Postado por Flavia Franciny Costa Rojas em 05/01/2022 00:02
A necessidade de ser aceito e amado é uma característica comum a todo ser humano. Buscamos isso já nos primeiros dias de vida, ainda que aos olhos de um adulto possa parecer incompreensível. Winnicott, famoso psicanalista, defendeu que a experiência relacional entre cuidador (a) e bebê é essencial para o bom desenvolvimento do eu. E essa relação se daria, dentre outras formas, através do cuidado, alimentação, carinho e atenção do cuidador para com o bebê, que por sua vez se sentiria reconhecido e sustentado nessa troca afetiva. Por meio desse cuidado, o bebê atravessaria fases essenciais para o seu desenvolvimento emocional, que resultaria em um eu saudável.
Para sanar essa necessidade de alimento e afeto na infância, era primordial que o bebê dependesse completamente do cuidador, e este estivesse atento às suas necessidades. Conforme o desenvolvimento ocorresse e as fases fossem passando, o bebê teria condições de explorar o ambiente e ganhar cada vez mais autonomia e senso de si. Obviamente o que Winnicott e vários psicanalistas defendem é mais apronfudado que isso, porém essa exposição nos ajuda a visualizar em linhas gerais como o desenvolvimento emocional acontece de forma gradual, e que é comum que através dele a pessoa alcance níveis mais avançados de autonomia e autoconfiança.
Existem diversas dinâmicas familiares que podem afetar de forma negativa esse desenvolvimento da autonomia e autoconfiança, mas hoje gostaria de falar sobre ambientes familiares cercado por cuidado excessivo e dependência emocional.
Um ambiente que tem como base a não-estimulação da autonomia e exploração é muito provável que proporcione à criança uma baixa autoconfiança e consequentemente uma possível dependência emocional na fase adulta. Há uma confusão social quando nos referimos a independência/dependência. Primeiro que geralmente a independência é associada à recusa de ajuda, o que é um grande erro, uma vez que em alguma medida sempre precisaremos do outro. Segundo que independência também é vista como somente associada a área financeira (“sou independente agora que ganho dinheiro/saí de casa”).
Porém, existem muitos adultos que, por exemplo, alcançam a independência financeira, se casam, mudam de cidade ou estado, mas percebem que suas decisões ainda passam pelo crivo dos pais. Isto é, são assombrados pela pergunta “o que meus pais vão pensar disso?”. Existem vários níveis em que essa pergunta pode ter o impacto na vida de alguém, e dependendo do nível de dependência emocional é provável que a pessoa mude o rumo da sua decisão por imaginar qual seria a resposta.
Não é fácil reconsiderar a importância da opinião dos pais na vida. Porém é importante reconhecer o quanto desse pedido gira em torno de um reconhecimento e admiração dessas figuras e o quanto é um movimento de dependência. Necessitar que os pais aprovem cada decisão e temer contrariá-los, quando já se está na vida adulta, caminha mais para uma relação de dependência emocional e necessidade de aprovação. Onde o adulto apresenta pouca autonomia e confiança nos rumos que pode dar para a própria vida.
Com isso, assim como ocorreu nos primeiros períodos de vida, é importante que na fase adulta haja um maior senso de autonomia. Onde a opinião dos pais sirva para compor um raciocínio que é próprio, criativo, e não apenas como lei inquestionável. Isto é, há uma produção criativa a partir da troca de perspectivas, entendendo que apesar do respeito às figuras paternas, é possível suportar discordâncias na relação.
Às vezes é necessário perceber o quanto essa necessidade pode estar tendo impacto na vida como um todo, seja relação amorosa, trabalho e na própria relação familiar. Na relação familiar é possível que haja explosões de raiva, ao mesmo tempo que há sensação de fraqueza, infantilidade e impotência.
A depender de como os pais colaboram com essa dinâmica, pode ser muito difícil desfazê-la, levando anos para realizar a separação entre respeito e dependência. Porém esse movimento é necessário e até saudável para a relação familiar. E acima de tudo para a relação da pessoa consigo mesma e com sua autoconfiança.
A terapia é um espaço que ajuda a analisar e refletir sobre essas questões e encontrar novas formas de se relacionar com ela, respeitando o tempo e a história de cada um.
Psicóloga Flávia Costa
CRP 05/60279
Graduada em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense - UFF
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