Erro

O vazio do domingo a noite

Postado por Karoline Scarlet em 05/08/2023 00:43


Compreender o vazio que permeia as noites de domingo requer uma imersão nas profundezas da filosofia, pois é nesse campo que encontramos uma vasta gama de pensadores que abordaram a angústia existencial e a busca por significado.

Jean-Paul Sartre, um dos principais expoentes do existencialismo, nos convida a refletir sobre o absurdo da vida humana. Em sua obra "O Estrangeiro", Albert Camus explora a solidão e a falta de sentido da existência humana.Ao examinarmos o vazio do domingo à noite sob a ótica do existencialismo, deparamo-nos com a angústia resultante da consciência da finitude e da transitoriedade da vida. O filósofo alemão Martin Heidegger, em sua obra "Ser e Tempo", discute a existência humana como um constante confronto com a temporalidade e a morte. É nesse contexto que o domingo à noite se torna um momento de confrontação com a finitude, um lembrete doloroso de nossa efemeridade no fluxo inexorável do tempo.

O filósofo francês Jean Baudrillard, em sua reflexão sobre a sociedade pós-moderna, nos oferece uma visão intrigante sobre o vazio nas noites de domingo. Para ele, vivemos em uma cultura do simulacro, onde a realidade é substituída por representações e simulacros, tornando-se cada vez mais difícil distinguir entre o autêntico e o artificial. Sob a esfera de Baudrillard,  a crise domingal é  como um momento de colapso entre as representações idealizadas da vida e a realidade crua que nos aguarda no início da semana.

Na esfera psicanalítica, o vazio do domingo à noite também pode ser compreendido em termos das teorias freudianas. Sigmund Freud, em seu conceito de pulsão de morte, explora a angústia inerente à existência humana e a constante luta entre os instintos de vida e destruição. Nesse sentido,  a escassez pode ser visto como um momento em que os impulsos de vida, manifestados durante o fim de semana de descanso e lazer, são reprimidos e confrontados com a necessidade de se adequar às normas e exigências sociais. Ao trazer à tona essas perspectivas filosóficas, mergulhamos em um oceano de reflexões e questionamentos profundos.

Dentre as perspectivas filosóficas que abordam essa reconciliação, destaca-se a corrente do pensamento existencialista de Albert Camus. Em sua obra "O Mito de Sísifo", Camus explora a noção do absurdo da vida humana, admitindo que o universo é indiferente às nossas aspirações e desejos. Diante do vazio existencial, Camus propõe a revolta como uma resposta autêntica, onde o indivíduo encontra significado e liberdade ao aceitar a condição humana e abraçar o desafio do absurdo. Ao olhar para a falta domingal noturna através da lente camusiana, podemos encontrar um chamado à autenticidade e à coragem de encarar a angústia existencial que nos aflige nesse momento. A revolta é o ato de encontrar sentido e significado nas pequenas ações e escolhas do cotidiano, mesmo diante de um universo aparentemente indiferente.

Assim, cada domingo à noite se torna uma oportunidade para abraçar essa revolta, encontrando significado na preparação para a nova semana e no cuidado consigo mesmo. Por outro lado, a psicanálise, através da obra de Melanie Klein e Wilfred Bion, oferece uma perspectiva sobre a capacidade do ser humano de enfrentar e transformar a angústia do vazio. Klein descreve a angústia como parte inerente do desenvolvimento humano, e a capacidade de tolerá-la e processá-la é fundamental para o crescimento emocional e a saúde psíquica. Bion, por sua vez, desenvolveu a teoria da função alfa, que representa a capacidade do indivíduo de conter suas ansiedades internas e transformá-las em pensamentos e ações significativas.

Diante disso, a escassez noturna domingal surge como uma oportunidade para acessar as ansiedades e inquietações mais profundas e, através da função alfa, transformá-las em reflexões significativas sobre a vida e o futuro. Este se transforma em um momento de introspecção e crescimento emocional, onde o indivíduo pode se fortalecer para enfrentar os desafios da semana seguinte.

Em síntese,  essa falta revela como um enigma existencial, um convite para explorar a complexidade da condição humana e para buscar significado em meio às incertezas do universo. As perspectivas filosóficas e psicanalíticas nos proporcionam um olhar profundo e enriquecedor sobre esse fenômeno, convidando-nos a abraçar a revolta diante do absurdo e a transformar a angústia em crescimento emocional. Dessa forma, o vazio do domingo à noite deixa de ser uma sensação de vazio e se transforma em um espaço fértil para a autodescoberta, a compreensão do mundo e o encontro com a própria humanidade.

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