunta.
O quanto nós, psicólogos e psicólogas estamos disponíveis para atender qualquer pessoa, independente de sua identidade de gênero e orientação sexual? Como nós lidamos com a nossa sexualidade? O quanto somos rígidos/rígidas quanto a diversidade sexual que existe em nós e fora de nós? O quanto me permito ser fluida/fluido? Sou um/uma psi que prega a normatização da sexualidade? Ou, sou um/uma profissional que respeita o direito do outro de ser quem se é?
Claro que existem especificidades nas populações LGBTQIA+ que seriam interessantes de serem conhecidas previamente. Mas, nada substitui o encontro. O que percebo de diferente no atendimento com pessoas LGBTQIA+, diz respeito ao sofrimento a que muitos e muitas (mas não todes) são submetidos/submetidas desde muito cedo, por vivermos em uma sociedade tão preconceituosa.
Logo, ser um/uma profissional conservador/conservadora e limitado/limitada quanto as questões de gênero e sexualidade, aumentam as chances de praticar uma clínica da violência e opressão, ao invés de uma clínica da morada e transformação.
Não precisamos de manuais para atender corpos que por séculos foram e por vezes ainda são marginalizados pelas diferentes sociedades. O que precisamos é olhar para o nosso sexo, nossa sexualidade, nosso gênero, percebendo o quanto estamos ou não inseridos na norma, e o quanto isto contribui para que nossas intervenções sejam normatizadoras e normalizadoras.
LGBTQIA+ não são seres de outro mundo!
São pessoas que precisam e devem ser acolhidas e respeitadas, independente do que fazem ou deixam de fazer com seus corpos.
Mas, o quanto nós, psicólogos e psicólogas estamos tentando criar mundos normatizados, nos quais as únicas possibilidades “adequadas” e “corretas” de existir tratam-se da cisgeneridade e heterossexualidade? Aí reside a problemática. Pois, uma clínica da norma, não permite que o encontro genuíno aconteça. Uma clínica da norma, serve apenas para que o/a profissional exerça poder, sendo apenas mais um/uma tentar controlar vidas.
Lutemos por uma clínica não-normativa e transgressora!
Caso tenha mais dúvidas sobre questões relacionadas ao campo da sexualidade, te convido a conhecer o meu trabalho, via instagram (@nucleolgbtqi).
Paulo Barros
Psicólogo/ Sexólogo/ Gestalt-terapeuta
Coordenador do Núcleo de Atendimento Psicossocial Para População LGBTQI