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O ABSURDO DA EXISTÊNCIA: uma perspectiva de Toy Story a Camus

Postado por Nathan Henrique Bovo dos Reis em 06/06/2022 14:21


O ABSURDO DA EXISTÊNCIA: uma perspectiva de Toy Story a Camus.

Autor: Nathan Henrique Bovo dos Reis 

Orientador: Prof. Esp. Virgílio Armando Trentin de Oliveira.

Este exemplar corresponde à redação final do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado e aprovado para obtenção do grau de Bacharel em Psicologia pelas Faculdades Integradas Urubupungá (FIU).

Aprovado em  18/10/2021

BANCA EXAMINADORA: Prof. Esp. Virgílio Armando Trentin de Oliveira (Orientador) Faculdades Integradas Urubupungá (FIU) - Prof. Ma. Natália Hernandes Carvalho Faculdades Integradas Urubupungá (FIU) - Profa. Ma. Carla Araújo de Souza Doutoranda em Educação para a Ciència (UNESP)

RESUMO

Um dos paradigmas mais dolorosos da vida vem sendo a busca pelo sentido. O ser humano evolui em sociedade na medida em que estabelece formas de convivência. Isso se dá a partir da cultura, que impõe padrões sociais de valores e estilos de vida. Nesse contexto, nos deparamos com um obstáculo: o conflito de atingir padrões quase inalcançáveis de maneira que o indivíduo começa a viver uma experiência de vida insuportável. Com base nessa problemática, o objetivo desta pesquisa foi discorrer sobre a vida sem sentido, ressaltando que aceitar que avida não tem sentido é melhor do que a busca incessante por um sentido préexistente ou divino. Com base nas obras de Albert Camus, precursor do Absurdismo e a tetralogia Toy Story, procurei identificar a falta de sentido da vida como algo positivo quando aceito. A relevância da reflexão sobre o tema implica nos riscos de não aceitar a vida sem sentido e perder-se a mesma tentando encontrar um sentido pré-existente ou vivendo um sentido torturante somente porque se tem a necessidade de dar significado e direção a tudo no universo. Compreender que a vida carece de um sentido e aceitar o mesmo contribui para uma melhor construção de ser no âmbito emocional, porque quando se entende que a vida não tem sentido, entende-se que não há decepção, expectativa, erros ou acertos. No entanto, não se deve olhar a mesma como sem valor. Não ter um sentido não significa que a vida perca seu valor. Pelo contrário, perceber que a vida não tem sentido alivia o peso que arduamente é carregado pela trajetória da vida em forma de deveres e/ou regras impostas, reforçadas pelo peso do cumprimento de expectativas sociais.

ABSTRACT

Uno de los paradigmas más dolorosos de la vida ha sido la búsqueda de sentido. Los seres humanos evolucionan en la sociedad a medida que establecen formas de convivencia. Esto se basa en la cultura, que impone estándares sociales de valores y estilos de vida. En este contexto, nos enfrentamos a un obstáculo: el conflicto de alcanzar estándares casi inalcanzables para que el individuo comience a vivir una experiencia de vida insoportable. A partir de este problema, el objetivo de esta investigación fue discutir la vida sin sentido, enfatizando que aceptar que la vida no tiene sentido es mejor que la búsqueda incesante de un sentido preexistente o divino. A partir de las obras de Albert Camus, precursor del Absurdismo y la tetralogía de Toy Story, intenté identificar la falta de sentido en la vida como algo positivo cuando se acepta. La relevancia de reflexionar sobre el tema implica los riesgos de no aceptar la vida sin sentido y perderla tratando de encontrar un significado preexistente o experimentar un significado tortuoso solo porque hay una necesidad de darle sentido y dirección a todo en el universo. . Entender que la vida carece de sentido y aceptarlo contribuye a una mejor construcción del ser en el ámbito emocional, porque cuando se entiende que la vida no tiene sentido, se entiende que no hay desilusiones, expectativas, errores ni aciertos. Sin embargo, uno no debería considerarlo inútil. No tener sentido no significa que la vida pierda su valor. Por el contrario, darse cuenta de que la vida no tiene sentido alivia el peso que está programado por la trayectoria de la vida en forma de deberes y / o reglas impuestos, reforzados por el peso de la satisfacción de las expectativas sociales.

Palabras-llaves: Absurdo, significado de la vida, existência

 

INTRODUÇÃO

      A motivação pela temática proposta nesta pesquisa reflete a experiência de um percurso pessoal. Passei minha adolescência e parte do início da vida adulta vivenciando dúvidas sobre o sentido da vida, as quais não foram bem recebidas socialmente. A perda do sentido da vida, o mal-estar atrelado à desesperança do futuro e a culpa pelo passado alimentaram angústias que me levaram a várias reflexões sobre o sentido da vida. Nesses questionamentos tive a percepção de que algumas verdades são impostas pela maioria social onde tentamos nos encaixar, o que gera uma sensação pessimista quanto à existência e de deslocamento diante da sociedade como ela se configura. Mas ao compreender a importância da desconstrução de alguns pensamentos e a reconstrução de um novo ser, apoiado em Camus, pude ver com outros olhos o real sentido da vida, no caso, a falta de sentido desta. Sendo assim, se somos seres humanos constituídos por uma subjetividade existencial, nada melhor que recorrermos a uma abordagem que muito tem a contribuir para quem busca o sentido da vida e, aqui, a falta de sentido.

