Postado por Samara Bezerra da Silva em 15/05/2025 17:56
Na sociedade contemporânea, marcada pela constante conectividade e pelo excesso de informações, observa-se um fenômeno cada vez mais comum: o consumo apressado de conteúdo audiovisual por meio da prática conhecida como speed watching. Essa estratégia, que consiste em assistir vídeos em velocidades aceleradas, como 1.5x ou 2x, tem se tornado uma tentativa de lidar com o volume crescente de informações e com a sensação de estar constantemente em atraso diante das novidades do mundo digital.
Essa dinâmica está profundamente relacionada à chamada síndrome do FoMO (Fear of Missing Out), termo utilizado para descrever o medo persistente de perder experiências prazerosas ou significativas vividas por outras pessoas. Essa síndrome, intensificada pelas redes sociais, está ligada à ansiedade, ao desejo de constante atualização e à comparação social.
O trabalho de conclusão de curso elaborado por Samara Bezerra da Silva, Alynne Bianka de Araújo e Jaciara Vasconcelos Rodrigues, apresentado à Universidade de Guarulhos, analisou precisamente essa interseção entre FoMO e speed watching, sob uma perspectiva psicológica e psicanalítica. O estudo indica que o comportamento de assistir conteúdos de forma acelerada, longe de ser apenas uma questão de preferência ou conveniência, pode estar associado a um padrão ansioso de consumo, no qual o indivíduo tenta suprir, por meio da velocidade, a sensação de insuficiência e a necessidade de estar sempre "por dentro" de tudo.
Sob a ótica da psicanálise, essa relação evidencia um mal-estar subjetivo que se intensifica na cultura digital, marcada pela hiperconectividade e pela aceleração do tempo. O consumo midiático deixa de ser uma experiência de lazer ou reflexão para se tornar uma tarefa urgente, muitas vezes vazia de sentido ou prazer. Essa tentativa de evitar a sensação de perda ou atraso revela um funcionamento psíquico que oscila entre o controle e a exaustão, entre o desejo de pertencimento e a angústia da comparação constante.
Os impactos desse modo de consumir conteúdo vão além da superficialidade na absorção das informações. Estudos apontam para consequências como dificuldade de concentração, estresse, insônia, sobrecarga cognitiva e prejuízos na saúde mental. Além disso, a tentativa de “ganhar tempo” muitas vezes resulta em um paradoxo: mais ansiedade, menos presença e menor qualidade de experiência.
A pesquisa destaca ainda a importância de refletir sobre as formas contemporâneas de relacionamento com a tecnologia, propondo a construção de uma relação mais saudável com o tempo, com os meios digitais e com a própria subjetividade. É preciso recuperar o valor da pausa, da atenção plena e da experiência vivida com profundidade, ainda que em menor quantidade.
Dessa forma, compreender a relação entre a síndrome do FoMO e o speed watching é um passo importante para pensar intervenções eficazes tanto no campo clínico quanto nas práticas cotidianas, de modo a promover não apenas o bem-estar psicológico, mas também uma reconexão com a dimensão qualitativa do tempo e da vida em sociedade.
REFERÊNCIAS
BEZERRA, Samara; ARAÚJO, Alynne Bianka de; RODRIGUES, Jaciara Vasconcelos. A relação entre a síndrome do FoMO e o speed watching: uma perspectiva psicológica. 2024. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia) – Universidade de Guarulhos, Guarulhos, 2024.