Postado por Maicol José Bergo em 05/02/2024 07:37
Carl Rogers, Haruki Murakami e Oscar Wilde, apesar de atuarem em diferentes épocas e gêneros literários, compartilham uma abordagem singular para explorar a complexidade da experiência humana. Seus trabalhos refletem preocupações com a autenticidade, a busca de significado e compreensão dos prazeres e dores profundas do "ser humano".
Carl Rogers, um psicólogo humanista, enfatiza a importância da empatia e da aceitação incondicional. Receber e aceitar um ser humano como ele é e expressar uma consideração positiva por ele, simplesmente porque ele existe, não sendo necessário que exista outras condições para isso. A expressão de uma afetividade incondicional só ocorre devidamente se brotar com sinceridade; não há como simular tal afetividade. Em seu livro “Tornar-se Pessoa”, Rogers escreve que: “A natureza humana é essencialmente positiva, não significa que é boa, mas sim que temos em nossa essência, condições de reagir e sair da situação, mudar o panorama.” Para mudar o panorama é preciso antes perceber o que há de errado nele. Suas ideias ecoam indiretamente no interior de obras como as de Murakami e Wilde, em relação a como abordam as complexidades humanas.
O escritor japonês Haruki Murakami, em romances como "Norwegian Wood" e "Kafka à Beira-Mar", utiliza uma linguagem delicada e introspectiva para explorar a solidão, a busca de identidade e a interconexão dos relacionamentos, temas centrais na experiência humana. Em “Kafka à Beira-Mar” o autor aponta para desafios existenciais envolvendo eventos misteriosos que desafiam a compreensão convencional do tempo e do espaço. Murakami emprega uma abordagem não convencional para contar a história, permitindo que os elementos simbólicos e metafóricos desempenhem um papel significativo na construção do significado. Sua escrita é caracterizada por uma linguagem poética e imagética, que evoca uma profunda sensação de melancolia e contemplação. A combinação de imaginação vívida, introspecção profunda e uma sensibilidade única fazem deste romance uma contribuição notável à literatura contemporânea.
Oscar Wilde, conhecido por seu estilo satírico e suas peças teatrais, como "A Importância de Ser Prudente" e "O Retrato de Dorian Gray", emprega a ironia para questionar a realidade social assim como as profundezas obscuras da psique humana. Em “O Retrato de Dorian Gray”, Wilde realiza uma exploração profunda e provocativa da natureza humana, moralidade e decadência, apresentando uma narrativa envolvente que mistura o gótico, o filosófico e o estético. Oscar Wilde utiliza uma linguagem rica e poética para pintar um retrato vívido da sociedade vitoriana e de suas normas rígidas. Sua técnica de usar o humor e a sátira oferece ao leitor uma lente perspicaz para examinar as hipocrisias humanas, revelando as máscaras que as pessoas frequentemente usam para se adequar às expectativas sociais deslocando de si os próprios desejos.
As obras desses três autores, apesar de suas diferenças, convergem na exploração das experiências emocionais, existenciais e inconscientes do "ser humano". Enquanto Rogers destaca a autenticidade emocional, Murakami mergulha nas complexidades dos relacionamentos e da busca de sentido, e Wilde destila críticas às convenções e reflexões profundas sobre a natureza humana. Cada um, à sua maneira, contribui para uma compreensão enriquecedora e multifacetada da condição de tornar-se humano.
Indico três obras desses autores que poderão te oferecer uma reflexão profunda sobre as escolhas que fazemos, as consequências de nossas ações e a natureza da busca por significado na vida:
“Tornar-se Pessoa”, Carl Rogers;
“Kafka à Beira-Mar”, Haruki Murakami e
“O Retrato de Dorian Gray”, Oscar Wilde.
Maicol José Bergo
Psicólogo Clínico
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