Postado por Victor Menezes de Carvalho Silva em 21/12/2023 22:44
No cotidiano da grande maioria dos brasileiros, o trabalho consome seu tempo e energia. É quase um padrão ver em filmes, livros, séries, ou mesmo à nossa volta, pessoas exaustas após um longo dia de trabalho indo para casa sonhando com o tão merecido descanso.
Essa rotina se repete cotidianamente durante a semana, por vezes acabando somente no sábado à noite, até que finalmente chega o fim de semana. No fim de semana temos a oportunidade de nos divertirmos, termos um hobby, descansar e trabalhar.
Pode parecer surpresa em meio a tantas palavras que nos trazem calmas estar novamente a palavra trabalho. Nós já não ficamos a semana toda trabalhando? No fim de semana fazemos isso também?
O capitalismo contemporâneo, nos diriam grandes teóricos como, por exemplo, o filósofo sul-coreano Byung-Chul-Han, nos impõe uma hiperprodutividade. Atualmente somos compelidos a produzir mais e mais o tempo todo. Entretanto, o que é mais intrigante nessa constatação é que a hiperprodutividade não se restringe mais somente ao mercado de trabalho ou aos estudos, mas está diretamente ligada a todos os ambientes em que estamos inseridos.
Atualmente, é como se tudo fosse competição! Quem vai a lugares mais legais, quem tem o maior número de seguidores, quem está por dentro da moda ou das séries e filmes mais populares; estamos condicionados a uma lógica hiperprodutiva.
Isso significa que os momentos de descanso estão, também, sendo momentos de trabalho. Os hobbys começaram a tomar uma lógica produtiva. Por exemplo: ao se pintar um quadro, não se faz isso pelo gosto da pintura, pela vazão do sentimento ou pela distração que o traz. Hoje se pinta pensando no quão popular aquele quadro pode ser, o quanto posso ganhar fama ou dinheiro por ele, fazendo com que a autenticidade e o gosto se percam.
Mas isso não se restringe aos atos de criação. É cada vez mais comum que as pessoas sejam estimuladas a maratonar séries completas em dias, como se isso fosse uma meta pessoal, mas que, na verdade, serve a uma lógica de trabalho. O ato de assistir a série deixa de ser uma diversão e passa a ser uma obrigação e uma meta.
E quando tudo passa a ser uma obrigação ou uma meta quando o descanso real vem?
Não é raro que as pessoas não consigam descansar, mesmo quando estão deitadas na cama, pelo seu pensamento acelerado e produtivo estar focado nas tarefas a serem realizadas.
Com o fim de ano essa pressão pode aumentar. Pressões internas e sociais podem emergir como a tão consagrada, e repetida, música de Simone “Então é natal” que começa sua música com: “Então é natal, e o que você fez?”.
Parece que o fim de ano é recheado com apontamentos do que você fez, ou deixou de fazer, e as tão populares metas de fim de ano. Promessas que fazemos para o ano seguinte.
Mas essa hiperprodutividade tem um preço. Estresse, ansiedade, burnout e outras doenças estão cada dia mais recorrentes por conta do posicionamento das pessoas que estão sempre traçando metas, por vezes irreais, e cada vez menos glorificando suas pequenas vitórias e conquistas.
Quando chegar o momento de escutar “Então é natal, e o que você fez?” ou chegar o momento de ver aquela série tão aclamada, uma reflexão válida são as conquistas do dia a dia. Aquelas coisas tão pequenas e rotineiras que não damos importância.
Em algum momento dessa semana você já parou para pensar que chegar no trabalho todos os dias, sem se atrasar na semana, é um feito memorável? Ou que conseguir cumprir sua rotina de trabalho e mesmo assim conseguir equilibrar as coisas em casa é incrível?
Nossa rotina impõe que fazer coisas como chegar no horário ou fazer o almoço são o mínimo; porém, essas ações necessitam de energia, organização, tempo e planejamento.
Assim, nos seus momentos de descanso, talvez descansar de verdade possa te ajudar a equilibrar ainda mais saúde para continuar a rotina tão puxada do dia a dia, ajudando a manter uma rotina saudável. Como diria Emicida: “Pelas pequenas alegrias da vida adulta, eu vou”.