Postado por Michele Santos Tourinho Viterbo em 04/03/2025 21:43
A interseção entre arte, música e psicanálise se configura como um terreno fértil para a reflexão sobre as tensões e os conflitos que marcam a existência humana, especialmente quando articulada com os aportes teóricos de diversos autores. Nesse sentido, as obras e pensamentos de Safatle (2018), Freud em “O Mal-Estar na Civilização” (1930; 2010), e as contribuições literárias de Leminski (2013) oferecem caminhos para compreender essa confluência. Acrescenta-se a essa discussão a perspectiva crítica de Saffiotti (2004), uma estudiosa feminista que, embora não tenha se dedicado especificamente à escrita sobre arte, nos convoca a repensar as relações de poder, gênero e subjetividade presentes nas manifestações culturais e na psique.
Cinema, Arte e Música sob a Luz da Psicanálise
A psicanálise freudiana, com a sua ênfase no conflito entre os desejos individuais e as imposições culturais, revela o mal-estar que permeia as relações humanas e, por extensão, se faz presente nas narrativas do cinema e nas composições musicais. Em “O Mal-Estar na Civilização”, Freud descreve como os mecanismos de repressão e a constante tensão entre o pulsional e o civilizatório se refletem nas angústias contemporâneas. Essa dualidade encontra ressonância nas produções artísticas, onde imagens, sons e enredos desvelam as camadas mais profundas do inconsciente.
A Influência da Poética de Leminski
Leminski, com sua linguagem inovadora e provocadora, explora as fronteiras entre o lúdico e o profundo. Seus versos, repletos de humor, melancolia e subversão, instigam uma leitura que transcende a literalidade, abrindo espaço para múltiplas interpretações. Essa poética dialoga diretamente com os preceitos da psicanálise, ao evidenciar a complexidade do inconsciente e a impossibilidade de uma comunicação completamente transparente entre os desejos reprimidos e as imposições da sociedade.
Perspectivas Feministas e o Olhar de Saffiotti
Embora Saffiotti não tenha escrito especificamente sobre arte, sua abordagem feminista oferece uma contribuição indispensável para a reflexão sobre as estruturas de poder que permeiam as expressões culturais. Ao destacar a importância de se reconhecer as dinâmicas de gênero e a opressão sistêmica, Saffiotti amplia o debate psicanalítico tradicional, que muitas vezes negligenciava as especificidades da experiência feminina. Essa perspectiva crítica permite repensar como o cinema, a arte e a música reproduzem, questionam e, por vezes, subvertem os papéis de gênero, contribuindo para uma compreensão mais plural e inclusiva dos processos de subjetivação.
Conclusão
Articular as ideias de Safatle, Freud, Leminski e Saffiotti possibilitam a compreensão de que a intersecção entre variadas perspectivas fortalecem a a repensar as estruturas tradicionais de poder e desejo. Essa abordagem integrada nos permite compreender que as manifestações artísticas não apenas refletem, mas também transformam as tensões internas e sociais, abrindo caminhos para novas formas de resistência e ressignificação da experiência humana.
Referências:
Freud, S. (1930/2010). O mal-estar na civilização e outros textos. (Tradução de Paulo César de Souza). Companhia das Letras.
Leminski, P. (2013). Toda poesia. Companhia das Letras.
Saffioti, H. I. B. (2004). Gênero, patriarcado, violência. Fundação Perseu Abramo.
Safatle, V. (2018). Patologias do social: arqueologias do sofrimento psíquico. Belo Horizonte: Autentica.
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