      Nesta perspectiva, a pretensão deste trabalho foi de pesquisar sobre as contribuições de Albert Camus quanto ao absurdo da existência utilizando a Tetralogia Toy Story para a constatação da falta de sentido da vida. Como objetivos específicos: Compreender que a vida não tem sentido; reforçar que aceitar a vida sem sentido e constituir uma existência livre desta obrigação pode ser melhor do que passar a mesma na busca incessante por um sentido préexistente, divino ou inventado.

      A metodologia utilizada neste estudo consistiu-se em reflexão teórica acerca do Absurdismo, que, no campo da Filosofia, trata-se de um conceito que contribui com a discussão sobre uma categoria importante da vida que justamente é o sentido da mesma. A discussão foi feita com base numa análise filmográfica/ bibliográfica da obra Toy Story e dos contos de Albert Camus, pela qual tentou-se conciliar um paralelo na tomada de consciência do absurdo da existência dos protagonistas de Toy Story (1995 a 2019) com Mersault em O Estrangeiro (1979) de Camus, bem como suas percepções convergentes de aceitação de seus destinos no absurdo de suas existências como único meio possível para suportá-las, calcado na base teórica do Mito de Sísifo (1941).

      O psicólogo social Siegrifid Kracauer (1947) citado por Peter Loizos (BAUER & GASKELL, 2002), foi pioneiro na análise filmográfica da Alemanha Nazista entre 1918 e 1933 que defende que os filmes produzidos para e consumidos por uma nação permitem uma boa percepção das profundas disposições psicológicas de um grupo que se desdobram nos 6 âmbitos sociais, políticos e econômicos da existência. Assim, analisar a tetralogia Toy Story em perspectiva com as idéias de Albert Camus, para além do aporte filosófico, revelam as características psicológicas de um tempo inseridos numa escala de sociedade global a qual se inserem tais obras, dispostas suas idéias e perspectivas.

      A escolha da vertente filosófica se deu ainda pelo fato de que essa abordagem tem excelentes contribuições para o entendimento acerca do sentido da vida, pautada na ideia de que a vida não tem um sentido pré-existente e não necessariamente isso a torna vazia ou sem valor. Para ressaltar os aspectos da vida sem sentido, foram utilizadas partes dos contos de Albert Camus a partir da interpretação correlacionada à sua ideia de que a condição humana é dada pelo “absurdo”. Sua contribuição nesse enredo é de grande importância, pois, além de explorar um lado não alcançado pelas teorias preexistentes, o Absurdismo compreende o ser como em conflito entre a tendência humana de buscar significado inerente à vida e a inabilidade humana para encontrá-lo em um universo sem propósito, sem significado ou caótico e irracional. Tal enredo foi pautado em aspirações pessoais a respeito da busca frustrada e inalcançável de um sentido, o qual demanda tempo e esforços desnecessários já que a vida carece de um sentido e o máximo que se pode fazer é construir um com base na subjetividade única de cada ser e suas experiências ao longo da vida.       

      Partindo desse pressuposto, Camus usa o mito de Sísifo para explicar esse absurdo. Sísifo, na mitologia grega, foi o homem mais inteligente dentre os demais, mas por enganar os deuses foi condenado a empurrar uma pedra da base ao topo de uma montanha e ao chegar no final volta ao pé da montanha e assim tem de realizar todo o processo novamente, por toda a eternidade. Camus explica que o ato do absurdo não está em empurrar a pedra ou vê-la rolar montanha a baixo, mas sim saber que ao fim da tarefa, outra vez se encontrará na base da montanha.

Os deuses condenaram Sísifo a rolar incessantemente uma rocha até o alto de uma montanha, de onde tornava a cair por seu próprio peso. Pensaram, com certa razão, que não há castigo mais terrível que o trabalho inútil e sem esperança. (CAMUS, 1979, p.137)

 

      Então, o absurdo de existir está atrelado ao sentimento de não ser especial ou apenas ser uma vida que existe. Isso causa pensamentos tais como: qual o sentido da vida? Porque continuar? Minha vida vai ser isso para sempre? Quando se questiona tais coisas caímos no absurdo de existir, ou seja, podemos entender que a vida nada mais é que empurrar a pedra até o topo da montanha para que assim possamos voltar à base para empurrarmos outra vez e 7 assim sucessivamente até a morte. A princípio aparenta ser desesperador estar associado a uma existência insignificante e sem sentido, mas se olharmos por um panorama menos fantasioso de nossas próprias vidas, entendemos que somos frutos do acaso e por isso não importa encontrar o sentido da vida, não importa a falsa verdade que tentamos encontrar para que nossa vida tenha um significado maior do que ela realmente tem. A criação de expectativas, quando não são supridas, pode se tornar combustível para o sofrimento, apatia e possivelmente para inércia total em sua forma mais pura.

