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Ansiedade na Transição para a Vida Adulta: Quando Crescer Vira um Peso Silencioso

Postado por Grazieli Farias do Nascimento em 11/06/2025 15:37


 

Introdução: Crescer é um privilégio, mas também é um desafio

A transição para a vida adulta é muitas vezes romantizada como uma fase de liberdade, descobertas e independência. Mas, na prática, pode ser marcada por sentimentos intensos de insegurança, medo e sobrecarga. Entre boletos, decisões importantes e expectativas sociais, a ansiedade muitas vezes se instala de forma silenciosa, tornando essa travessia emocionalmente desafiadora.

Neste artigo, vamos explorar o que caracteriza essa ansiedade, por que ela acontece, seus principais sintomas e como a psicologia – especialmente a abordagem da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) – pode ajudar a transformar essa etapa em um caminho mais leve e consciente.


1. O que é a transição para a vida adulta?

A transição para a vida adulta não acontece de uma hora para outra, nem em uma linha reta. Ela envolve uma série de mudanças práticas, emocionais e sociais que ocorrem geralmente entre o final da adolescência e os primeiros anos da vida adulta (entre os 18 e 30 anos).

Essa fase pode incluir:

  • Saída da casa dos pais;

  • Entrada ou término da faculdade;

  • Primeiro emprego ou carreira;

  • Relacionamentos mais sérios (ou o fim deles);

  • Decisões sobre maternidade/paternidade ou não;

  • Assumir responsabilidades financeiras e emocionais.

Cada uma dessas experiências exige adaptação, escolhas e maturidade emocional – o que naturalmente traz vulnerabilidades.


2. Ansiedade: O sintoma que avisa que algo precisa de cuidado

A ansiedade, nessa fase, costuma aparecer como uma resposta às incertezas. Ela pode ser vista como um “sinalizador emocional” que indica sobrecarga, medo do futuro ou dificuldade de lidar com tantas exigências internas e externas.

Sintomas comuns nessa fase:

  • Medo constante de fracassar;

  • Pensamentos ruminativos sobre o futuro;

  • Sensação de inadequação ou de estar “atrasado” em relação aos outros;

  • Dificuldade de tomar decisões por medo de errar;

  • Procrastinação paralisante;

  • Crises de pânico ou sintomas físicos (taquicardia, insônia, falta de ar);

  • Comparações frequentes com colegas ou pessoas da mesma idade.


3. Por que essa fase causa tanta ansiedade?

Expectativas irreais

A pressão para “ter a vida resolvida” até os 25 anos, estar feliz, realizado(a), independente e emocionalmente maduro(a) é irreal. E, quando não alcançada, pode gerar culpa e autocrítica intensa.

Desconstrução de referências

Muitos jovens chegam à vida adulta com poucas ferramentas práticas de autocuidado, educação emocional ou tomada de decisões. Sair do papel de “filho” para assumir o de “adulto” pode gerar um vazio de identidade.

Sobreposição de papéis

É comum que jovens-adultos estejam estudando, trabalhando, cuidando da casa, sustentando familiares e tentando manter a saúde mental... tudo ao mesmo tempo. A sobrecarga emocional é quase inevitável.


4. A armadilha do “adulto ideal” e o ciclo da autocrítica

Um dos grandes gatilhos da ansiedade é o modelo internalizado de um “adulto ideal”: produtivo, bem-sucedido, equilibrado e confiante. Esse padrão, muitas vezes moldado pelas redes sociais e pelo discurso meritocrático, cria um ciclo de autocrítica:

Não dou conta → me comparo → me sinto incapaz → evito agir → fico mais ansioso(a) → reforço a ideia de fracasso.

Na TCC, isso é chamado de ciclo de pensamento automático disfuncional, e pode ser reestruturado com intervenções práticas.


5. Como a Terapia Cognitivo-Comportamental pode ajudar

A TCC atua diretamente sobre os pensamentos, emoções e comportamentos, ajudando o paciente a entender o que está por trás da ansiedade e desenvolver estratégias para lidar melhor com essa fase.

Exemplos de intervenções:

  • Identificação e reestruturação de pensamentos distorcidos (“Se eu não for promovido, sou um fracasso”);

  • Planejamento de metas realistas;

  • Treinamento de habilidades de enfrentamento (ex: assertividade, tomada de decisão);

  • Regulação emocional e técnicas de relaxamento;

  • Trabalho com valores e construção de identidade adulta.


6. Estratégias práticas para lidar com a ansiedade na vida adulta

Aqui vão algumas estratégias que podem ser trabalhadas tanto em psicoterapia quanto de forma autônoma:

  • 🧭 Pratique o autoconhecimento: Entenda seus valores, seus limites e o que faz sentido para você – não para os outros.

  • 📆 Descomplique a organização: Um planner ou sistema simples pode ajudar a colocar a vida no eixo sem rigidez.

  • 💬 Converse sobre o que sente: Falar sobre suas inseguranças com amigos, terapeutas ou grupos de apoio é libertador.

  • 🔄 Evite comparações constantes: A vida não é uma linha do tempo padronizada. Cada pessoa tem seu ritmo.

  • 🧘‍♀️ Cultive pausas conscientes: Ansiedade adora sobrecarga. Encaixe momentos de prazer e descanso sem culpa.

  • 🌱 Celebre pequenas vitórias: Crescer não é sobre fazer tudo certo, mas sobre continuar tentando.


7. Quando procurar ajuda profissional?

Se a ansiedade estiver:

  • Interferindo no seu trabalho, estudos ou relacionamentos;

  • Causando sintomas físicos frequentes;

  • Levando a comportamentos de evitação (parar de sair, evitar responsabilidades);

  • Gerando pensamentos autodepreciativos intensos;

... é hora de buscar acompanhamento psicológico. O cuidado emocional é um investimento, não um luxo.


Conclusão: Crescer é difícil, mas você não precisa fazer isso sozinha(o)

A vida adulta não começa em um dia específico, e ninguém te entrega um manual ao completar 18 anos. Sentir medo, insegurança ou confusão é parte do processo. Mas é possível tornar essa fase mais leve e consciente, construindo uma vida adulta possível – que acolha suas vulnerabilidades, respeite seus limites e valorize seu próprio ritmo.

A ansiedade pode até bater à porta, mas você não precisa deixá-la morar aí.






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