Erro

O Ego totalitário e nosso desejo de estar sempre correto

Postado por Danilo Nogueira da Macena Pinto em 27/11/2022 21:02


O ego totalitário é um termo usado na psicologia que descreve um processo de fechamento cognitivo no qual entramos quando somos confrontados ou questionados acerca de valores ou crenças fundamentais para nós. Assim um grande regime ditador em uma sociedade se mantém através da manipulação das informações divulgadas pela mídia, o Ego totalitário atua defendendo, o que nós entendemos como  “verdade” através dos mecanismos mais primários de defesa que nós possuímos, como por exemplo, quando temos a inteligência questionada, o ego totalitário é aquela voz que sussurra de volta “É só inveja”, “ele não entende como as coisas são”, “ele não sabe de nada”, “quem ele pensa que é”.
Deste modo, acredito que seja bastante comum que pensemos que "se é para a minha proteção, é bom". Entretanto, quando falamos de psique e seres humanos, é bastante fácil perceber que em todos os nossos sentimentos, existe uma faca de dois gumes, nenhum tipo de reação, quando em excesso, é benéfica. Como, por exemplo quando amamos, é comum os nossos impulsos sentimentais nos dizem para abrir mão de tudo e todos e nos jogarmos naquela felicidade, em contrapartida sabemos que o ideal é que não seja assim, pois nosso lado racional cogita sobre os problemas e discerne sobre o que é possível fazer ou não, neste contexto, a psicologia poderia ser entendida como a disciplina que tenta te guiar para uma experiência mais linear, tentando encontrar aquele meio termo que te permite experimentar a intensidade do amor, na segurança das reais possibilidades dentro da sua vida.
Existe um ditado que diz “não engane a si mesmo, é sempre a pessoa mais fácil de enganar”. Inconscientemente nós temos uma tendência a colocar sentimentos em tudo que nós cerca, e com os nossos próprios pensamentos, isso não poderia ser diferente. Existe uma camada de apego e de orgulho que cobrem nossas crenças fundamentais, sejam elas religiosas, sociais, pessoais ou até mesmo básicas, somos céticos sobretudo e as vezes não acreditamos em algo nem mesmo depois de ver acontecer, isso faz parte da experiência do ser humano em seu modo mais fundamental, pois somos confusos e complicados por natureza. 
Sendo assim, o ego totalitário, também possui seus extremos e é sobre eles que vamos falar hoje. Reconhecendo-o, primeiramente, como um impulso de defesa, é perfeitamente normal que aconteçam as situações que foram citadas no primeiro exemplo, afinal, quando somos questionados, tendemos a nos sentir inseguros quanto as nossas próprias convicções e capacidades, logo, esse mecanismo de defesa atua nos protegendo, nos dando uma dose de autoafirmação para lidar com um mundo que em diversos momentos abala as nossas estruturas. Então onde é que está o problema?
Imagine viver em um mundo dividido em dois grupos que discordam sobre como fazer as coisas, mas essencialmente almejam o mesmo objetivo. Imagine que sua família e você se encontram nessa divisão, então, você decide que o caminho da esquerda é o melhor, mas o seu irmão pensa que pela direita é mais rápido, logo, vocês discutem e o ego totalitário de cada um distorce tudo o que o outro diz, “pela direita não é seguro”, “pela esquerda não é correto”, ao invés de tentar encontrar os motivos pelos quais concordam e seguirem rumo ao objetivo, a conversa muda, ela esquenta, agora ambos estão com raiva, decidem validar somente a si mesmos e seguir seus caminhos, separando os que estão ao redor no processo e seguindo para rumos totalmente diferentes do que era esperado.
Acredito que esse exemplo seja prático e palatável, pois embora possa parecer extremo, ele poderia ter sido diferente, se ambos os irmãos ao invés de se sentirem questionados pessoalmente quando o outro não concordou, se preocupassem em entender os motivos pelos quais isso ocorreu, se tentassem conceber as necessidades um do outro e trabalhar juntos para garantir o que faltava para cada um deles. O ego totalitário sabe nos reafirmar e nos colocar como superiores para nos proteger, mas isso também pode ser usado para nos separar. Pense de modo menos extremo nas vezes em que você caiu nessa armadilha, nas vezes que os seus sentimentos te fizeram entender de uma forma diferente algo que acontecia bem em frente aos seus olhos, das vezes em que você teve bem na sua frente todos os motivos para mudar de ideia, mas decidiu seguir acreditando em algo simplesmente por acreditar.
Existem certezas que fazem sentido para nós hoje, mas mesmo elas não são imunes a mudanças, como um último exemplo, imagine em um histórico de 15 anos, quantas vezes nesse período você já ouviu algo como “agora foi provado que comer muito ovo no mesmo dia faz mal”, “agora comer muito ovo por dia é fundamental”...  Você pode ver em muitos lugares avisos sobre o perigo de estar certo, essa reflexão é tão antiga quanto a humanidade, afinal o próprio Sócrates já tentava ensinar algo parecido, “só sei que nada sei” quando observado dessa ótica traz um sentido muito mais profundo do que a frase solta pode causar. De modo mais prático, eu costumo pensar em algo que até então me era bastante particular, porém para fins didáticos eu não me importo em compartilhar. “Convicções são cárcere” é no que gosto de pensar, pois acredito que o maior dos grilhões que podemos nós colocar é o de estarmos tão cegos pela “verdade” que não conseguimos enxergar que vivemos uma mentira.

Fontes:

- Pense de novo: O poder de saber o que você não sabe, Adam Grant.

 

Psicólogo Danilo Nogueira CRP 18/06661: (65) 9 9907-5232 (Atendimento Psicológico Online para todo o País)

Instagram com conteúdo psicoeducativo sobre esse assunto e muitos outros: @psicologodanilonogueira






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