      Partindo do pressuposto de que a vida não tem sentido, direção ou propósito não se deve entender que a morte então é a solução, já que a vida não tem sentido. Camus interpreta esse absurdo como uma forma de impulsionar nossa existência mais subjetiva e trata esse absurdo como uma base para vivermos para nós mesmos, sem preocuparmo-nos com o sentido, tendo a liberdade para vivermos a partir do que acreditamos ser genuíno e não nos limitando a amarras sociais, Camus (1979) “assim, eu extraio do absurdo três consequências que são minha revolta, minha liberdade e minha paixão. Apenas com o jogo da consciência transformo em regra de vida o que era convite à morte - e recuso o suicídio.”

      Para elucidar minhas percepções acerca do absurdo da existência, do processo de tomada de consciência de si e do sentido ou não sentido da vida, tracei um paralelo da jornada humana e individual através da tetralogia Toy Story que ilustra seus processos de reconhecimento como meros brinquedos e uma busca pessoal e coletivas destes do sentido ou não sentido de sua existência como tal. Cada ser é igual ao outro, mas cada ser tem sua subjetividade, mesmo iguais, são únicos. Seguindo esse pensamento, temos liberdade para traçar nossa própria trajetória existencial. No quarto filme, Woody decide ir numa jornada com outro brinquedo em busca de aventuras, se desprendendo então do sentido que préestabeleceu e então ele compreende que a vida não tem sentido e resolve então tomar posse de seu destino e escolhas, daquilo que lhe faz feliz, se desprendendo de conceitos pré-existentes sobre o que é ser um brinquedo e o destino imutável de seu fardo. Ao invés de aceitar uma pré-concepção ou acabar com sua vida inútil, Woody decide então viver aventuras se distanciando da ideia de que sua existência teria um sentido, como sempre acreditou. E é partindo destes pressupostos, de que a vida sem sentido não é um convite à morte, mas sim um convite a uma vida livre e autônoma, sem o peso de ter que existir por um propósito, que proponho esta reflexão para meu trabalho de conclusão de curso

 

1 A BUSCA DE SENTIDO DE VIDA É UMA PERDA DE SENTIDO DE EXISTÊNCIA

 

      O ser humano passa grande parte de sua vida apropriando-se de valores externos para dar sentido e direção à trajetória de sua jornada como seres finitos e inconstantes. A própria morte atormenta até o mais vil dos homens e até mesmo o mais sábio dentre os mesmos formulam hipóteses do pós-morte por medo ou incapacidade de ver ou aceitar a sua insignificância pautada num mundo desenvolvido pelo acaso. Quanto mais tempo se passa buscando um sentido existente da vida, mais o próprio sentido parece ser inatingível. A negação de desejos internos, instintos e prazeres para que se possa alcançar uma magnitude perfeita, corpos inatingíveis e hábitos quase que cruéis de convivência a tornam, talvez, a vida cada vez mais difícil de suportar.

      Ao deparar-se com esse fardo das expectativas sociais, recai sobre os ombros questionamentos como: qual o sentido da vida se ela não me agrada? Porque viver se meus melhores anos ficaram no passado? Eu realmente aproveitei a minha vida ao máximo ou de forma correta? Quando esses questionamentos afloram, o sujeito entra em processos de constatação de que talvez a vida não tenha sentido. Quando o ser humano se depara com tal realidade ele se vê frente a frente com o que Albert Camus chama de Absurso:

Acordar, bonde, quatro horas no escritório ou na fábrica, almoço, bonde, quatro horas de trabalho, jantar, sono e segunda, terça, quarta, quinta, sexta e sábado no mesmo ritmo, um percurso que transcorre sem problemas a maior parte do tempo. Um belo dia, surge o “por quê” e tudo começa a entrar numa lassidão atingida de assombro. “Começa”, isto é o importante. A lassidão está ao final dos atos de uma vida maquinal, mas inaugura ao mesmo tempo um movimento da consciência. Ela o desperta e provoca sua continuação. A continuação é um retorno inconsciente aos grilhões, ou é o despertar definitivo. Depois do despertar vem, com o tempo, a consequência: suicídio ou restabelecimento. (CAMUS, 1979, p. 27)

 

      Nesse trecho é bem ressaltada a forma com que todo o dia sobe-se a montanha como Sísifo. A montanha é nosso trajeto, a pedra nossas obrigações, desejos e etc, saber que ao final voltaremos ao inicio pode ser assustador, revoltante e até desmotivador. Isso elucida a pensar se a vida vale a pena ser vivida, se vale a pena continuar e se realmente se estávivendo. No entanto, mesmo tendo consciência de tudo isso, o suicídio não tem espaço para quem aceita sua existência. Embora a vida não tenha sentido, dar um sentido a ela não faz com que ela seja menos valorosa ou suportável. Como diz Camus (1979) “a própria luta em direção às alturas é o suficiente para preencher o coração de um homem.”

      Em sentido análogo, no primeiro filme da obra Toy Story, o personagem Buzz Lightyear, dublado por Guilherme Briggs, acredita que é um patrulheiro espacial e que sua missão é derrotar o vilão Zurg, o qual é dublado por Andrew Stanton. Nesse contexto, Buzz conhece o boneco Xerife Woody (dublado por Tom Hanks) que mostra a Buzz que eles são apenas brinquedos de uma criança. No primeiro momento Buzz ignora o fato por acreditar ser “O” patrulheiro espacial (Toy Story: Um mundo de aventuras, 1995).

