Erro

Entre o passado e o futuro: como viver o presente de verdade

Postado por Diego do Nascimento Souza em 23/11/2025 09:35


      A maior parte do sofrimento humano nasce não do que está acontecendo agora, mas do que já aconteceu ou do que pode acontecer. A mente humana, engenhosa e inquieta, raramente se aquieta no instante presente.

      O passado insiste em lançar sombras longas. Ele aparece como memórias, culpas, erros ruminados e versões antigas de nós mesmos que, por algum motivo, ainda exigem ser ouvidas. Como se dissessem: “Você me deve uma explicação”.

      Já o futuro fala outra linguagem: “Prepare-se”, “Cuidado”, “E se…?”. Ele cobra previsões e planos, exige controle, faz promessas e ameaças. E o mais curioso é que nós, muitas vezes, obedecemos automaticamente.

      O resultado é simples: enquanto o passado nos puxa e o futuro nos empurra, o presente se torna uma espécie de corredor estreito por onde quase não circulamos.

      O ser humano funciona como um sistema que tenta se proteger de desconfortos internos. E uma das formas mais comuns de proteção é justamente fugir do presente — que é o único lugar onde algo real pode ser sentido.

      O presente exige contato, percepção, honestidade. E isso, às vezes, dói mais do que relembrar o passado ou imaginar o futuro. Porque no presente as emoções não são histórias: são sensações.

      Mas é exatamente por isso que o presente também é o único lugar onde a vida acontece. Onde decisões podem, de fato, ser tomadas. Onde a pessoa pode perceber o que sente, e não apenas contar narrativas sobre o que sente.

      Quando alguém está muito preso ao passado, geralmente não é o passado em si que dói — mas a interpretação feita a partir dos valores de hoje. É como julgar o eu antigo com ferramentas do eu atual.

       E quando alguém está aprisionado no futuro, quase nunca é o futuro real que preocupa, mas uma versão distorcida, ampliada, que tenta compensar inseguranças que ainda não foram compreendidas.

       Em ambos os casos, o presente vira uma terra estranha. Só que viver fora dele cansa. Consome energia. Cria ansiedade, culpa, confusão e uma sensação de nunca estar totalmente “inteiro” em lugar nenhum.

       Curiosamente, o presente é sempre mais simples do que parece. Ele se resume ao que está acontecendo agora: sensações corporais, pensamentos que surgem, emoções que se movem, necessidades verdadeiras.

    . Mas aprender a habitar o presente é um exercício — e exige desaprender alguns hábitos antigos de sobrevivência emocional. A mente aprende a se defender muito cedo; viver de forma consciente é um treino posterior.

       Estar no presente não significa ignorar o passado ou abandonar o planejamento do futuro. Significa apenas que essas duas dimensões não podem comandar a vida em nosso lugar.

       Quando alguém passa a atuar mais no presente, as escolhas ficam menores, mais realistas e mais possíveis. As emoções deixam de ser monstros e se tornam mensagens. E o corpo passa a colaborar, em vez de protestar.

        Isso não se conquista de um dia para o outro. É um processo. Para muitos, é quase uma reeducação emocional — aprender novamente a ficar consigo mesmo sem precisar fugir.

       E aqui entra uma questão importante: ninguém nasce sabendo fazer isso. E ninguém precisa aprender sozinho. Às vezes, o mero ato de compartilhar, nomear e organizar experiências internas já abre espaço para viver de forma mais presente.

.       Aliás, quem já experimentou esse tipo de organização emocional percebe que a vida não fica mais leve porque o passado muda ou porque o futuro se torna garantido. Ela fica mais leve porque a pessoa finalmente se coloca no único tempo onde tem poder de ação.

        Há quem busque esse reencontro com o presente por meio de práticas espirituais, atividades físicas, rotinas mais saudáveis ou momentos de introspecção. Todas ajudam. Mas algumas pessoas descobrem, em determinado momento, que precisam de um espaço guiado, um pouco mais técnico, para reorganizar o que sentiram e o que ainda temem sentir.

        Se você percebe que está vivendo muito longe do “agora”, talvez seja apenas um sinal de que está na hora de olhar para isso com alguém que saiba fazer perguntas precisas, que enxergue padrões que você mesmo não enxerga — e que te ajude a recuperar a experiência do presente como um lugar habitável.

         E se esse texto já começou a tocar em pontos que fazem sentido para você, pode ser que esse seja o momento de considerar um acompanhamento psicológico. Muitas pessoas começam exatamente assim: percebendo que querem — e merecem viver de forma mais real, mais presente, mais sua.

 

Psicólogo Diego do Nascimento Souza 

CRP 19/003070

 






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