Postado por Geovana Lee Pinto em 05/08/2025 11:02
A depressão é um fenômeno psíquico profundo, que ultrapassa os limites da tristeza passageira. Ela se manifesta como um estado de alma que evidencia um rompimento com o sentido da vida, gerando sensações de vazio, estagnação e desconexão interior. A psicologia analítica, fundada por Carl Gustav Jung, nos convida a olhar para a depressão não apenas como um transtorno a ser eliminado, mas como uma expressão simbólica da psique, um chamado do inconsciente para uma transformação necessária.
"A depressão é como uma senhora de preto. Se ela aparecer, não a expulse. Convide-a para entrar, ofereça-lhe um lugar, trate-a como uma convidada e ouça o que ela tem a dizer."
(JUNG, C. G.)
Para Jung, os sintomas surgem quando há um desequilíbrio entre consciente e inconsciente. A depressão pode surgir como uma tentativa da psique de nos fazer voltar para dentro, para o encontro com aspectos negligenciados ou reprimidos da personalidade. Em vez de eliminar os sintomas, é preciso escutá-los, pois eles são mensageiros de um processo de individuação interrompido.
Vivemos em uma sociedade que valoriza o desempenho constante, a produtividade e a felicidade superficial. Neste contexto, sentimentos como a tristeza, a lentidão e o vazio são rapidamente patologizados. No entanto, do ponto de vista simbólico, esses estados podem indicar uma pausa necessária, um "tempo de alma" para que haja um realinhamento interior.
James Hollis, psicólogo junguiano, propõe três formas de compreender a depressão: reativa, endógena e intrapsíquica. A depressão reativa surge diante de perdas e frustrações; a endógena apresenta bases mais biológicas; e a intrapsíquica, talvez a mais complexa, emerge quando aspectos essenciais da personalidade são reprimidos por não se enquadrarem no padrão da consciência dominante. Nessa perspectiva, a dor psíquica revela o conflito entre o que somos e o que estamos sendo forçados a ser.
Em termos simbólicos, a palavra "depressão" remete a algo que foi pressionado para baixo. O que está sendo soterrado dentro de nós? Quais impulsos, desejos, talentos ou necessidades foram reprimidos? O processo terapêutico, nesse sentido, busca dar voz a essas partes esquecidas.
Na psicoterapia junguiana, o trabalho com sonhos, imaginação ativa e arteterapia é central para acessar os conteúdos inconscientes. Os sonhos, por exemplo, oferecem imagens simbólicas que refletem a dinâmica interna e podem apontar caminhos de compreensão e integração. A arteterapia permite expressar o que muitas vezes não pode ser dito com palavras.
Outro aspecto importante é compreender a depressão dentro dos ciclos naturais da vida. Como propõe a antroposofia, a vida humana se organiza em setênios, fases de sete anos que alternam momentos de expansão e recolhimento. Os períodos de vazio e escuridão são, muitas vezes, preámbulos de novas fases de crescimento. Resistir a esses ciclos pode intensificar o sofrimento.
A depressão, assim, pode ser compreendida como um rito de passagem simbólico. Ela nos convida a abandonar velhas formas de viver e a buscar novos sentidos. Nesse processo, a dor psíquica não é um obstáculo, mas uma ponte para o renascimento interior.
Portanto, em vez de buscar soluções imediatistas, como o uso isolado de medicações, é essencial dar espaço para que o sintoma revele sua mensagem. O acompanhamento terapêutico pode auxiliar a compreender essa linguagem simbólica, favorecendo o resgate da energia psíquica, a integração da sombra e a reconexão com o Self.
A depressão, então, pode ser vista como um convite à escuta profunda da alma. Ao aceitarmos esse chamado, iniciamos um caminho de autodescoberta, sentido e transformação autêutentica.
Referências Bibliográficas
JUNG, Carl Gustav.
Memórias, sonhos, reflexões. 7. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.
HOLLIS, James.
Os pantanais da alma: depressão e o crescimento da alma. 3. ed. São Paulo: Paulus, 2008.
VON FRANZ, Marie-Louise.
A interpretação dos contos de fada. 4. ed. São Paulo: Paulus, 2002.