      No desenrolar da trama, Buzz toma consciência de que o sentido real da sua vida, naquele momento, não é salvar a galáxia, mas sim servir de brinquedo a uma criança. Ao perceber isso, o brinquedo patrulheiro entra num estado emocional drástico onde há a perda do sentido de sua vida, ou como Camus chamaria de a queda no absurdo. Quando ele se depara com esse absurdo decide então desistir de sua jornada de volta ao seu dono. É quando Woody então mostra a Buzz que ser apenas um brinquedo tem seus benefícios e ressalta que todo brinquedo do mundo daria suas partes móveis para ser um brinquedo tal qual Buzz é. Trazendo para a vertente do Absurdismo, Buzz compreende que o sentido que ele defendia tão veemente, entendido como pré-existente, é ilusório e então ele cria o sentido a partir de sua subjetividade se apegando novamente ao sentido que é de ser um brinquedo de uma criança. Mas isso é um sentido pré-existente que Woody induz Buzz a pensar. Quando Buzz toma consciência de que é apenas um brinquedo, que apenas é um dos milhares de brinquedos, isso se iguala à queda no absurdo do ser humano quando entende que é apenas fruto do acaso. No entanto, quando Woody diz a respeito de que Buzz é o brinquedo mais maneiro que existe, pode-se compreender a variabilidade subjetiva que há tanto nos brinquedos quanto nos seres humanos, a possibilidade de autonomia em sua trajetória e personalidade calcada na segurança de uma existência casual e sem sentido.

      Através das obras de Camus interpretei que a vida não tem um sentido exterior, mas sim o sentido que damos a ela. Esse absurdo se remete à tomada de consciência de que não há propósito na existência. Tudo que um dia foi dito ou prometido após o ultimo suspiro ou a influência para que haja dedicação a uma vida “correta” aos olhos de outrem não passa de um tranquilizante invisível que é embutido quase que em todas as pessoas por aqueles que não têm a coragem ou a percepção de entender a insignificância da existência. Os mesmos então passam a vida a se prender a portos seguros, mesmo que nesses muitos portos o mal estar seja predominante. O presente artigo não pretende desmerecer crenças, estilos de vida ou formas de viver a realidade, mas sim explorar o lado verdadeiramente racional de encarar a existência. Diz-se verdadeiramente, pois qualquer arte mística, fantasiosa ou abstrata é descartada no entendimento de sentido.

      Como um todo as pessoas passam maior parte de suas vidas respondendo os questionamentos internos desde “que roupa vou vestir hoje” à “quando eu vou morrer”. Essas perguntas às vezes tem respostas simples e rápidas, porém outras demandam quase que uma vida para serem respondidas e é ai que se embarca na perca da vida atrás de um sentido inexistente. Se o ser é fruto do acaso e há uma variabilidade infinita de acontecimentos, como se pode encontrar o verdadeiro sentido? Quando há muitas respostas certas para uma mesma pergunta pode-se dizer que todas estão erradas ou a pergunta que pode ser interpretada de várias formas. Aqui a interpretação parte do não sentido da vida.

      O entendimento da vida sem sentido é equivalente ao de um navio sem capitão. Não se sabe aonde o navio vai, não se sabe quando vamos chegar a um lugar e não temos segurança de que estamos indo para o lugar certo. Essas preocupações consomem muito tempo de existência quando o real objetivo de um capitão é guiar o navio. Tomando esse entendimento cada um é o capitão do próprio navio. Alguns traçam rotas, outros seguem outros navios, mas o que realmente é comum a todos é que estamos num mesmo mar. Podemos ir contra a maré, a favor ou corta-la ao meio, mas nunca se pode deixar de estar dentro dela. Quando se aporta num cais atrás de informação é quando se questionam sobre a vida, onde se está e porque seguir o curso. Muitos se mantêm no cais por medo ou incerteza, alguns voltam à sua rota original e outros apenas navegam. A paixão de navegar se assemelha à paixão de viver. Não é necessária rota pra quem gosta do mar, como também não é necessário sentido para quem ama a vida. Tomando isso como base de entendimento pode-se concluir que buscar o sentido da vida parece tolo quando temos uma vida pra se viver.

 

1.1 VALORES CONSTRUIDOS X REALIDADE: DILEMA

 

      Por muito tempo a sociedade se encaminha a um padrão social, psicológico e físico regido por regras, leis, ideação de corpos perfeitos, maneiras “saudáveis” de se relacionar e doutrinas arcaicas quase que indispensáveis na formação do “ser humano ideal”. Dentre essas várias normas embutidas no ser humano, desde o seu nascimento, como a religião, as culturas típicas do local de origem, as visões de mundo dos pais, formas de se desenvolver pautadas em um único ensino escolar que é transmitido a todo ser humano quase que como uma doença que se alastra pelo ser e se transmite pelo olhar os valores exigidos são, de uma forma, metas obrigatórias para que aja um bom visual perante o mundo físico. Não importa o que você acredita, o que você quer, o que você julga correto, o que você julga injusto ou a forma que você deseja levar sua vida. Se curvar diante das “obrigações” é inevitável a partir do momento que o olhar de outrem se torna um chicote julgador que só é cessado após o cumprimento de seu dever. Em seu conto “O estrangeiro” Albert Camus mostra bem essa norma social ao momento em que Meursault se depara com o caixão fechado de sua mãe e não pretende vê-la pela última vez:

