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As cinco lições de Psicanálise de Freud

Postado por Alex Correa de Souza em 17/09/2024 23:19


1 – PRIMEIRA LIÇÃO

A Primeira Lição remonta os primórdios da Psicanálise, contando da experiência de Freud com Dr. Breuer (um médico psiquiatra mais experiente, que trabalhava com mulheres histéricas e que acolheu Freud no início de sua carreira) no trabalho conjunto que tiveram com o caso considerado inaugural da Psicanálise, Anna O. e alguns outros casos inaugurais da carreira de Freud.

Nesses textos, Freud julga que é importante ao sujeito que pretende entender a Psicanálise, compreender toda sua trajetória teórica (erros, acertos e influências) para que o raciocínio sobre o qual se amparou seja plenamente reconhecido, e não tomado como uma crença. É por isso que relata tantas de suas experiências clínicas, pois são elas o material que o leva a postular todas as suas teorias. Essa característica de Freud enquanto autor aparecerá em muitos outros textos.

  • O caso Anna O.: É o caso de uma jovem moça, que mora com a mãe e as criadas e que havia cuidado do pai doente. A paciente contava com uma série de sintomas histéricos, como a hidrofobia relatada na Primeira Lição. Foi o primeiro caso a apresentar uma melhora significativa por meio da técnica da “cura pela conversação” ou “talking cure” desenvolvida por Dr. Breuer.
  • Histeria: Quadro mórbido encontrado, na época de Freud majoritariamente em mulheres, em que sintomas corporais acontecem sem uma base orgânica, anatomicamente correspondente. Isto é, em uma paciente que não consegue enxergar, nada é encontrado de errado no exame clínico de seus olhos.
  • A técnica da “cura pela conversação”: Foi desenvolvida inicialmente por Dr. Breuer por meio do método da hipnose no tratamento da histeria. A hipnose era usada em uma tentativa de remontar a cena do surgimento do sintoma. Foi no caso de Anna O. que tanto Freud, quanto Breuer, se dão conta da potência da fala na alteração de sintomas histéricos e passam então, revolucionariamente, a ouvir suas pacientes e o que elas tinham a dizer sobre sua doença. A partir deste caso, o sintoma passa a ser encarado com um fator relacionado a história do sujeito, que tem um conhecimento fidedigno de si mesmo.
  • O método da Hipnose: A técnica da hipnose fez com que fossem observados diferentes estados de consciência, já que era capaz de provocar um estado de absence (ausência) no sujeito. Durante este estado, a pessoa era capaz de revelar conteúdos que não se recordava quando estava consciente, e que se mostravam intimamente relacionados a produção do sintoma, uma vez que quando estes conteúdos eram verbalizados durante a hipnose, promoviam o desaparecimento ou alteração do sintoma.
  • Esta observação de diferentes níveis de consciência é o que levará Freud a, posteriormente, conceber a ideia do Inconsciente, como afirma ao fim da Primeira Lição.
  • A “Teoria dos Traumas” é desenvolvida a partir das experiências clínicas de Breuer, que passa a trabalhar com a ideia de que um acontecimento muito intenso, em que o sujeito não pode reagir de sua forma natural, produz um sintoma patológico. Este acontecimento não externalizado da maneira apropriada é esquecido e passa a ser chamado de “Trauma”, configurando a causa do sintoma.

2 – SEGUNDA LIÇÃO

  •   Na Segunda Lição, Freud conta sobre as influências que teve de Charcot e Janet, ambos médicos franceses que trabalhavam com histeria no Hospital Psiquiátrico de Salpêtrière. Charcot foi o primeiro médico a usar a técnica da hipnose para provar que a histeria não era uma farsa do doente e nem causada por problemas orgânicos nos órgãos atingidos. Nos experimentos de Charcot se mostrava que, durante a hipnose, o órgão atingido voltava a funcionar normalmente pela sugestão, porém, quando encerrada a hipnose, o sintoma persistia de outras formas.
  • Janet foi um discípulo de Charcot, responsável por elaborar uma tese de que a histeria teria causas no sistema nervoso, o que explicaria a não correspondência entre o sintoma e a anatomia dos órgãos. É nesse ponto que, Freud, em sua observação clínica, irá discordar de todos os outros médicos de seu tempo, pois conceberá que os processos observados na histeria não eram próprios de degeneração do sistema nervoso, já que suas pacientes dispunham de capacidades elevadas em diversas áreas não afetadas pelos sintomas. Para Freud, a gênese da doença não é estritamente biológica.
  • Freud abandona o uso da hipnose por diversos motivos, dentre eles a incapacidade de sugestionar todos os pacientes. Passa então a usar o método catártico sem o uso da hipnose, sugestionando os pacientes em seu estado normal a falar tudo que sabiam sobre as cenas patogênicas e os sintomas.
  • A partir do método catártico, Freud percebe que com certo grau de investimento, memórias antes esquecidas podem ser retomadas à consciência do paciente, porém, não sem uma força que resista a esse movimento. Essas observações permitem esclarecer: 1) a existência de uma estrutura psíquica em que os acontecimentos esquecidos estão armazenados – o inconsciente; e 2) um mecanismo psíquico que estabelece uma força de repulsão de certos conteúdos do consciente, fazendo-os permanecer no inconsciente. Essa força é chamada por Freud de resistência.
  • A repressão seria o mecanismo que anteriormente teria expelido o conteúdo indesejado do consciente para o inconsciente.
  • A repressão permite que as ideias perturbadoras para o sujeito sejam retiradas da consciência e esquecidas, mas os impulsos desejosos em torno desta ideia permanecem atuando sobre o aparelho psíquico do sujeito. No lugar da ideia reprimida entra um substituto sobre o qual os impulsos desejosos podem se dissipar. Esse substituto é o sintoma.

