Postado por Diego do Nascimento Souza em 14/12/2025 20:45
Há uma solidão que não tem a ver com estar fisicamente sozinho. Ela aparece no meio da conversa, no jantar em família, ao lado de quem dorme na mesma cama. É uma solidão silenciosa, discreta, mas profundamente incômoda.
Essa solidão não grita. Ela sussurra. Surge quando percebemos que estamos presentes, mas não vistos; falando, mas não realmente escutados; existindo, mas não profundamente reconhecidos.
Estar acompanhado não é garantia de vínculo. Muitas pessoas confundem proximidade física com intimidade emocional, e pagam um preço alto por essa confusão: sentem-se culpadas por se sentirem sozinhas “sem motivo”.
A solidão acompanhada dói porque ela toca em algo primitivo: a necessidade humana de pertencimento. Não basta estar perto de alguém; precisamos sentir que há espaço para sermos quem somos.
Quando precisamos nos adaptar demais para caber em uma relação, a solidão cresce. Cada palavra engolida, cada emoção abafada, cada parte de nós que fica escondida vai construindo esse vazio interno.
Há quem esteja cercado de pessoas, mas viva emocionalmente isolado. São relações funcionais, educadas, corretas — porém rasas. E a alma não se alimenta de superficialidade.
A solidão dói mais quando estamos acompanhados porque, nesses momentos, ela escancara a distância entre o que sentimos e o que mostramos. É o abismo entre o “estou bem” e o “ninguém sabe como eu estou de verdade”.
Muitas pessoas aprenderam a se virar sozinhas cedo demais. Tornaram-se fortes, responsáveis, autossuficientes. Mas, por dentro, continuam desejando ser acolhidas sem precisar provar nada.
Quando essa criança emocional não encontra lugar, a solidão se instala mesmo em ambientes cheios. É como falar uma língua que ninguém ao redor compreende.
Há também a solidão de quem não se sente autorizado a dar trabalho, a incomodar, a pedir. Pessoas assim se fazem presentes para todos, mas ausentes de si mesmas.
A dor da solidão acompanhada não vem apenas da falta do outro, mas da falta de contato consigo. Quando nos afastamos do que sentimos para manter relações, algo em nós começa a adoecer.
Em muitos casos, a solidão é um sinal. Um convite interno para rever vínculos, limites, escolhas e, principalmente, a forma como temos nos tratado dentro das relações.
Não se trata de culpar os outros, mas de perceber onde nos calamos demais, onde nos diminuímos, onde aceitamos menos do que merecíamos para não ficarmos sozinhos — e acabamos sozinhos do mesmo jeito.
A solidão acompanhada ensina, ainda que doa. Ela mostra que presença sem conexão não sustenta, e que ser visto é mais importante do que ser cercado.
Algumas pessoas só percebem o tamanho dessa solidão quando param pela primeira vez e se escutam de verdade. E isso pode assustar, porque o silêncio revela o que foi ignorado por muito tempo.
É nesse ponto que muitos começam a se perguntar se existe um lugar onde possam ser inteiros, sem máscaras, sem performance, sem precisar ser fortes o tempo todo.
Para alguns, esse lugar começa em uma conversa cuidadosa, profunda, sem julgamentos. Um espaço onde a própria história pode ser revisitada com mais honestidade e menos culpa.
Ao longo do processo terapêutico, muitas pessoas descobrem que a solidão não era ausência de gente, mas ausência de si mesmas nas próprias relações.
Quando aprendemos a nos escutar, a nos validar e a nos posicionar com mais verdade, algo muda: a solidão perde força, e os vínculos passam a ter mais profundidade — ou deixam de existir quando não fazem mais sentido.
Talvez a solidão que dói hoje não seja um defeito seu, mas um pedido interno por encontros mais reais. E, às vezes, tudo começa quando alguém decide não atravessar isso sozinho.
Psicólogo Diego do Nascimento Souza
CRP: 19/003070