Postado por Flavia Franciny Costa Rojas em 06/07/2022 17:31
Você conhece alguém que de tanto sofrer criou uma serie de defesas que parecem protegê-la de novos sofrimentos? É provável que você conheça e é provável que você também seja assim. Eu sei que a palavra defesa assusta um pouco e faz com que automaticamente a gente pense em pessoas que são extremamente inseguras ou desconfiadas. Porém, a verdade é que todos nós possuímos defesas.
Na psicanálise, a defesa não se constitui como algo necessariamente ruim. As defesa servem exatamente para nos proteger em certas situações e foram em sua maioria desenvolvidas em uma época em que estávamos muito vulneráveis, isto é, na infância.
Quando falamos que olhar para infância é algo importante é porque nessa época da vida vivenciamos diversas situações pela primeira vez. Algumas situações podem não ser classificadas por nós hoje em dia como algo grave, mas a criança que fomos pode não ter vivido isso da mesma forma, e quando falamos de atos que inquestionavelmente são graves (como violência sexual por exemplo) isso é ainda mais delicado. Assim, situações que apresentam uma ameaça são vivenciadas com defesas, que ajudam o sujeito a lidar de alguma forma com o que aconteceu.
A psicanálise nomeou uma serie de defesas (negação, idealização, projeção, dissociação etc) e ajudou a enxergá-las não apenas como algo ruim e que atrapalha a pessoa, mas como a forma que em dado momento a pessoa utilizou para se organizar frente a uma serie de eventos. A grande questão é que essas defesas foram usadas em situações ameaçadoras, porém passaram também a ocupar situações onde a ameaça não era tão frequente. Aquilo que ocupou uma função adaptativa acaba sendo usada em toda e qualquer situação ou até mesmo não amadurecendo (alguns teóricos costumam fazer diferenciações entre defesas primárias, mais primitivas e defesas secundárias, mais maduras). Assim, defesas que possuem um caráter adaptativo podem também causar uma serie de sofrimentos porque a pessoa as utiliza de forma inflexível.
No senso comum costumamos falar que uma pessoa está na defensiva, e isso é entendido como algo negativo. Porém, ter defesas não é algo ruim, o problema é quando elas se tornam inflexíveis e rígidas. Quando respondemos com as mesmas defesas para toda e qualquer situação ou então nunca baixamos a guarda para receber o que o mundo pode oferecer além daquilo que nos feriu acabamos empobrecendo nossa experiência de vida e troca de afetos, limitando tudo a algo ruim. Precisamos nos proteger em vários momentos da vida, e para isso criamos nossas próprias armaduras, porém, assim como um soldado após a guerra, precisamos retirar a armadura e cuidar das feridas do combate. Ficar com a armadura só faz com que as feridas se infeccionem e os prejuízos aumentem. No que se refere as defesas psíquicas não é possível tirá-las, mas é possível ampliar as maneiras de usá-las e de estar na vida. Falar sobre essas dores é uma forma de cuidar disso.
Se proteja, mas as vezes tire a armardura para cuidar das feridas.
Psicóloga Flávia F. Costa Rojas
CRP 05/60279
Pós-graduanda em Asistência a usuários de álcool e outras drogas - Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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