Erro

Mães Narcisistas - Como lidar?

Postado por Flavia Franciny Costa Rojas em 22/06/2021 23:53


Primeiramente...

O que é uma pessoa com personalidade narcisista?

 

Algumas das características de uma pessoa com personalidade narcisista incluem :possuir um padrão de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia; exploração de pessoas em benefício próprio; ter  expectativas irracionais de tratamento especial; comportamentos ou atitudes arrogantes e insolentes; é frequentemente invejoso ou acredita que outros o invejam.

 

Pessoas do sexo masculino ou feminino podem ter personalidade narcisista, e diante da função social que elas exercem podem acabar afetando diretamente as pessoas a sua volta.  O que é o caso de mulheres narcisistas que se tornam mães. 

 

Sobre a paternidade/maternidade (isto é, parentalidade), vale lembrar que as pessoas antes de serem pais e mãe são sujeitos; homens e mulheres, que antes e depois dessa função enfrentam e tentam lidar com seus conflitos internos. Quando admitimos isso, retiramos um peso imenso de perfeição da parentalidade e permitimos que esses sujeitos sejam vistos como seres que podem falhar, assim como qualquer ser humano. Mas também permite que filhos consigam cuidar de suas dores ocasionados por pais que ultrapassaram o limite do que seriam conflitos comuns no ambiente familiar. 


 

E acima de tudo, ao desmistificar a relação entre pais e filhos, conseguimos aceitar o fato de que algumas relações podem sim fugir do que é saudável  e trazer consequências dolorosas. É o caso de relações abusivas vividas entre filhos (as) de mães narcisistas. 

 

Quando fazemos isso, tomamos conhecimento e legitimamos a experiência de diversos filhos e filhas que, infelizmente, experienciaram abusos, violência física ou psicológica dos seus próprios progenitores. Pois sim, isso fez (infelizmente ainda faz) parte da realidade de muitas pessoas.  

 

Quando falamos de mãe, tudo se torna muito delicado. A nossa sociedade alimenta uma visão de que todas as mães são iguais, e isso pode ser percebido nos dizeres “mãe é mãe”, “todas as mães amam, cuidam, protegem, acolhem”, “ser mãe é instintivo”, “pais/mães são sagrados” ou “mães sempre estão certas, não discorde”.

Porém, como já foi dito, isso nem sempre acontece.

 

Existem filhos que vivenciaram uma dinâmica com suas mães que não foi de cuidado, segurança e acolhimento. Nem todos que sofreram abusos e violência tiveram mães narcisistas, obviamente. Mas aqui vamos falar desse tipo específico de personalidade. E quais comportamentos costumam ser frequentes nessas mães e que obviamente afetam a vida dos filhos que ocupam o lugar de  “bode expiatório”.

 

O filho bode expiatório é aquele cuja mãe narcisista direciona grande parte das suas frustrações e abusos. Isso acontece através de comportamentos tais como xingamentos, agressões físicas, manipulação e chantagem, onde a mãe quer sempre ser o centro das atenções, quer competir com o filho(a), não admite ser contrariada, mina a credibilidade do filho com outras pessoas pessoas, não reconhece as conquistas e deposita nele suas responsabilidades (como criação dos irmãos, por exemplo). A mãe narcisista faz questão de provocar no filho a sensação de insuficiência e baixa autoestima, e que ela pode fazer qualquer coisa por ser a mãe e que ele deve tudo que é e tem a ela. Com isso, ela se  utiliza da função materna para justificar seus erros e reivindicar uma dívida que o filho nunca conseguirá pagar, afinal ela lhe deu a vida. 

 

Como já comentado, esses comportamentos apresentam algumas características que mexem muito com a saúde emocional dos filhos de mães narcisistas, que enfrentam já no começo da vida uma relação instável e cercada de abusos psicológicos (e as vezes físicos). 

 

Uma vez que são crianças ou jovens, estão em uma posição vulnerável. Além disso, por ocupar  lugar de filhos, crescem em um meio social que enfatiza os valores morais que envolvem a figura da mãe, que por sua vez ocupa uma posição de muita autoridade. 

 

Muitas vezes a configuração familiar é composta por um pai passivo ou ausente, que pouco se envolve para impedir o comportamento da mãe, e muitas vezes não se dá conta dessa realidade. O mesmo ocorre com irmãos ou outros familiares. Os outros filhos, ao contrário daquele que foi eleito como bode expiatório, costumam ter tratamento diferenciado, tendo mais carinho e atenção. O que confirma para a outras pessoas que ela é uma boa mãe, e ajuda a criar sobre o filho “bode expiatório” a imagem de alguém ingrato. 

 

Por estar nessa dinâmica familiar desde muito cedo, o filho bode expiatório pode demorar ou até mesmo não reconhecer sua condição. Ele (a) acredita nas manipulações da mãe, e por isso pode ser difícil perceber tudo que envolve essa trama familiar.
 

Com isso,  reconhecer tudo o que viveu/vive é importante para que a pessoa busque se fortalecer e encontrar formas de lidar com a situação. Essas formas podem envolver:

 

  1. Buscar informações sobre o assunto
              a)leituras, grupos de apoio, pesquisas sobre o tema etc. O importante é ter acesso a informação e perceber que não está só, outras pessoas também viveram o mesmo)

  2. Se desresponsabilizar de mudar a mãe
              a)não é culpa sua que ela seja assim, e não está sob o seu controle que ela mude

  3. Se afastar caso ache necessário (ou até ter condições emocionais para lidar com ela)

  4. Fazer terapia para:
    a)cuidar dos efeitos da codependência que as relações abusivas podem gerar;
    b)cuidar dos efeitos de uma criação baseada no desrespeito e humilhação, crença de que não será amado e respeitado;
    c) desenvolver relações mais saudáveis com os outros e consigo mesmo

 

Viver com uma mãe narcisista pode influenciar na forma como o sujeito se percebe e reconhece o seu valor , uma vez que ele foi cercado por críticas, julgamento e humilhações durante boa parte da vida. Porém é possível buscar reescrever uma nova história e desenvolver relações mais saudáveis a partir de então. O filho de mãe narcisista não só  pode como merece viver outros tipos de relação. Isso envolve tempo, informação, paciência e cuidado com a saúde mental. 

 

Psicóloga Flávia Costa
CRP 05/60279

Pós-graduanda em Asssitência a usuários de álcool e outras drogas - Insituto de Psiquiatria (IPUB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro

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