3 – TERCEIRA LIÇÃO

            Freud acreditava que os doentes sabiam o que supunham ter esquecido, posto que na hipnose estes contavam estórias e traziam conteúdos. A partir disso, coloca de lado a técnica da hipnose e” força” os pacientes a falar, apostando que o que fosse associado livremente encaminharia para a chave do sintoma.

Quando Freud diz que não acreditava que uma ideia concebida pelo doente com atenção concentrada (ou seja, a hipnose) fosse inteiramente espontânea, sem nenhuma relação com a representação mental por ele procurada. Para ele este seria um conteúdo que deveria ter alguma relação com a causa (etologia) do sintoma. A origem do sintoma estaria nesta representação mental que se procura.

 

  • Duas forças contrárias atuantes: O sintoma não poderia ser idêntico à representação mental do trauma pois existem forças contrárias na psique; uma que busca trazer à consciência aquilo que já havia sido deslembrado pelo inconsciente e a outra era a resistência, impedindo a passagem para consciente do elemento reprimido ou dos derivados deste.  Desta forma, o sintoma faz alusão àquilo que se procura, mas nunca é idêntico.

 

  • Resistência: quanto mais forte for a resistência, maior é a deformação relativa àquilo que se procura e se não fosse por ela o esquecimento se tornaria consciente sem deformação. Portanto, quanto menor a deformação do conteúdo torna-se mais fácil, desvendar o que está oculto ‘’ graças’’ às forças que atuam como resistência.

 

  • Sintoma e pensamento aparecem no lugar do desejo reprimido, e Freud descobre que eles têm a mesma origem, pois ambos são frutos do repressão. Lembremos: Freud nos disse há pouco que existem duas forças contrárias na psique, uma que busca trazer uma ideia à consciência e outra resiste, sendo assim, aquilo que surge como pensamento seria na verdade um disfarce, uma alusão, tal como sintoma, ao desejo que o sujeito reprime.

 

As ideias livres (aquelas que surgem pela via da associação livre) NUNCA deixam de aparecer, a não ser que enfrentem resistência, daí a afirmação do doente narrada por Freud de que já não resta mais nada a dizer. A associação livre é importante porque conduz à origem do sintoma, devido a existência das duas forças contrárias da psique.

Além do estudo relativo às divagações, a interpretação dos sonhos e o estudo dos lapsos e atos casuais servem, também, para se alcançar o inconsciente.

  • A interpretação dos sonhos é o meio mais eficiente para se alcançar o inconsciente, é a base mais segura da psicanálise. É campo onde pode por si mesmo chegar a adquirir convicção própria, como maiores aperfeiçoamentos.
  • O sonho:
    • Na criança seria sempre a realização de desejos que o dia anterior lhe trouxe e que ela não satisfez
    • No adulto tem um conteúdo ininteligível, aparentemente sem nenhuma semelhança com satisfação de desejos, no entanto estes sonhos estão distorcidos, e o processo psíquico correspondente teria originariamente uma expressão verbal muito diversa.
  • Conteúdo manifesto do sonho é o que se lembra do sonho pela manhã, ou seja, é a descrição do sonho.
  • O sonho manifesto (recordado e descrito): é uma realização velada de desejos recalcados, logo, seriam conflitos.
  • Pensamentos latentes: existem no inconsciente e são eles que dão forma ao conteúdo manifesto do sonho, pois Freud diz que o conteúdo manifesto é o substituto deformado dos pensamentos latentes.
  • A elaboração onírica: meio para se estudar melhor os processos psíquicos que se passam no inconsciente, mais exatamente entre dois sistemas psíquicos distintos, consciente e inconsciente. Entre esses processos psíquicos destacam-se condensação e o deslocamento.
  • A ansiedade é uma das reações do ego contra desejos reprimidos violentos, sendo perfeitamente explicável a presença dela nos sonhos
  • Atos falhos são pequenas falhas (na fala, na escrita, …) comuns aos indivíduos normais e neuróticos. É o esquecimento de coisas que os indivíduos deviam saber e que ás vezes sabem, de fato.
  • Para o psicanalista não existe nada insignificante, arbitrário ou casual nas manifestações psíquicas. Temos fé no determinismo da vida mental (acreditamos na vida mental e sua força sobre nossa casa, a psique)

4 – QUARTA LIÇÃO

Freud mostra a importância da sexualidade nas patologias, enfatizando que a vida sexual é a principal causa das neuroses. Discorre também sobre a incompatibilidade da vida sexual com a sociedade, fato que está diretamente ligado as origens das patologias, justamente a sexualidade.