Neste momento, o porteiro entrou por detrás de mim. Devia ter corrido: Gaguejou. "Fecharam-no, mas eu vou desaparafusá-lo, para que o senhor a possa ver". Aproximava-se do caixão, quando eu o detive. Disse-me: "Não quer?" Respondi: "Não". Calou-se e eu estava embaraçado porque sentia que não devia ter dito isto. Ao fim de uns momentos, ele olhou-me e perguntou: "Porquê?", mas sem um ar de censura, como se pedisse uma informação. Eu disse: "Não sei". Então, retorcendo os bigodes brancos, declarou sem olhar para mim: "Compreendo". (CAMUS, 1942, p. 15)

      O conflito entre o dever social de se despedir de sua mãe pela última vez e seu desejo de não o fazê-lo conota o grande dilema social de estar bem pra si e ser bem pros outros. Nada mais foi que uma forma de expressar oque sentia no presente momento e como isso poderia ser errado? Muitas das vezes os comportamentos são feitos devido a uma demanda social quase que punitiva, ou seja, não fazê-lo poderia assim diminuir seus sentimentos por ela? Não fazê-lo poderia então mostrar o desdém com a progenitora de sua vida? Não fazê-lo significaria que ele é uma pessoa ruim? Todas as perguntas podem ser respondidas de maneiras diferentes a partir de cada experiência passada e cada forma de levar a vida. Não há uma resposta correta ou unânime, pois quando se trata de vida não há maioria, não há minoria e sim individualidade. Cada um é precursor de seu caminho, logo, qual a interpretação é “certa” a se ter de comportamentos não convencionais como ser o que os pais sempre sonharam, pedir desculpas por coisas que não se tem culpa, manter um comportamento dirigido à submissão na empresa ou até mesmo abdicar de seus sonhos por não serem valorizados pelo meio social. A pretensão aqui não é problematizar quaisquer que sejam os conteúdos citados acima, mas sim buscar o entendimento de que a sociedade caminha seguindo apenas um grupo de pensamento e, nessa direção, em algum momento da vida do ser pode haver o dilema existencial a respeito do que devo ser e o que sou. No filme Toy Story 2 é ressaltado isso quando Woody é roubado por um vendedor de brinquedos e descobre sua real origem. Ele faz parte de uma coleção de brinquedos que será vendida ao Japão para um museu, todavia, Woody quer voltar para seu dono, mas os demais brinquedos da coleção conseguem convencer Woody de que seu lugar é com eles num museu, mesmo que isso não seja o desejo de Woody ele por um momento cede por acreditar ter um dever com outrem.

      Pegando de embasamento esse trecho do filme, pode-se entender que assim como na trama há grupos sociais que plantam ideias de pertencimento obrigatório do ser em seus enredos. Mas como um só grupo, formado por ideais semelhantes, pode ter conhecimento de um todo quando falamos em unicidade subjetiva? Entende-se por unicidade subjetiva a essência de cada ser, a história de cada ser e os valores apropriados de cada indivíduo. Diferente de apropriação individual para o desenvolvimento humano, vive-se um desenvolvimento semelhante à dos pássaros onde a mãe cospe na boca do filhote o alimento e o mesmo tem o dever de deixar o ninho em certa idade. Trazendo isso pra realidade humana, os seres engolem as informações e valores mesmo que involuntariamente e são a todo tempo estimulados a mudarem suas vidas constantemente e de formas pré-estabelecidas.

      Nascer, crescer, estudar, se formar, trabalhar, casar, ter filhos para que assim possa dar início ao mesmo ciclo, com a mesma forma, a mesma velocidade e sempre num mesmo sentido. No entanto, para seres irracionais a vida cíclica não precisa ter sentido, ser prazerosa ou estimulante. Quando se olha num panorama racional de existência, viver ciclicamente pode ser uma tortura quando as obrigações entram em conflito com desejos internos. Quando o ser se depara com esse conflito de pensamentos há a cisão da construção dentro de si ao longo da vida e a realidade que se encara. Há várias interpretações, mas duas ideias se sobressaem nesse momento: abdicar seus valores internos e viver o roteiro pré-estipulado ou a desconstrução de si mesmo para dar espaço à própria significação da vida, partindo assim do lado mais subjetivo da existência, olhando pra dentro e esquecendo fora do mesmo. É o processo de desconstrução de conteúdos que não pertencem ao indivíduo, mas sim que foram embutidos no mesmo e causam, de certa forma, desconforto e confusão a respeito do mundo externo com relação a si mesmo.

