Erro

Os sonhos como uma forma de resistência ao desamparo

Postado por Lucas Antunes Santos Vilas Boas em 08/02/2025 16:12


Em situações extremas de angústia e desamparo, os sonhos podem servir como uma forma de resistir ao excesso que não encontra representações. A partir da psicanálise de Freud e Lacan, aferimos a importância da elaboração onírica para a saúde mental dos sujeitos, além de ser uma via de expressão do desejo. Você consegue se lembrar de um dia cheio, cansativo e estressante, em que ao final do dia teve um sonho com tudo embaralhado?

Por exemplo, durante a pandemia do Covid-19, muitos sonhavam que estavam fugindo de alguma ameaça, - um monstro - ou até mesmo sonhavam com a experiência de estar dentro de casa, sem poder sair. Já outros, sonhavam com a liberdade, com viagens, com formas de se apaziguar durante um período em que estavam com sua liberdade cerceada. Assim, com um pequeno esforço de memória, conseguimos resgatar um exemplo pessoal em que o papel dos sonhos teve extrema importância para nos manter firmes diante daquilo que nos aflige.

Sonha-se para resistir ao excesso que não encontra representações, para os eventos advindos do Real. Coutinho Jorge (2000), em seu livro "Fundamentos de Psicanálise - (Vol. 2)", define o Real como o lugar do não sentido, como algo impossível de ser representado pela linguagem, que nos atravessa mas não é formulado em palavras. Quando nos encontramos desamparados, o psiquismo trabalha a serviço da vida e o sonho se revela como um protetor da saúde mental, principalmente com sua função de proteger o sono do sonhador.

No ensino de Lacan, com sua formulação do Real enquanto função daquilo que o desejo estrutura, compreendemos a função do sonho enquanto recurso psíquico que permite dar lugar ao indizível desamparo. (Abuleac, 2022, p. 17). Os sonhos traumáticos, que repetem durante várias noites a fio, são os sonhos que fazem questão de serem lembrados - seguindo a lógica da pulsão de morte. Esses sonhos, em sua maioria, aparecem justamente para poder receberem um significado, para serem reinseridos em uma cadeia associativa simbólica. Em suma, eles clamam pela elaboração de seu conteudo a partir da repetição exposta na consciência do sonhador.

Dessa forma, ao notarmos tantas características importantes do sonho para o sonhador, o psicanalista faz de sua escuta um recurso ímpar para o acolhimento da angústia do não-sentido escancarado pelos sonhos daqueles que buscam por um significado.

 

Lucas Antunes | Psicólogo | CRP 03/32268.

 


Referências.

 

  • Abuleac, S. (2022). A sobrevivência do desejo nos sonhos de Auschwitz. Blucher.

  • Coutinho Jorge, M. A. (2010). Fundamentos de psicanálise de Freud à Lacan (Vol. 2): A clínica da fantasia. Zahar.






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