Postado por Vanessa Ribeiro Krubniki em 06/05/2022 14:42
Como definir o luto?
Podemos dizer que o luto é o processo emocional que ocorre após perdermos uma pessoa. Mas não se trata de qualquer pessoa, entre tantas que existem no planeta: trata-se de uma pessoa específica com a qual temos um laço afetivo importante, um laço de amor. Também não se trata de qualquer perda, como por exemplo, quando alguém viaja, se muda ou nos bloqueia, mas sim da perda irreversível causada pela morte.
Como é estar enlutado?
Os famosos cinco estágios do luto foram uma tentativa de categorizar as reações que pacientes terminais apresentavam ao lidar com a própria morte iminente, feita pela psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross, em 1969. São elas: negação, seguida por raiva, barganha, depressão, e por último, aceitação. A partir daí, seu estudo ganhou espaço na cultura popular como um modelo de estágios do luto, coisa que nunca foi, já que Kübler-Ross estudou doentes, e não enlutados. Ainda hoje, o modelo dos cinco estágios segue confundindo enlutados que percebem não se adequarem a esse roteiro. Vejamos o por que:
Primeiramente, os sentimentos não costumam serem sentidos de forma sequenciada pelos enlutados. Ao contrário, eles se misturam, se repetem, se alternam e se sobrepõem. Em segundo lugar, nem todos os enlutados passam por todos esses cinco sentimentos. É perfeitamente possível, por exemplo, que alguém sinta apenas raiva e depressão. Há também aqueles que sentem coisas diferentes dessas cinco opções, como por exemplo, alívio ou o sentimento de estar amortecido.
Outra grande causa de confusão é supor que, chegando à aceitação, encerra-se o processo de luto. Isso não poderia ser mais distante da realidade, pois o luto nunca acaba. Afinal, o ente querido nunca volta, e sempre fará falta. O que é possível é, com o tempo, amenizar a dor do luto – e não o luto em si –, e encontrar novas formas de vivenciá-lo.
Cada enlutamento é único
Se pudermos admitir que cada relacionamento é único, tem sua própria história e sua complexidade, fica claro que cada enlutamento também é. Uma mesma pessoa que perde familiares diferentes terá lutos diferentes, pois perder um pai não é como perder um filho, perder uma irmã não é como perder uma mãe. E nem todos os pais, mães, filhos, avós são iguais. Alguns pais são ausentes, outros são autoritários, afetuosos, etc. E por isso, órfãos diferentes têm lutos diferentes.
E para complicar um pouco mais, em geral cada relação evoca diversos sentimentos, não é mesmo? Sentimos amor, raiva, e tantas outras coisas sobre uma mesma pessoa. Muitas vezes, ocorre uma idealização do falecido, de modo que sentimentos negativos são ignorados. Esses sentimentos, no entanto, persistem no inconsciente, e complexificam ainda mais a experiência do enlutado, tornando-a cheia de paradoxos únicos àquela relação.
A psicoterapia do luto
O luto, a princípio, não é uma doença. Mas, cada pessoa sabe quando precisa de atenção, de apoio, e pode buscar atendimento psicológico. Vejamos agora qual a importância do trabalho com o luto.
Um primeiro papel da psicoterapia do luto é desvencilhar o enlutado da falsa idéia dos cinco estágios do luto, para que ele ou ela se permita sentir e elaborar seu luto da forma que ele de fato é, pelo tempo que for necessário: meses, anos. É aí que a psicoterapia se mostra realmente importante, já que não se tem espaço para isso no convívio social. Os sentimentos do enlutado podem ser confusos e contraditórios, mas são legítimos, e a psicoterapia é o espaço onde se cuida deles.
A psicoterapia pode também ajudar o enlutado a encontrar novas formas de se relacionar com o ente querido, através de experiências que o façam se sentir mais próximo da pessoa falecida, seja com atividades, músicas, comidas, ou qualquer outra coisa que seja única àquela relação.
A morte deixa um buraco, seja na família, no trabalho, e a vida exige que os vínculos que sobraram sejam reorganizados: quem vai fazer almoço agora? Quem vai cuidar das contas? Quem vai conversar comigo todo dia? Essa reorganização, bem como a construção de novos vínculos, é uma necessidade que pode ser assistida pelo psicoterapeuta.
A psicoterapia do luto tem também um papel importante com relação à infância, seja no atendimento com crianças ou na orientação parental. Afinal, as crianças também vivem o luto, e muitas vezes sozinhas, já que ninguém quer falar com elas sobre isso por medo de amedrontá-las. A terapia pode auxiliar na introdução do diálogo sobre o luto que seja adequado à idade da criança.
O luto é a conseqüência natural do amor, da alegria que uma certa pessoa – com todas as suas ambivalências – trouxe em vida, e da relação que ela e o enlutado puderam construir juntos.
Se você está em luto e sente a necessidade de um atendimento psicológico responsável e cuidadoso para te auxiliar nas suas questões, agende sua sessão.