Erro

Nossas perdas e nossos lutos…

Postado por Angela Aparecida Cassemiro Del Rey em 13/05/2020 15:53


O luto está ligado a alguns pilares. Para que o sofrimento pela perda se manifeste, e se transforme em um processo de luto, é necessário que haja apego, é preciso que se sinta ligado a pessoa ou a situação que está perdendo. Não ocorre apenas por causa da morte, mas também nas diversas perdas que se tem através do simples ato de viver.

Outra questão importante é a idade que se tem. No desenvolvimento humano, com o tempo, se muda a visão de morte e de perda. A consciência das consequências reais de se perder algo ou alguém vão mudando com a nossa idade. Importante entender que para uma criança a situação atual tem mais a conotação de perder o passeio, a convivência com os colegas da escola ou brincar fora de casa e conviver com pessoas que já estava acostumada. Para um idoso, esse medo vai muito além. É necessário perceber que o medo natural de estar chegando muito perto da finitude, que já implica em uma condição que já pode causar ansiedade e depressão. Hoje estes medos estão potencializados. E a visão que um idoso tem da morte é bem mais real. Olhar com cuidado para os adultos e idosos neste momento é fundamental.

Perde-se em meio a uma pandemia, muitas coisas, entre elas a liberdade de ir e vir, a segurança de chegar a um futuro com tudo planejado, a estabilidade financeira, a fonte de sonho que servia de bálsamo em meio à correria do dia-a-dia. Estar em isolamento social, em decorrência do apego que se tem com a vida que se tinha anteriormente pode causar um processo de luto.

Ao se instalar o luto se apresenta com comportamentos de negação, negociação, raiva, estado depressivo e aceitação. Quem não negou que isso tudo era grave e que ia passar rapidinho e que não passaria de alguns dias descansando em casa. Mas não passou, começou a crescer, e aí vem a negociação com as possibilidades de um milagre ou de alguma maneira mágica de só os grupos de risco ficarem em casa. Veio a raiva, o medo, a tristeza, a angústia. Talvez a pandemia acabe antes do nosso processo de luto, mas o mais importante olhar com serenidade para a vida que se tem e como pode se viver reinventando o modo de existir dentro da nova realidade.

O maior luto e o mais doloroso são daqueles que perderam para sempre. Nunca mais vão poder voltar a ver o sorriso e os trejeitos de entes queridos. Na verdade, esse luto está contraposto dentro de outro luto. Já está difícil entender porque perdemos tantas coisas e como financeiramente será o futuro, no entanto, em meio a essas dores e incertezas chega as perdas definitivas das pessoas que amamos sem o direito de se despedir e de entender ainda o que está acontecendo.

O sonho não acabou. Mas como sonhar diferente, como vivenciar o respirar sem medo novamente. É preciso viver uns pelos outros, não dá mais para ser imune a dor do outro, precisamos intensificar nossa compreensão, amar diferente, a distância, mas olhar para o que está acontecendo como aprendizado. Que não seja necessário sofrer para aprender, mas crescer através daqueles que já estão dilacerados com suas perdas. É momento de agradecer por cada minuto com saúde. Acolher aqueles que sofrem suas perdas com o coração. Estar de luto depende do tamanho da importância que se dá ao que se perdeu. Que o luto por pessoas possa ser maior do que o luto pelas nossas perdas materiais. Que a humanidade nos permita sentir, pois não tem nada de errado em estar de luto, é um processo natural que faz parte do crescimento emocional quando perdemos. Mas a importância que se dá para alguém ou algo é escolha nossa.

Angela Del Rey

CRP 06-143554






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