Postado por Juana Contreira Pereira da Costa em 28/02/2024 16:03
"Eu me apaixonei pelo que inventei de você"
Essa frase pode ser tanto um trecho de uma música da Marília Mendonça quanto uma questão de estudos da psicanálise - confluência esta que acho particularmente adorável.
Freud nos aponta que, de forma inconsciente, vemos no outro o que o próprio sujeito é, o que foi, o que gostaria de ser, ou ainda, o que gostaria de ter. E nem sempre - ou quase nunca? - algo disso esbarra no real.
Logo, questiono, o que é a paixão senão um monte de projeções narcísicas que lançamos na direção do outro na esperança de que ele as aceite? Costuramos retalhos de fantasias feitas sob medida para que o bem amado as vista, e mesmo que o faça às avessas, fingimos que está tudo certo em prol de que o ideal não caia.
Com o tempo - idealmente - o outro vai se despindo das roupagens inventadas, ganhando contornos reais, uma voz, uma vida, que não é baseada na gente e nem no que queríamos que fosse ou que fôssemos.
Transpõe-se - ufa! - a condição narcísica para a alteridade, o apaixonamento para o amor. Consigo lidar com o outro sendo o outro, com suas definições e indefinições subjetivas, com sua própria roupinha de si. Amo o outro justamente por ser diferente de mim e me brindar com outras possibilidades para além de mim mesmo.
E isso é difícil, tá? Nem todo mundo consegue atravessar essa barreira levantada por cada um. Nem todo mundo tem uma constituição segura o suficiente para garantir-se em uma troca com um-outro-que-não-é-igual-a-si. Há aqueles que se esborracham pelo meio do caminho e continuam em direções diferentes, há aqueles que perduram em um eterno fantasiar. Mas isso já é conteúdo para um outro post…
Após a reflexão sobre as nuances do apaixonar-se e do amar, percebemos que cada experiência, por mais desafiadora que seja, nos proporciona um crescimento pessoal e uma compreensão mais profunda das complexidades humanas. É no confronto com a realidade do outro que nos tornamos mais empáticos, mais tolerantes e, acima de tudo, mais autênticos em nossas relações. Assim, mesmo diante das incertezas e dos obstáculos, é a coragem de nos entregarmos ao verdadeiro encontro com o outro que nos leva ao caminho do amor genuíno e da realização pessoal.
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Psicóloga Juana Contreira
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