 

1.2 O SER É LANÇADO AO ABISMO DO ABSURDO DA EXISTENCIA

 

      Acordar, trabalhar, ir à academia, estudar, almoçar, jantar, interagir com as pessoas, olhar as redes sociais, assistir uma série, ver um filme e repetir o ciclo. O ser mantém suas atividades em uma rotina a qual o mesmo da um sentido que parece quase indispensável para uma vida saudável. No entanto, quando as mesmas atividades que faziam sentido deixam de fazê-lo o ser começa a se perguntar qual o real sentido de se fazer tudo isso todos os dias pelo resto de sua vida. Como Sísifo, a grande maioria dos trabalhadores enfrenta o mesmo castigo por toda sua vida. Trabalham de segunda a sábado, com os mesmos trabalhos, usando o mesmo percurso, voltando para a mesma casa onde moram, vendo as mesmas pessoas, comendo as mesmas coisas, lendo as mesmas notícias e isso até o fim de sua vida. Ou seja, sobem a montanha de segunda a sábado para descerem no domingo, sobem a montanha a sua vida toda para que então no fim acabem no início. A queda no absurdo desse enredo não está no fato de empurrar a pedra ou de subir a montanha, mas sim quando o ser toma consciência de sua situação trágica de manter a sua vida apenas existindo:

Esse mito só é trágico porque seu herói é consciente. O que seria sua pena se a esperança de triunfar o sustentasse a cada passo? O operário de hoje trabalha todos os dias de sua vida nas mesmas tarefas, e esse destino não é menos absurdo. Mas só é trágico nos raros momentos em que se torna consciente. Sísifo, proletário dos deuses, impotente e revoltado, conhece toda a extensão de sua miserável condição: pensa nela durante a descida. A clarividência que deveria ser o seu tormento consuma, ao mesmo tempo, sua vitória. Não há destino que não possa ser superado com o desprezo. (CAMUS, 1979, p. 139)

      O absurdo só é possível de ser notado quando o indivíduo toma consciência do mesmo, ou seja, enquanto se vive uma vida com seus afazeres, metas e objetivos que acredita ser escrito pelo destino ou de certa forma inevitável de NÃO acontecer, o mesmo permanece num estado de que a vida está onde deveria estar ou foi escrita para estar. A tomada de consciência do absurdo não vem para destruir um sonho, uma fantasia prazerosa ou trazer mal estar ao indivíduo, mas sim para impulsionar sua existência. Quando um obstáculo desnecessário de se superar aparece e o absurdo toma conta, entende-se que não é necessário um esforço desnecessário. Ir a um jantar de amigos que você não gosta e não vê há anos, não é necessário, ou seja, isso é um obstáculo desnecessário de se encarar. O fato de você não vêlos há anos não justifica aturar a companhia desagradável do outro. O mesmo se aplica a uma relação a qual se vê apaixonado pela pessoa, mesmo que essa o magoe diversas vezes. O entendimento de que isso tudo se torna sem sentido na vida individual e que se vive uma vida baseada no que se acredita ser necessário, faz com que no sofrimento causado por fazer a coisa certa, o sujeito caia na mais pura incerteza sobre seu próprio sentido da vida. Se a coisa certa foi feita, porque o sentimento de angústia e tristeza ainda o preenche? Será que o certo é o certo? Quando a persistência dessas questões torna-se quase que inevitáveis e insuportáveis o ser toma consciência do absurdo.

      Quando se toma consciência do absurdo de existir o sentido atribuído à vida não faz mais sentido, pois por finitude entende-se que um dia irá acabar, logo, a vida será pautada na realização incessante das mesmas atividades até o fim de sua vida. O sofrimento, apatia, tédio e esforço serão de certa forma, eternos. Ao assimilar isso com a própria vida, o indivíduo perde sua esperança ou seu desejo de continuar já que tudo não passa de um loop infinito com o fim ligado ao começo. Mas e agora, o que fazer com esse absurdo? Desistir de uma vez? Se prender a um sentido que fará com que a trajetória da vida seja menos dolorosa de aceitar? O que fazer quando se cai no abismo do absurdo de existir?

 

1.3 O SUICÍDIO COMO UMA QUESTÃO FILOSÓFICA: FÍSICO, FILOSÓFICO, O MITO DE SISIFO

 

      Ao se deparar com o absurdo de existir e entender que a vida carece de um sentido, ou seja, que a vida não tem sentido nenhum e a existência é vazia entende-se que a vida carece de um sentido, missão ou destino pré-traçado. Como a vida não tem sentido nos deparamos com o que Camus diz que é um problema filosófico realmente sério: o suicídio. Camus (1979) diz “só existe um problema filosófico realmente sério: é o suicídio. Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia.”

      Já que a vida não tem sentido e não há propósito, porque continuar vivendo? Quando o sujeito se depara com essa questão há soluções distintas que são: o suicídio físico, o suicídio filosófico e a aceitação. O suicídio físico é o ato literal de se matar. Há momentos da vida em que a dor é tão grande que já não se pode compreender a realidade como tolerável, no entanto o suicídio age sorrateiramente, age como se não estivesse la e chega sem prévio aviso, diz Camus:

O suicídio sempre foi tratado somente como um fenômeno social. Ao invés disso, aqui se trata, para começar, da relação entre o pensamento individual e o suicídio. Um gesto como este se prepara no silêncio do coração, da mesma forma que uma grande obra. O próprio homem o ignora. Uma tarde, ele dá um tiro ou um mergulho. (CAMUS, 1979, p. 8)

 

      Já que a vida carece de um sentido e a mesma está insuportável ou há algum problema que não se tem uma solução, o suicídio físico aparenta ser uma proposta coerente, todavia, como acabar com a vida pode resolver o problema primordial da vida? É como ser vencido em uma batalha que não foi travada. E além do mais, o suicídio não resolve o problema, mas sim faz com que o indivíduo fuja do mesmo. Ao se deparar com o suicídio físico o primeiro pensamento que deve ser forçado a vir à tona é: o suicídio físico é uma solução permanente para um problema temporário. Logo, enfrentar o absurdo de existir não tem como solução o suicídio físico.

