Erro

A CULPA SILENCIOSA DE QUEM NÃO CONSEGUE DAR CONTA DE TUDO

Postado por Diego do Nascimento Souza em 16/08/2025 05:24


         Existe uma frase que me incomoda profundamente: "Você só não faz porque é preguiçoso". Ela é curta, certeira e, infelizmente, muito cruel. Vivemos em um mundo que mede valor pela produtividade, pela capacidade de fazer mais, mais rápido e com menos pausas. Nessa lógica, qualquer sinal de pausa é interpretado como fraqueza. Mas será que é mesmo preguiça… ou é sobrecarga?

         A ciência já nos mostra que sobrecarga mental não é “frescura” e muito menos “falta de vontade”. Nosso cérebro tem limites de processamento, atenção e energia. Quando você está exausto, seu sistema cognitivo entra em modo de sobrevivência — e isso significa cortar atividades, adiar tarefas e buscar descanso, mesmo quando existe uma lista enorme de coisas por fazer.

         O problema é que, nesse momento, nasce a culpa silenciosa. Aquela voz interna que diz: “Você deveria estar fazendo mais”. Esse diálogo interno não só é desgastante como também reforça a sensação de incapacidade. É como se, além de lidar com a sobrecarga, você ainda tivesse que administrar a frustração de não ser perfeito.

          É curioso perceber que, para muita gente, descansar virou um ato de rebeldia. A agenda lotada, as notificações sem fim e a cultura do “hustle” (trabalhe até cair) criam um ambiente onde o ócio é visto como perda de tempo. O resultado? Pessoas cansadas tentando parecer incansáveis!

          A sobrecarga não vem apenas do trabalho. Ela se infiltra nos cuidados com a família, nas responsabilidades domésticas, nas cobranças sociais e até nos momentos que deveriam ser de lazer — porque até se divertir agora parece exigir desempenho. Estamos sempre “devendo” alguma coisa para alguém!

         E aqui está um ponto importante: sobrecarga prolongada pode gerar sintomas muito semelhantes aos da preguiça, mas com uma causa completamente diferente. Lentidão para começar tarefas, dificuldade de concentração, falta de motivação e até procrastinação são, muitas vezes, sinais de fadiga mental e não de falta de caráter.

         Para quebrar esse ciclo, é preciso mudar a lente pela qual você se observa. Troque a pergunta “Por que eu sou tão preguiçoso?” por “Do que minha mente precisa agora para se recuperar?”. Esse pequeno ajuste muda o foco do julgamento para o cuidado — e isso abre espaço para decisões mais saudáveis.

          Recuperar-se da sobrecarga não é simples e nem rápido. Envolve aprender a dizer não, reorganizar prioridades, pedir ajuda e, principalmente, se permitir descansar sem culpa. É um processo que exige prática e paciência, porque vai contra a lógica acelerada que nos ensinaram.

          Entender seus limites não significa acomodar-se. Pelo contrário: é uma forma inteligente de preservar energia para o que realmente importa. Lembre-se de que produtividade não é fazer muito, mas fazer o que precisa ser feito com qualidade — e isso só acontece quando corpo e mente estão em equilíbrio.

          Se você se sente constantemente esgotado, não ignore os sinais. Às vezes, o que você chama de “falta de força de vontade” é, na verdade, um pedido urgente do seu corpo por pausa. Você não é preguiçoso. Você está sobrecarregado. E reconhecer isso é o primeiro passo para retomar o controle da sua vida sem se perder na culpa.

 

Psicólogo Diego do Nascimento Souza 

CRP: 19/003070

Whatsapp: (79) 9 9893-3474

 

 

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