Postado por Cibelle Carvalho Pereira em 09/09/2025 16:50
Esse tema sempre me emocionou. São sempre relatos tristes e carregados de mágoa por quem sofreu o abandono. Mas não quero me referir aqui apenas ao abandono do pai em relação ao seu filho, mas também da mãe e, sobretudo, pessoas que mesmo sendo criadas pelos seus pais sofreram a rejeição na infância.
Abandono quer dizer desamparo, desprezo, renúncia. E é exatamente assim que uma pessoa se sente ao saber ou sentir que foi abandonada. O abandono sugere falta de amor, desimportância, descompromisso, falta de zelo. Mas nem sempre. Seria desumano pensar isso de uma mãe que deixa seu filho recém-nascido, uma vez que ela também sofre com essa decisão. O que acarreta essa opção de largá-lo, muitas vezes, está relacionada com a pobreza e falta de condição para o sustento de uma criança. Porém, nosso foco aqui será dado na pessoa que foi desamparada.
Entitulei esse texto como o abandono sendo uma ferida na alma. Isso porque ele fere, maltrata, humilha e nos reduz ao nada. É natural que o indivíduo pense que não é amado, pois quem deixaria um filho se o amasse? Para ele não importa muito as razões que levaram ao fato, mas sim o fato. O porque do rompimento afetivo é levado às mais profundas conjecturas.
Todo ser humano que nasce necessita que alguém cuide dele, lhe dê carinho e amor para ser inserido no mundo. Irão mostrar-lhe o mundo e ensiná-lo a viver. Essas atitudes favorecem que o sujeito creça saudável, confiante, seguro e amado.
O abandono traz dificuldades na socialização, conflitos emocionais, insegurança, baixa auto-estima e baixa auto-confiança porque não ocorreu os primeiros cuidados providos de amor e carinho. A sensação de ter valor e de ser amado é importantíssimo para a saúde mental da pessoa. Adultos que foram acometidos com esse peso da rejeição sofrem na vida adulta evitando qualquer possibilidade de outra perda. Temem ser deixados pela segunda vez. E a vida parece falha, manca, incompleta, um retrato em branco.
Falamos até agora do abandono real. Mas, e o abandono subjetivo? Ou seja, aquele que é feito na relação entre pais e filhos? Uma criança que não é vista, admirada, amada, notada pelo pai ou pela mãe? Essa também carregará uma ferida na alma. A sensação de rejeição será a mesma, até pior, pois mesmo com a presença a ausência afetiva é notória. Quase não há laço que una, que mostre para a criança que ela é querida e importante na vida dos pais. O "olhar" dos pais, isto é, o ser visto e amparado por eles, é que nos faz sentir que somos capazes. Se não há esse "olhar", como sentiremos que somos capazes? Se o núcleo familiar não reforça o laço afetivo, a criança vai se tornar um adulto inseguro, sentindo-se pouco amado e, portanto, com pouco valor.
Ainda, uma criança que é abandonada não aprende a cuidar de si. Tende também a se abandonar quando adulto. Em outras palavras, o cuidado que tiveram conosco nos ensina a cuidar de nós mesmos.
As pessoas que foram abandonadas, muitas vezes, querem conhecer seus verdadeiros pais. Talvez seja um "acerto de contas" afetivo; ou uma marco para sua identidade (meu pai/mãe é baixo, negro, alto, forte, rico, inteligente, nervoso, etc) e a partir desses dados a pessoa se conhece mais ou lapida sua própria identidade; ou o contrário, demarca as diferenças que existem entre ela e o seu genitor.
Por fim, posso afirmar que o nosso desejo é de ser amado, cuidado e querido pelos nossos pais. Ninguém quer ser abandonado e preterido. Para crescer forte e saudável precisamos do "olhar" que nos diga que somos capazes e que temos valor. Essa certeza é solidificada e precisa ser obtida na infância. A Psicologia contribui em cicatrizar essa ferida no sentido de criar um lar, que muitas vezes o indivíduo nem teve; um laço que foi desfeito e ajudá-lo a tornar um sujeito mais seguro e feliz, sem se abandonar. Essa construção é possível!