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A ANGÚSTIA COMO GERADORA DE TRANSFORMAÇÕES SIGNIFICATIVAS?

Postado por Eder Narciso de Morais em 29/07/2024 01:11


A angústia, uma experiência emocional complexa, desafia a compreensão humana. Neste artigo, buscamos explorar a relação entre a angústia e as transformações significativas na vida humana, utilizando perspectivas que ora se complementam ora se questionam entre si: a Psicologia Fenomenológica e Hermenêutica, a Fenomenologia Existencial, e as influências das ideias da decolonialidade.

Na Psicologia Fenomenológica e Hermenêutica, a angústia é, por vezes, compreendida como uma experiência subjetiva que revela a existência humana em sua totalidade. Através da hermenêutica, busca-se compreender o significado pessoal e social da angústia, considerando as interpretações culturais e históricas. Já na Fenomenologia Existencial, a angústia é vista como uma resposta natural diante das incertezas e da finitude humana. Ela revela a liberdade e a responsabilidade do ser humano diante das escolhas e do confronto com a própria existência. Então nos perguntamos: pode a angústia ser um chamado para a reflexão e a transformação?

Além disso, a abordagem decolonial traz uma crítica à influência dominante das estruturas coloniais de poder na compreensão da angústia. Ela enfatiza a importância de considerar as experiências e perspectivas de grupos marginalizados, questionando as narrativas hegemônicas e buscando uma abordagem mais inclusiva e contextualizada da angústia já que essa pode ser um motor para a transformação pessoal e social desde que nos desafie a sair da zona de conforto, no desconforto, e enfrentar as questões mais profundas da existência de forma saudável, podendo-se revisar valores e crenças, reavaliar as relações sociais e buscar novos significados na vida desde que se perceba o mesmo objeto por ângulos diferentes.

Diante da angústia e dos conflitos existenciais, é importante adotar estratégias saudáveis de enfrentamento. Recomenda-se buscar apoio emocional, praticar a autocompaixão e a autenticidade, buscar atividades que proporcionem bem-estar e autoconhecimento, e, quando necessário, buscar terapia ou aconselhamento profissional.

Mas como buscar por essas estratégias quando o básico da vida (alimentação, moradia, vestuário, educação de qualidade, etc.,) faltam? Quando a Fenomenologia resume que a angústia, apesar de desconfortável, pode ser um caminho para a transformação e de crescimento pessoal, talvez ela ainda não se proponha a perguntar de quais angústias ela fala e o próprio Heidegger, Binswanger, Boss e tantos outros, que falavam de seu mundo e contexto, não conheciam a realidade de uma favela ou as interseccionalidades presentes em outros mundos nos quais os mesmos não estavam absorvidos nesses, mas vislumbravam possibilidades da historicidade. 

De todo modo, ao compreender a angústia e enfrentá-la de forma saudável, desenvolve-se, sim, a possibilidade de uma maior consciência de si mesmo e do mundo, construindo significados e relações mais autênticas e satisfatórias, ainda que não universais, sabemos.

Apesar disso, é notório para os os profissionais que mantém certo exercício de abertura ao mundo, ao depararem-se com a abordagem decolonial  a qual critica a compreensão dominante da angústia porque reconhece que essa compreensão é influenciada pelas estruturas coloniais de poder. Essas estruturas tendem a impor visões e narrativas hegemônicas, muitas vezes ignorando ou marginalizando as experiências e perspectivas de grupos minoritários e colonizados.

Na compreensão dominante da angústia, há uma tendência a generalizar e universalizar experiências e emoções, sem levar em consideração as diferentes realidades culturais, históricas e sociais. Isso pode levar a uma visão limitada e excludente da angústia, que não contempla a diversidade de vivências e contextos.

Assim, a abordagem decolonial busca romper com essa visão dominante, destacando a importância de dar voz e espaço para diferentes narrativas e perspectivas. Ela reconhece que a angústia pode ser vivenciada de maneiras diversas, influenciadas por fatores como raça, gênero, classe social e colonialidade.

Ao criticar a compreensão dominante da angústia, busca promover uma visão mais inclusiva, disruptiva e contextualizada, que considere as experiências e lutas de grupos marginalizados e vulnerabilizados pelas sedimentações mundanas. Por fim, essa crítica é fundamental para a construção de uma compreensão mais ampla e justa da angústia, que leve em conta a complexidade e diversidade da condição humana sem esquecermos de que até o fato de nos angustiarmos foi o que, muitas vezes, nos levou a buscar ajuda, alcançar, minimamente mudanças significativas e seguir na vida com mais dignidade e na medida do que se pode (ou não) singularmente, sendo.






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