Postado por Maicol José Bergo em 03/11/2023 16:00
Um dos aspectos que nos diferenciam de outros animais é a busca pelo sentido da vida. Um leopardo, por exemplo, se preocupa apenas em sobreviver, procriar, defender seus filhotes, alimentá-los e protegê-los até que se tornem capazes de sobreviverem sozinhos. Mas, seria um erro fazer essa breve descrição da vida de um leopardo afirmando que ele "se preocupa", afinal de contas ele não se preocupa com nenhum desses fatores. Essa foi uma palavra que usei para substituir o que chamamos de instinto animal. Nós, seres humanos, temos uma outra forma para nos comunicar e fazer contato uns com os outros: a linguagem.
Nossa espécie é sustentada por símbolos e, ao longo dos séculos, criamos significados para darem conta daquilo que chamamos realidade. Começando pelo final, posso dizer: "não existe sentido na vida". É uma boa afirmação, apesar de o primeiro impacto dessa frase soar, aos nossos olhos e ouvidos, um tanto cruel e desesperador, e também não dar conta da nossa realidade, porque continuamos buscando sentido desde as pequenas coisas do nosso dia a dia até as preocupações mais complexas que se passam por nossos pensamentos em momentos de reflexão.
Dessa forma, parece ser inevitável nossa necessidade de buscar e criar teorias para nos auxiliar a pensar e dar forma à realidade. Para isso temos a cultura: religiões, arte, ciência. O que é evitável é que tomemos as teorias como verdades absolutas e não como modelos para nos ajudar a dar conta e forma ao que vou chamar de "experimentar a realidade". (Não estou dizendo que a ciência não é importante, ou qualquer outra teoria, mas pense: será que ela consegue, por si só, dar sentido a todos os aspectos de sua vida?).
Somos sustentados por metáforas bem sucedidas que foram criadas para organizar nosso contato com o mundo e somos dependentes do conhecimento, teorias e modelos, mas o afeto envolvido em cada circunstância é particular e individualmente vivenciado por cada ser humano. Chamamos isso de formação simbólica. Por exemplo, a palavra "amor" tem, no dicionário, uma descrição bastante específica, mas o que significa amor para aquela pessoa no primeiro encontro em um restaurante com as luzes baixas? E o que significa "destino" para aquele cujo irmão faleceu recentemente em um trágico acidente?
Apesar de sermos sustentados por metáforas bem sucedidas, continuamos sendo, em certo ponto, um mistério para nós mesmos na mesma proporção que a palavra “árvore” é estranha para a própria coisa árvore, porque somos corpos cheios de letrinhas. E o corpo e as letrinhas (linguagem) não são tão compatíveis. A palavra, a linguagem são a metáfora do próprio corpo. O que estou dizendo é que os sentidos da vida – e usei a palavra “sentidos” no plural mesmo – estão nas experiências singulares de cada pessoa com suas próprias emoções e percepções de seus desejos representados e sentimentos reconhecidos no uno a uno. Citando o psicanalista Sigmund Freud, a felicidade é um problema individual. Aqui nenhum conselho é válido. Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz.
Maicol José Bergo
Psicólogo Clínico
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Artigo publicado na Revista Bem-Estar de São José do Rio Preto no dia 27 de fevereiro de 2022.