      O suicídio filosófico é citado como o salto. Lembrando que o presente artigo não almejou desmistificar crenças ou menosprezar a fé de ninguém, mas sim compreender que a vida sem sentido pode ser mais bem vivida. Camus entende como “salto” as pessoas que acreditam que o sentido da vida está além do absurdo de existir, ou seja, passam a vida toda em busca de um sentido posterior ao plano que se vive, ele diz:

Eu tomo a liberdade de chamar agora de suicídio filosófico a atitude existencial. Mas isso não implica um julgamento. É uma maneira cômoda de designar o movimento pelo qual um pensamento se nega a si mesmo e tende a se ultrapassar naquilo que constitui sua negação. Para os existenciais, a negação é seu Deus. Exatamente: esse deus só se sustenta com a negação da razão humana. Mas, como os suicidas, os deuses mudam junto com os homens. Há diversas maneiras de saltar, mas o essencial é saltar. Essas negações redentoras, essas contradições finais que negam o obstáculo ainda não vencido, podem nascer tanto (é o paradoxo o alvo deste raciocínio) de uma inspiração religiosa como da ordem racional. Elas aspiram sempre ao eterno, é apenas nisso que dão o salto. (CAMUS, 1979, p. 54-55)

      Negar a finitude e acreditar que há um propósito posterior à vida, que deve ser alcançado, conforta o coração do ser que se nega a aceitar sua condição finita. Doa-se a vida em busca do depois, nega-se a vida pelo medo da punição e por fim perde-se a vida pela própria negação. Então, o suicídio filosófico é o salto pelo absurdo, onde o indivíduo nega sua condição finita e a vida sem sentido olhando para além do absurdo.

      O absurdo é difícil de ser aceito na razão, porque a todo o momento o meio social tenta construir padrões de vida, formas e estilos os quais se tem a ilusão de que se está encontrando o sentido da vida em coisas externas. Esses artifícios nada mais são que sentidos pré-existentes sendo apropriados, ou seja, o real sentido da vida destes consistem apenas em esforços para se equiparar há um sentido externo a si. Quando esses padrões não são atingidos ou não se adaptam ao plano existencial do indivíduo, uma tristeza, decepção e até mesmo uma revolta pode ecoar do mesmo. Todavia, se a discussão acerca do sentido da vida tiver o ponto final interpretado como: a vida não tem sentido(?). Tudo a nossa volta então poderão ser partes da construção de um sentido. A necessidade de existir um sentindo molda a motivação para que então o ser possa suportar sua condição finita e casual. Afinal de contas, como dito acima, a paixão de navegar se assemelha à paixão de viver. Não é necessária rota pra quem gosta do mar, como também não é necessário sentido pra quem ama a vida.

 

1.4 O MITO DE SISIFO NA PERSPECTIVA DE CAMUS E A CONSTRUÇAO DA EXISTÊNCIA

 

      A terceira forma de enfrentar o absurdo de existir é a aceitação. Albert Camus utiliza o mito de Sísifo para interpretar essa forma de aceitação. Aceitar o absurdo de existir é aceitar que tudo a nossa volta só tem sentido se darmos a eles um sentido. Relações, trabalhos, hobbies, sonhos, gostos, estilos, objetivos de vida, formas de viver, desejos íntimos e dentre outras formas de expressão subjetiva que todo ser humano traz consigo em sua história. No mito, Sísifo é condenado a empurrar uma pedra até o topo de uma montanha e ao chegar lá ele retorna à base para que possa então recomeçar sua tarefa por toda a eternidade. Entende-se por eternidade o tempo de vida de uma pessoa, o ato de empurrar a pedra como a forma que cada indivíduo enfrenta seu dia a dia e a pedra como o mundo que cada um carrega consigo. Mas claro, o pensamento pode ser mal interpretado, pois assimila a vida humana a uma condenação, diz Camus:

O operário de hoje trabalha todos os dias de sua vida nas mesmas tarefas e esse destino não é menos absurdo. Mas ele só é trágico nos raros momentos em que se torna consciente. Sísifo, proletário dos deuses, impotente e revoltado, conhece toda a extensão de sua condição miserável: é nela que ele pensa enquanto desce. A lucidez que devia produzir o seu tormento consome, com a mesma força, sua vitória. Não existe destino que não se supere pelo desprezo. (CAMUS, 1979, p. 139)

 

      No quarto filme da saga Toy Story, Woody se depara com uma questão muito pertinente a respeito de sua vida. Ele tem a escolha de voltar ao seu novo dono ou embarcar em aventuras com outro grupo de brinquedos. É nesse momento que ele percebe que ser um brinquedo é uma condição indiferente às suas obrigações ou escolhas, ele é um brinquedo e somente. Ou seja, suas escolhas têm de partir a respeito do que ele acredita e não de um meio externo a respeito do que um brinquedo tem de ser, fazer ou almejar como objetivo. Woody escolhe aventuras a uma vida monótona e não sente culpa do mesmo.

