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Relacionamentos e Individualidade: como viver conexão sem perder a essência

Postado por Gessica Lorrane Santos Oliveira em 25/08/2025 14:39


Na vida, muitas vezes sentimos que estamos divididos entre dois desejos igualmente importantes: construir relacionamentos significativos e preservar a nossa individualidade. Queremos estar próximos de quem amamos, mas também precisamos continuar sendo nós mesmos. Esse equilíbrio, embora fundamental para o bem-estar, nem sempre é fácil de alcançar. É comum que, em alguns momentos, nos sintamos pressionados a escolher entre agradar o outro ou ser fiéis a nós mesmos.

As chamadas terapias contextuais, entre elas a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) e a Terapia Comportamental Dialética (DBT), oferecem reflexões valiosas sobre esse tema. Ambas partem do princípio de que o ser humano não é apenas um indivíduo isolado, mas um sujeito construído em meio a relações, contextos e histórias de vida. Assim, aprender a conciliar relacionamento e individualidade é um passo essencial para viver de forma mais plena.

O olhar da ACT: valores e flexibilidade psicológica

De acordo com a ACT, os relacionamentos são uma oportunidade única de nos aproximarmos dos nossos valores, ou seja, daquilo que dá sentido à vida. Para muitas pessoas, valores como amor, cuidado, companheirismo e lealdade só podem ser expressos de maneira concreta quando estão em relação com alguém. No entanto, é justamente aí que mora um risco: às vezes, para manter um vínculo, acabamos abrindo mão daquilo que é essencial para nós.

Imagine, por exemplo, alguém que valoriza muito a honestidade, mas, para evitar conflitos, começa a omitir opiniões e sentimentos em uma relação amorosa. A curto prazo, essa escolha pode parecer estratégica, mas, com o tempo, a pessoa começa a se sentir desconectada de si mesma. Nesse ponto, o relacionamento deixa de ser um espaço de crescimento e passa a ser um local de afastamento da própria identidade.

A ACT propõe a flexibilidade psicológica como solução. Isso significa a capacidade de aceitar emoções difíceis, estar presente no momento e agir de acordo com os valores, mesmo quando há desconforto envolvido. Em outras palavras, é possível permanecer autêntico dentro de um relacionamento, sem precisar escolher entre ser fiel a si mesmo ou manter a conexão com o outro.

O olhar da DBT: equilíbrio entre aceitação e mudança

A DBT, criada por Marsha Linehan, traz uma contribuição importante ao destacar o equilíbrio entre aceitar a realidade e buscar mudanças. Esse princípio pode ser traduzido para os relacionamentos da seguinte forma: é possível validar o que o outro sente e, ao mesmo tempo, expressar de maneira clara as próprias necessidades.

Um exemplo comum é a dificuldade de dizer “não”. Muitas pessoas aceitam convites, cedem em decisões ou deixam de colocar limites por medo de magoar ou de perder o vínculo. No entanto, essa postura pode gerar ressentimento, desgaste emocional e até afastamento. A DBT ensina habilidades práticas, como assertividade, tolerância ao estresse e regulação emocional, que ajudam a lidar melhor com essas situações. Assim, em vez de explodir em um momento de raiva ou acumular frustrações, a pessoa aprende a se posicionar de forma firme e respeitosa.

Individualidade não é egoísmo

Um equívoco frequente é acreditar que preservar a individualidade significa ser egoísta ou se fechar para o outro. Na verdade, individualidade saudável é a capacidade de reconhecer os próprios sentimentos, valores e limites, sem deixar de se abrir para a relação. Quando alguém consegue ser autêntico e, ao mesmo tempo, se conectar, o relacionamento tende a se tornar mais forte.

Uma metáfora útil é pensar em duas árvores que crescem lado a lado. Cada uma tem suas raízes, seu tronco e seus galhos, mas ambas compartilham a mesma luz do sol e o mesmo solo fértil. Se uma das árvores tenta se apoiar totalmente na outra, acaba sufocando-a e prejudicando o crescimento das duas. O ideal é que ambas cresçam juntas, mas preservando sua forma e espaço próprios.

Na prática: como encontrar esse equilíbrio

Na vida cotidiana, manter a individualidade dentro de um relacionamento envolve algumas práticas importantes:

  1. Reconhecer valores pessoais: reflita sobre o que é essencial para você. Quais princípios orientam sua vida? Amor, liberdade, honestidade, crescimento, fé, amizade?
  2. Praticar atenção plena: momentos de presença ajudam a perceber quando estamos nos afastando de quem somos apenas para agradar o outro.
  3. Comunicar-se com clareza: expressar desejos e limites de forma respeitosa fortalece a relação. Isso evita que pequenos incômodos se transformem em grandes conflitos.
  4. Aceitar vulnerabilidade: é natural sentir medo de rejeição ou de conflito, mas fugir sempre desses sentimentos pode custar caro. Aceitar que eles fazem parte do processo ajuda a seguir adiante.
  5. Construir autonomia: cultivar interesses, hobbies e espaços individuais é tão importante quanto compartilhar momentos em casal. Ter vida própria fortalece o vínculo, em vez de enfraquecê-lo.

Relações que fortalecem, não que anulam

Relacionamentos e individualidade não precisam ser inimigos. Eles podem caminhar juntos, desde que haja consciência, respeito e disposição para crescer. Quando alguém se conecta consigo mesmo e, ao mesmo tempo, se abre para o outro, surge um espaço de troca verdadeira.

No fundo, todos buscamos algo em comum: amar e sermos amados sem deixar de lado quem realmente somos. As terapias contextuais nos lembram que a resposta não está em escolher entre um ou outro, mas em aprender a transitar entre os dois com flexibilidade.

Encontrar esse equilíbrio é um processo, não um ponto final. Haverá momentos de ajuste, de conflito e de aprendizado, mas cada passo nessa direção contribui para uma vida mais autêntica, rica em conexões e fiel ao que realmente importa.






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