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Além da Dor: Abordagens Neurocientíficas e Psicológicas para o Alívio na Fibromialgia.

Postado por Mônica Teixeira em 14/11/2024 09:14


A  fibromialgia  é  caracterizada  como  uma  síndrome  crônica  de  etiologia  desconhecida,  identificada  como  um quadro  clínico  de  dor  generalizada,  associada  a  diversos  sintomas  que  afetam  a  qualidade  de  vida  e  bem-estar  do paciente  quando  não  devidamente  tratada.

Um psicólogo especialista em neurociências e comportamento pode oferecer uma abordagem poderosa e diferenciada no tratamento de pacientes com fibromialgia, integrando o conhecimento da interação entre o cérebro, o comportamento e os sintomas físicos da doença. A fibromialgia é uma condição complexa que envolve tanto aspectos físicos, como a dor crônica, quanto fatores emocionais e psicológicos, como estresse e depressão, que podem agravar a condição.

 

Aqui estão algumas maneiras específicas pelas quais um psicólogo com esse tipo de especialização pode ajudar:

 

1. Entendimento da Neurociência da Dor e do Comportamento

A fibromialgia está associada a alterações no sistema nervoso central, como uma sensibilização central, onde o cérebro processa a dor de forma mais intensa do que seria o esperado. Um psicólogo especializado em neurociências pode explicar como essas mudanças no cérebro influenciam a percepção da dor e outros sintomas, ajudando o paciente a compreender melhor o que está acontecendo em seu corpo. Esse conhecimento pode reduzir a ansiedade e o medo associados à dor, além de permitir um manejo mais eficaz.

 

2. Reestruturação Cognitiva e Gestão da Dor

Em condições como a fibromialgia, a percepção da dor não é apenas física, mas também psicológica. Um psicólogo especializado pode usar técnicas de Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) para ajudar o paciente a identificar padrões de pensamento que exacerbam a dor, como o medo de sentir dor ou o pensamento catastrófico (por exemplo, "a dor vai piorar e nunca vou melhorar"). A reestruturação cognitiva pode ajudar a substituir esses pensamentos negativos por crenças mais realistas e positivas, o que pode reduzir a sensação de sofrimento.

 

Além disso, técnicas de controle da dor baseadas em comportamentos, como relaxamento muscular progressivo ou mindfulness (atenção plena), podem ser ensinadas para ajudar o paciente a controlar a dor e melhorar o bem-estar.

 

3. Intervenção no Estresse e na Ansiedade

O estresse e a ansiedade podem intensificar a percepção da dor em pessoas com fibromialgia. O psicólogo pode ensinar técnicas específicas para o manejo do estresse, como treinamento de relaxamento, respiração diafragmática, meditação e mindfulness. Essas práticas ajudam a reduzir a ativação do sistema nervoso simpático (responsável pela resposta de "luta ou fuga"), que está frequentemente elevado em pessoas com dor crônica.

 

O especialista pode também trabalhar com o paciente para identificar e modificar fontes de estresse, como padrões de vida ou relações interpessoais, que podem estar contribuindo para o agravamento dos sintomas.

 

4. Promoção de Hábitos Saudáveis e Estilo de Vida

A compreensão da neuroplasticidade (a capacidade do cérebro de se reorganizar) pode ser usada para apoiar o paciente na criação de novos hábitos saudáveis que favoreçam a recuperação. O psicólogo pode trabalhar com o paciente para estabelecer uma rotina equilibrada, que inclua exercícios físicos leves (importantes para a fibromialgia), alimentação saudável, sono adequado e atividades relaxantes, como o yoga ou o tai chi. Isso pode ajudar a melhorar tanto o bem-estar mental quanto físico.

 

5. Redução de Sintomas Psicológicos Combinados (Ansiedade, Depressão e Cansaço)

Pacientes com fibromialgia frequentemente apresentam comorbidades, como depressão e ansiedade, que podem surgir devido à dor crônica e à limitação funcional. Um psicólogo especializado pode avaliar e tratar esses aspectos psicológicos, usando abordagens baseadas em neurociências para identificar como os padrões cerebrais relacionados à emoção e ao comportamento influenciam esses sintomas. O tratamento pode envolver técnicas específicas de TCC para depressão e ansiedade, além de intervenções focadas em aumentar a motivação e a resiliência do paciente.

 

6. Psicoeducação e Reabilitação Cognitiva

A psicoeducação é um componente chave no trabalho com fibromialgia, ajudando os pacientes a entender a interação entre os aspectos físicos e psicológicos da doença. Um psicólogo especializado pode ensinar ao paciente como os neurotransmissores e outras substâncias químicas no cérebro afetam a dor e o estado emocional, e como a mudança de comportamento pode melhorar o quadro clínico.

 

A reabilitação cognitiva pode ser útil para melhorar aspectos como a função executiva (planejamento, organização) e a atenção que podem ser prejudicados pela dor crônica. Técnicas específicas de treinamento cognitivo podem ajudar o paciente a melhorar o foco e a capacidade de lidar com as distrações causadas pela dor, tornando o cotidiano mais gerenciável.

 

7. Apoio no Lidar com as Limitações Funcionais

A fibromialgia frequentemente impõe limitações significativas no cotidiano da pessoa. O psicólogo especializado pode trabalhar com o paciente em estratégias para ajustar as expectativas e adaptar-se às limitações físicas sem comprometer a autoestima. O apoio psicológico aqui pode ser crucial para evitar sentimentos de frustração ou desesperança, incentivando o paciente a ser mais flexível e aceitar as limitações de maneira construtiva.

 

8. Fomentar o Autocontrole e Empoderamento

O psicólogo pode ajudar o paciente a se sentir mais empoderado no tratamento de sua condição. Isso inclui ajudar a pessoa a desenvolver uma mentalidade de crescimento, na qual ela reconhece o controle que tem sobre alguns aspectos de sua saúde (por exemplo, praticando técnicas de relaxamento, ajustando sua rotina e interagindo positivamente com os profissionais de saúde).

 

Conclusão

Em suma, um psicólogo especializado em neurociências e comportamento pode oferecer uma abordagem integrada e científica para o tratamento da fibromialgia, combinando o entendimento das funções cerebrais, o comportamento humano e técnicas terapêuticas comprovadas. Ao considerar tanto os aspectos biológicos quanto os emocionais da doença, o psicólogo ajuda o paciente a melhorar a percepção da dor, reduzir o estresse e a ansiedade, aumentar a qualidade de vida e desenvolver um maior controle sobre os sintomas.

Bibliografia

Clauw, D. J. (2014). Fibromyalgia: A clinical review. JAMA, 311(15), 1547-1555. Esse artigo oferece uma visão geral sobre a sensibilização central e a natureza complexa da dor em pacientes com fibromialgia.

Ceko, M., Bushnell, M. C., & Gracely, R. H. (2012). Neurobiology underlying fibromyalgia symptoms. Pain Research and Treatment, 2012. Descreve o papel das alterações no sistema nervoso central na experiência de dor na fibromialgia.

Sapolsky, R. M. (2004). Why Zebras Don’t Get Ulcers: The Acclaimed Guide to Stress, Stress-Related Diseases, and Coping. Aborda o impacto do estresse crônico na saúde física e mental, uma leitura valiosa para entender o papel do estresse na fibromialgia.

Kabat-Zinn, J. (2013). Full Catastrophe Living: Using the Wisdom of Your Body and Mind to Face Stress, Pain, and Illness. Este livro é um recurso excelente para o entendimento e a aplicação do mindfulness na gestão do estresse e da dor crônica.






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