      Saindo da ótica cinematográfica e trazendo a realidade humana em pauta podemos extrair do enredo que o ser humano busca a todo instante dar significado à sua vida e quando não o pode fazê-lo preenche as lacunas com fantasias ou entra em um estado de dúvida quase que insuportável. Tendo em vista a inviabilidade do suicídio físico e filosófico como resolução do problema do absurdo, parece mais viável para Camus agarrar-se a segurança de uma vida sem sentido e, assim, sem o peso das expectativas sociais, pois possibilita que o sujeito tome as rédeas de sua trajetória sem ter que atribuir um sentido maior a algo que não tem. Assim vive livre, feliz e leve como o capitão de sua embarcação que apenas navega porque ama o mar, pois apenas vive como a vida é.

      Então quando se entende que a vida sem um sentido não é um castigo, é ai que se toma consciência de que o significado é uma construção subjetiva. É como uma tela em branco, onde é possível produzir um quadro, uma gravura, um texto, um conto ou uma arte, pode-se até quebrar a tela ou deixa-la em branco, pouco importa o que se faz com a tela, o importante é se isso faz sentido e traz bem estar para o dono. Até mesmo Sísifo pode ser visto com o gozo da aceitação, diz Camus:

Deixo Sísifo no sopé da montanha! Sempre se reencontra seu fardo. Mas Sísifo ensina a fidelidade superior que nega os deuses e levanta os rochedos. Ele também acha que tudo está bem. Esse universo doravante sem senhor não lhe parece nem estéril nem fútil. Cada um dos grãos dessa pedra, cada clarão mineral dessa montanha cheia de noite, só para ele forma um mundo. A própria luta em direção aos cimos é suficiente para preencher um coração humano. É preciso imaginar Sísifo feliz. (CAMUS, 1979, p. 141)

      Camus então traz que o absurdo da existência deve ser enfrentado com felicidade e aceitação, pois é isso a vida e nenhum outro sentimento vai mudar a cruel realidade da existência, então porque não encarar a montanha de forma positiva sabendo então que, no caso de Sísifo, o sentido de sua vida é empurrar a pedra.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

      Conforme evidenciado, o Absurdismo, no campo da Filosofia, contribui com a discussão sobre uma categoria importante da vida: a falta de sentido. A obra de Albert Camus tem contribuições para a construção do não sentido da vida, pautada na ideia de que o ser humano não pode encontrar um sentido pré-existente da vida na sociedade, no misticismo ou algo inato dentro de si. A escolha da tetralogia se encaixa com a ideia de queda no Absurdo, pois, no desenrolar da história de um de seus contos, o personagem Buzz percebe que não é tão especial como acreditava e que sua vida é apenas um acaso sem sentido. Entender que a vida carece de um sentido existente no exterior, do inicio até o fim, pode persuadir o ser a viver sua vida e aceitar o absurdo da sua existência.

      Minha intenção não é colocar um ponto final na questão, mas apontar para um caminho reflexivo sobre a relevância de apropriar-se verdadeiramente de uma existência sem sentido como um caminho seguro para a liberdade e autonomia de uma trajetória pessoal de existência leve e livre de amarras e expectativas sociais nocivas que, em contraste com a realidade, não podem ser realizadas dado o absurdo da existência. Trazer a perspectiva de Camus a respeito da vida sem sentido é de grande importância para minha compreensão da vida e talvez para mais reflexões, pois quando se entende que a vida não tem um sentido isso dá asas à criatividade e à liberdade de poder então traçar seu próprio sentindo utilizando ferramentas subjetivas a ponto de construir uma vida baseada em si mesmo.

 

REFERÊNCIAS

 

CAMUS, Albert. O Estrangeiro. Edição: Livros do Brasil. França, Gallimard, 1979.

CAMUS, Albert. O mito de Sísifo. Edição: Livros do Brasil França, Gallimard, 1941.

LOIZOS, Peter. Vídeo, Filme e Fotografia como Documentos de Pesquisa in: BAUER, M. W. e GASKELL, G. Editora Vozes. Pesquisa Qualitativa com Texto, Imagem e Som, Petrópolis – RJ, 2008.

TOY STORY: Um Mundo de Aventuras. Direção: John Lasseter. Produção de Walt Disney Pictures. Estados Unidos: El Capitan Theatre, 1995. 1 DVD.

TOY STORY 2: Em busca de Woody. Direção: John Lasseter. Produção de Walt Disney Pictures e Pixar Animation Studios. Estados Unidos: El Capitan Theatre, 1999. 1 DVD.

TOY STORY 3. Direção: John Lasseter. Produção de Pixar Animation Studios. Itália: Festival de Taormina, 2010. 1 DVD.

TOY STORY 4. Direção: Josh Cooley. Produção Walt Disney Pictures e Pixar Animation Studios. Estados Unidos: El Capitan Theatre, 2019. 1 DVD.






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