Postado por Izabel Oliveira de Carvalho em 14/08/2025 23:13
Atualmente um diálogo acerca da adultização foi inaugurado de uma forma impactante. No senso comum este termo é associado a momentos em que crianças são "forçadas" a assumir responsabilidades que não condizem com sua idade, como por exemplo, lidar com questões financeiras, entender conflitos conjugais dos pais, ou até mesmo de maneira simbólica agir como adulto, ser reprimido em alguma resposta emocional. Para a psicanálise este conceito é um pouco mais profundo e é colocado como uma invasão do espaço psíquico infantil, ou seja, as demandas adultas podem causar uma ruptura no processo de constituição do sujeito, que normalmente depende de um espaço e tempo adequado enquanto crianças para que seus desejos, suas fantasias e sua posição no mundo sejam elaboradas.
A adultização é o momento em que uma criança é tratada, percebida ou colocada em condições que não condizem com sua idade ou seja com seu desenvolvimento físico e psicológico (emocional). Este movimento pode ser experimentado de maneira explícita ou de forma sutil, as consequências podem ser profundas, especialmente baseadas no contexto psicanalítico. Abaixo algumas contribuições da psicanálise para o debate:
1- Infância como tempo de constituição do sujeito:
Os conceitos psicanalíticos colocam o período da infância como o momento em que o sujeito estrutura sua psique, o próprio S.Freud divide sua tese em fases, formando a teoria da sexualidade infantil, que apontam para um processo complexo e vunerável.
2- Função paterna e materna:
Para a psicanálise a adultização pode ser lida como uma "falha" das funções parentais, ou seja, os adultos responsáveis não sustentam os limites simbólicos entre o mundo adulto e o infantil, chamado de inversão de papéis ou parentalização.
Por exemplo: Uma criança que frequentemente tentar solucionar conflitos emocionais dos seus pais.
3- O lugar do desejo do outro:
Um teórico bastante famoso na psicanálise, J. Lacan, cita esta questão ao falar sobre o desejo. A criança adultizada é colocada no lugar do objeto de desejo inconsciente o adulto, seja para preencher uma falta, como para ocupar um espaço fantasioso, impedindo que a mesma se constitua como sujeito que possui o próprio desejo.
4- Consequências Psíquicas:
O fenômeno da adultização pode colocar a criança em uma antecipação das fases do desenvolvimento, gerando sintomas neuróticos, angústia, depressão e principalmente dificuldades na constituiçao da identidade. O brincar, fantasiar, errar e ser cuidada são essenciais para que a criança possa crescer saúdavel emocionalmente.
Conclui-se que para a psicanálise a ADULTIZAÇÃO é uma VIOLÊNCIA SIMBÓLICA, pois pode negar que a criança viva sua construção psíquica de maneira plena. É papel dos pais, educadores, cuidadores e profissionais da saúde proteger esse espaço e quando necessário buscar ajuda terapêutica para romper com os padrões que perpetuam esta dinâmica.
Izabel Oliveira
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