A sexualidade infantil existe e é a partir da repressão de desejos nesta fase que irão surgir os sintomas posteriormente. Essa, porém, não tem valor erótico, nem função procriadora e a diferença de sexo ainda não tem papel decisivo.

Autoerotismo: busca de sensações agradáveis no próprio corpo por meio do toque em zonas erógenas (lugares do corpo que proporcionam o prazer sexual).

A vida sexual infantil é desordenada, sempre em busca da satisfação de um desejo. Esta passa por uma condensação e organização em duas principais direções, até que no final da puberdade o caráter sexual definitivo está completamente formado. A primeira está relacionada com o domínio da região genital e a subordinação dos instintos, e desse momento surge a importância da função procriadora. A segunda direção está atrelada a escolha de objeto, ocorre a “superação” do autoerotismo e os instintos passam a satisfazer-se apenas na pessoa amada. Porém, nem todos os impulsos parciais se sujeitam à soberania da zona genital, como no caso da perversão, caracterizada pela substituição da finalidade sexual normal pela sua própria.

O desenvolvimento sexual é um processo no qual há repressão, advinda da submissão e proibição imposta às crianças. A propensão à neurose deve provir de uma perturbação neste desenvolvimento.

A escolha objetal: “A criança toma ambos os genitores, e particularmente um deles, como objeto de seus desejos eróticos” (FREUD, 1910) – figura criadora como objeto de desejo erótico

  • Filha toma como objeto o pai, desejando o lugar da mãe
  • Filho toma como objeto a mãe, desejando o lugar do pai

A partir da escolha do objeto, o autoerotismo dá lugar a sexualidade genital.

O triângulo edípico (pai-mãe-filho/a), repleta de ternura e hostilidade, forma um complexo nuclear de cada neurose. Este complexo está destinado à repressão, mas continua a agir no inconsciente com intensidade e persistência. “Porém, a libido não permanece fixa neste primeiro objeto: posteriormente o tomará apenas como modelo”. (FREUD, 1910) Ocorre o deslocamento do objeto de desejo para alguém além do triângulo, com esta pessoa que ocorre o verdadeiro prazer sexual.

5 – QUINTA LIÇÃO

Cria-se o sintoma a partir da falta de satisfação. Através dele se encontra uma satisfação substituta.

Resistência à cura: ego se recusa a desfazer o recalque. A dificuldade de se desligar do sintoma está no fato de que ele atende parte do consciente (repressão) e parte do inconsciente (desejo), ambas “temem” abrir mão do sintoma e perder a satisfação parcial que este lhes proporciona.  

Regressão no sintoma: proporciona ao sujeito um prazer imediato por meio do retorno à época em que ainda havia a possibilidade da realização do desejo – a infância.  

A neurose é um dos caminhos para se fugir de uma realidade insuportável para o sujeito, posto que este não obteve a realização dos desejos.

Transferência: É o mecanismo fundamental de cura. Doente consagra ao médico uma série de sentimentos afetuosos ou hostis, que provêm de antigas fantasias tornadas inconscientes.

Paciente revive conteúdos inconscientes na relação com o médico e é na transferência que toma consciência do mesmo, elaborando-os.

Ocorre não só na relação com o médico, mas em todas as relações humanas.

Crítica à Psicanálise: esta poderia trazer os desejos sexuais reprimidos à tona (no consciente). Porém, um desejo inconsciente tem muito mais força do que quando é consciente. “O tratamento psicanalítico coloca-se assim como o melhor substituto da repressão fracassada, justamente em prol das aspirações mais altas e valiosas da civilização”. (FREUD, 1910)

Há 3 destinos para o desejo:

  • Satisfação – vivência do desejo
  • Repressão – mecanismo que impede conteúdos insuportáveis adentrarem a consciência.  
  • Sublimação – uso da energia do desejo em outras atividades (socialmente aceitas)

6 – REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • FREUD, S.: Cinco lições de psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos, VOLUME XI. 1909-1910.
  • ROUDINESCO, E.; PLON, MICHEL; Dicionário de Psicanálise. Zahar, São Paulo, 1998.

7 – SITES CONSULTADOS

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