Postado por Carolina de Souza em 18/11/2025 23:17
No artigo “Terapia de conversão para jovens lésbicas e gays: esquadrinhando os danos emocionais sob a lente da análise fílmica”, publicado na Revista da SPAGESP (v. 24, n. 1), apresento uma análise crítica da chamada “terapia de conversão”, partindo do filme O mau exemplo de Cameron Post. Meu objetivo foi compreender, pela lente da análise fílmica, como discursos religiosos, normativos e pseudocientíficos são usados para justificar intervenções que prometem “corrigir” a orientação sexual de jovens lésbicas e gays, mas que na prática produzem sofrimento, violência emocional e apagamento identitário.
Ao acompanhar a trajetória da protagonista Cameron, observei como esses programas operam por meio de humilhações, interrogatórios invasivos, coerção psicológica e do uso distorcido de conceitos clínicos. Jovens são levados a acreditar que sua orientação afetivo-sexual decorre de traumas ou falhas morais, reforçando a ideia equivocada de que há algo errado em quem são. O filme também evidencia como essas práticas podem resultar em adoecimento emocional, internalização da homonegatividade e até comportamentos autodestrutivos.
Durante a análise, discuto como tais práticas são sustentadas por fundamentalismos religiosos, culpabilização moral e desconhecimento sobre desenvolvimento sexual e identitário. Destaco ainda como a ausência de informações qualificadas, a violação do sigilo, o comprometimento do consentimento e o uso arbitrário do poder institucional configuram graves violações éticas e de direitos humanos. A literatura revisada reforça que a “terapia de conversão” não tem fundamento científico, é ineficaz e causa danos psicológicos profundos.
Apesar desse cenário de violência simbólica, evidencio também a força das relações de solidariedade entre os jovens retratados. A amizade entre Cameron, Jane e Adam funciona como espaço de resistência e reconstrução subjetiva, permitindo que retomem a confiança em si mesmos e encontrem caminhos possíveis de emancipação. Esses vínculos mostram como o apoio social atua como fator de proteção, mesmo em ambientes altamente opressores.
Ao longo do texto, busco contribuir para uma reflexão crítica sobre práticas que continuam a patologizar sexualidades dissidentes, reforçando a necessidade de uma psicologia ética, laica e comprometida com as identidades LGBTQIAPN+. Defendo uma atuação clínica que acolha o sofrimento decorrente da violência social, e não que reproduza estigmas e feridas.
Convido você a acessar o artigo completo pelo link disponibilizado pela revista e aprofundar essa discussão, que permanece urgente no campo da psicologia e dos direitos humanos: https://nesme.emnuvens.com.br/SPAGESP/article/view/47