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Espiritualidade

Postado por Camila Cristina de Mello Santos em 14/02/2024 19:26


A temática “espiritualidade” tem sido levantada cada vez mais nos estudos acadêmicos, desde que o termo é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1983 como fator para uma boa qualidade de vida, mas foi nas últimas duas décadas que se intensificaram as pesquisas no assunto e não há um consenso entre os pesquisadores sobre a definição de espiritualidade, porém, o que as definições têm em comum, é remeter a busca de transcendência a uma busca de significado na vida, revelando uma subjetividade, que depende da experiência de cada indivíduo, ou seja, que a espiritualidade não é material.

Inicialmente a espiritualidade foi associada à religião, devido ao seu caráter subjetivo, tanto no senso comum quanto no meio acadêmico, mas recentemente, os estudos acadêmicos vêm mudando esse cenário, preservando a etimologia da palavra, o conceito de aquilo que é Espiritual da palavra Spiritualis que significa o que é próprio à respiração, relativo ao espírito humano.” (p.718)

De acordo com VandenBos (2015), a espiritualidade é uma “preocupação ou sensibilidade para as coisas do espírito ou alma” aquilo que não é material, que inclua a prática religiosa, mas que também pode existir sem tal prática. No entanto, necessariamente tem de ser “incorpóreo”. VandenBos (2015), define espírito como a “base moral e emocional” da “identidade de alguém”, nas filosofias idealistas um elemento “universal”, uma “realidade fundamental”, uma “força motriz dos acontecimentos no mundo”.

O professor de psiquiatria Koenig (2008) representou os conceitos em duas versões, a primeira versão histórico tradicional, conceitua a espiritualidade como um fator menos importante que a religião, ou seja, como um subconjunto da religião, de pessoas profundamente religiosas que buscam a Deus sobre todas as coisas, “cujas vidas exemplificam os ensinamentos de Deus e tradições de fé”, ou seja, a espiritualidade como uma construção completamente separada da prática secular.

A segunda versão, é a espiritualidade englobando a religiosidade e a secularização, conceitualiza a espiritualidade abrangendo a religião, a secularização (os dois serão explicados conceitos nos parágrafos subsequentes), aspectos positivos de saúde mental (valores morais humanos, traços de caráter positivos e estados mentais positivos como significado e propósito na vida, conexões com outros, tranquilidade, harmonia, bem-estar, e esperança) retratados como possíveis “fontes” de espiritualidade, “neste modelo, todo mundo é espiritual”.

Mas o que é secularização? Segundo Berger (1985), é o processo no qual a cultura e a sociedade se desenvolvem sem uma denominação das instituições e simbologias religiosas. Para César (2008), o significado de secular é aquele que acredita em uma conduta moral racionalizada contra a magia, o termo está intimamente relacionado com a mudança da sociedade e com uma visão de mundo que tem como consequência a quebra do “monopólio” das instituições religiosas.

Já a Religiosidade é uma expressão prática do crente (do latim credens, que significa aquele que crê) que pode estar relacionada, ou não, com uma instituição religiosa, mas que necessariamente contribui para a convicção de que existe uma dimensão maior, responsável pelo controle sobre as contingências presentes na vida Dalgalarrondo (2008). Já a religião, segundo Oliveira e Junges (2012), é compreendida como o meio que leva à salvação do transcendente, aqui se inclui o conceito institucional e doutrinário, efetuado através de alguma forma de vivência religiosa, valendo-se de uma sistematização de regras.

 

Entendendo a espiritualidade como o elemento que constitui o humano em seu estado basal e inerente a todos os seres humanos, faz com que seja de suma importância discutir essa temática, como diria Berni (2016) ninguém vê a inteligência, mas as obras produzidas por ela, e me faz questionar o que eu respiro que me faz obrar.

 

Estejam bem.

 

Camila Mello

Psicóloga

 

 

Referências

Berger, P. L. O dossel sagrado: Elementos para uma teoria sociológica da religião. Ed.Paulinas - São Paulo (1985). 117- 138

Braghetta, C.C., Desenvolvimento e validação de um instrumento para avaliar espiritualidade escala de atitudes relacionadas à espiritualidade (ARES) (2017) .

Berni, Os diferentes usos do termo espiritualidade na busca por definição instrumental para a psicologia. Conselho Regional de Psicologia de São Paulo. Psicologia, Espiritualidade e Epistemologias Não-Hegemônicas – Volume 3 / Conselho Regional de Psicologia de São Paulo. - São Paulo: CRP - SP, 2016. http://crpsp.org/fotos/pdf-2016-06-21-18-16-58.pdf

Dalgalarrondo, P. (2008), Religião, psicopatologia & saúde mental. Porto Alegre, Brasil: Artmed.

FERREIRA, A. B. de H. (2004) Novo Dicionário Aurélio Eletrônico da Língua Portuguesa versão 5.0. 3.ed. São Paulo: Editora Positivo, 2004.

Gomes, N. S., Farina,M., Forno, C. D., (2014) Espiritualidade, religiosidade e Religião: Reflexão de Conceitos em Artigos Psicológicos. Revista de psicologia IMED, 107-112 DOI: http://dx.doi.org/10.18256/2175-5027/psico-imed.v6n2p107-112

HOUAISS, A. (2009) Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa 3.0. Rio de Janeiro: Objetiva.

Koenig, H. G. (2008). Concerns About Measuring “Spirituality” in Research. The journal of Nervous e Mental Disease • Vol. 196, Number 5, DOI 10.1097/NMD.0b013e31816ff796

Oliveira, M. R. de, e Junges, J. R. (2012). Saúde mental e espiritualidade/religiosidade: a visão de psicólogos. Estudos de Psicologia (Natal), 17(3), 469-476. https://dx.doi.org/10.1590/S1413-294X2012000300016

Smith C, Denton ML (2005) Soul Searching: The Religious and Spiritual Lives of American Teenagers. New York, NY: Oxford University Press.

Tschoepke, E. R. (2014) Estudo de levantamento bibliográfico sobre espiritualidade na literatura da área da saúde. Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

-(1933 [1932]) Conferência XXXV (A questão de uma Weltanschauung) das novas conferências introdutórias sobre Psicanálise, ESB,vol.XXII.

VandenBos, R. G. APA Dictionary of Psychology. 2 ed. American: American Psychological Association. p.1204 (2015)






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