Postado por Alex Correa de Souza em 20/10/2025 16:12
A Psicologia, enquanto campo de estudo dedicado à compreensão da mente e do comportamento humano, possui uma história que se confunde com a própria história do pensamento. Embora sua institucionalização como ciência seja relativamente recente, as questões centrais que a definem, a natureza da consciência, a relação entre mente e corpo, e as causas do comportamento, são debatidas há milênios.
Este artigo propõe uma breve viagem histórica, remontando às suas raízes filosóficas e destacando os marcos cruciais que a transformaram de uma especulação da alma (do grego, psique) em uma disciplina empírica e cientificamente reconhecida, apresentando as principais abordagens que moldaram a prática psicológica contemporânea.
O interesse pela natureza humana e sua constituição mental remonta a datas que antecedem a Grécia Antiga. Contudo, é no berço da filosofia grega que as bases conceituais da Psicologia foram estabelecidas de forma mais sistemática.
Pensadores como Sócrates, Platão e Aristóteles empreenderam o que hoje consideraríamos uma racionalização da mente, embora a chamassem de "Alma". Platão, por exemplo, postulava uma separação entre o corpo e a alma (Dualismo), considerando a alma a sede do conhecimento e da razão. Aristóteles, por sua vez, via a alma como o princípio vital, inseparável do corpo, sendo a forma do corpo (SCHULTZ; SCHULTZ, 2015). Essas discussões iniciais sobre cognição, percepção e a integração psicossomática (corpo-mente) serviram como o substrato teórico que, séculos mais tarde, seria revisitado pela ciência moderna.
Após séculos de contribuições de grandes pensadores que prepararam o terreno intelectual, o século XIX marcou o ponto de inflexão decisivo: o rompimento da Psicologia com a Filosofia e sua consolidação como ciência independente, seguindo o modelo das ciências naturais.
O marco fundamental ocorreu em 1879, em Leipzig, na Alemanha, com Wilhelm Wundt. Wundt estabeleceu o primeiro laboratório de Psicologia Experimental (SCHULTZ; SCHULTZ, 2015). Seu método baseava-se na introspecção controlada e na medição objetiva de processos mentais básicos, como sensação e percepção, inaugurando a Psicologia como ciência da experiência consciente.
A partir da fundação experimental de Wundt, o século XX testemunhou a proliferação de escolas de pensamento que divergiam em seus objetos de estudo e metodologias, enriquecendo o campo da Psicologia com uma pluralidade de abordagens:
Liderada por nomes como John B. Watson, Ivan Pavlov e B. F. Skinner, a linha Comportamentalista (ou Behaviorista) revolucionou o campo ao redefinir o objeto da Psicologia. Para Watson, a ciência deveria se restringir ao que é observável: o Comportamento (WATSON, 1913). Pavlov, com o conceito de condicionamento clássico, e Skinner, com o condicionamento operante, estabeleceram as leis do aprendizado e da modificação do comportamento por meio de estímulos e consequências ambientais.
Em contraste direto com a ênfase no comportamento observável, Sigmund Freud desenvolveu a Psicanálise. A partir de experiências clínicas com pacientes, notadamente em colaboração com Josef Breuer, Freud postulou a existência do Inconsciente (FREUD, 1900). A Psicanálise foca na investigação dos desejos reprimidos, traumas e conflitos internos que influenciam o comportamento e a saúde mental, oferecendo uma nova forma de compreender e tratar o sofrimento psíquico.
O Humanismo: Surgiu como a "terceira força" da Psicologia (após a Psicanálise e o Behaviorismo), com Carl Rogers e Abraham Maslow. Enfatiza o potencial humano, a capacidade de autodeterminação, a busca por significado e o crescimento pessoal (ROGERS, 1961).
A Abordagem Cognitiva e Cognitivo-Comportamental (TCC): A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) foca na compreensão de como os processos mentais (pensamentos, crenças e interpretações) influenciam as emoções e o comportamento. Desenvolvida principalmente por Aaron Beck, essa abordagem provou ser altamente eficaz no tratamento de diversos transtornos psicológicos, consolidando a Psicologia Cognitiva como um pilar da ciência moderna.
Desde a racionalização da "Alma" pelos filósofos gregos até a criação do laboratório de Wundt, a Psicologia percorreu um caminho notável de especulação filosófica à rigor científico. Com o surgimento do Comportamentalismo, da Psicanálise, do Humanismo e das abordagens Cognitivo-Comportamentais, a disciplina se consolidou não apenas como uma ciência, mas como um campo vasto e multifacetado, capaz de oferecer insights profundos e intervenções eficazes para a complexidade da experiência humana. A Psicologia moderna, portanto, é a herdeira direta de uma jornada milenar em busca da compreensão de si mesmo.
FREUD, S. A interpretação dos sonhos. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. IV e V. Rio de Janeiro: Imago, 1900.
ROGERS, C. R. Tornar-se Pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 1961.
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da Psicologia Moderna. 10. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2015.
WATSON, J. B. Psychology as the behaviorist views it. Psychological Review, v. 20, n. 2, p. 158-177, 1913.