Postado por Franciéle de Oliveira Scalcon em 08/08/2024 20:43
A crescente tendência de pessoas se identificarem com animais, objetos ou até mesmo com outras faixas etárias é um fenômeno intrigante que merece nossa atenção. Neste artigo, exploraremos as razões por trás dessas identificações, os possíveis transtornos psicológicos associados e como a sociedade e a família podem oferecer apoio.
Nos últimos anos, a sociedade tem observado um aumento significativo de indivíduos que se identificam de maneiras não convencionais, como animais, objetos, personagens fictícios, ou mesmo adultos que se comportam como bebês. Este fenômeno tem suscitado discussões amplas e variadas, tanto nas esferas sociais quanto acadêmicas. Embora algumas pessoas possam adotar essas identidades como uma forma de expressão pessoal, muitas vezes há questões psicológicas subjacentes que merecem investigação. Este artigo pretende analisar esses comportamentos sob a luz da psicologia, sugerindo que, na maioria dos casos, essas identidades podem estar relacionadas a problemas psicológicos subjacentes, como disforia e outras patologias.
A disforia de espécie é um fenômeno em que um indivíduo sente que pertence a outra espécie ou que está preso no corpo errado. Por exemplo, alguém pode se identificar como um lobo ou um gato e agir de acordo com essa identidade. Essa condição pode causar sofrimento significativo e requer atenção profissional.
A teriantropia é uma forma específica de disforia de espécie em que a pessoa se identifica como um animal específico. Pode envolver crenças profundas de que a pessoa tem características animais ou até mesmo a capacidade de se transformar fisicamente em um animal.
A síndrome de objetofilia é caracterizada pela atração sexual ou emocional intensa por objetos inanimados. Pessoas com essa síndrome podem se apaixonar por objetos como carros, estátuas ou até mesmo prédios. Essa identificação pode afetar negativamente os relacionamentos interpessoais e a saúde mental.
O infantilismo é quando adultos se identificam como bebês ou crianças pequenas. Isso pode envolver o uso de fraldas, chupetas e roupas infantis. Embora algumas pessoas adotem essa identidade como um fetiche, outras podem fazê-lo como uma forma de escapismo ou para lidar com traumas do passado.
A disforia de identidade refere-se a um estado de desconforto persistente com a identidade de gênero ou outras formas de identidade. Indivíduos que se identificam como animais ou objetos podem estar experienciando uma forma extrema de disforia, onde há uma desconexão profunda entre sua identidade percebida e a realidade física e social.
Os transtornos dissociativos, como o Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI), podem levar os indivíduos a assumirem múltiplas identidades, algumas das quais podem ser não humanas ou infantis. A dissociação pode ser um mecanismo de defesa contra traumas passados, permitindo que a pessoa "escape" da realidade dolorosa.
Pessoas no espectro autista podem adotar comportamentos incomuns como forma de lidar com a ansiedade social ou de buscar conforto em rotinas específicas. Embora não se trate de uma "identidade", pode ser mal interpretado como tal.
O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é caracterizado por uma instabilidade na autoimagem e na percepção de identidade. Indivíduos com TPB podem experimentar mudanças rápidas e extremas em sua percepção de quem são, levando-os a se identificarem de maneiras atípicas.
Alguns indivíduos podem ter um Transtorno de Espectro da Parafilia, onde há uma fixação em práticas ou fantasias incomuns. A identificação como bebês ou animais pode ser uma manifestação desse transtorno.
A TCC pode ajudar os indivíduos a reconhecer e modificar padrões de pensamento distorcidos e comportamentos problemáticos. É especialmente eficaz em tratar transtornos de ansiedade, depressão e alguns aspectos do TPB.
A TDC, uma forma específica de TCC, é frequentemente usada no tratamento de TPB. Foca em ensinar habilidades de regulação emocional, tolerância ao estresse e melhoria das relações interpessoais.
Para indivíduos no espectro autista, a terapia de integração sensorial pode ajudar a desenvolver uma melhor resposta aos estímulos sensoriais, reduzindo a necessidade de comportamentos incomuns como forma de auto-regulação.
Esta terapia é eficaz no tratamento de Transtornos de Espectro da Parafilia, ajudando os indivíduos a enfrentar suas fixações e reduzir os comportamentos compulsivos associados.
Medicamentos podem ser prescritos para tratar sintomas de ansiedade, depressão e outras comorbidades associadas a esses transtornos. Antidepressivos, antipsicóticos e estabilizadores de humor são comumente usados.
Para aqueles que sofrem com essas identificações, a terapia individual é fundamental. Um psicólogo especializado pode ajudar a explorar as razões subjacentes, desenvolver estratégias de enfrentamento e promover a aceitação de si mesmo.
A família e a sociedade desempenham um papel crucial. A compreensão, o apoio e a aceitação são essenciais para ajudar as pessoas a lidar com suas identidades. Reduzir o estigma e promover a educação sobre esses fenômenos é fundamental.
Muitos indivíduos com identidades atípicas têm histórias de trauma ou abuso, que podem levar a uma dissociação da realidade ou a adoção de identidades alternativas como mecanismo de enfrentamento.
A falta de conexões sociais genuínas pode levar as pessoas a buscar conforto em identidades não convencionais. A solidão extrema pode resultar em uma desconexão da realidade compartilhada.
A internet oferece uma plataforma para a expressão de identidades atípicas e pode reforçar essas identidades ao proporcionar um senso de comunidade e aceitação que os indivíduos não encontram offline.
A identificação humana com animais, objetos e outras categorias é um campo complexo e diversificado. Como profissionais de saúde mental, devemos abordar essas questões com empatia, compreensão e respeito. Ajudar as pessoas a encontrar um equilíbrio saudável entre suas identidades e a realidade é um desafio, mas também uma oportunidade para promover o bem-estar emocional e psicológico. Com uma compreensão mais profunda e uma resposta apropriada, podemos ajudar esses indivíduos a alcançar um bem-estar psicológico melhor e uma integração social mais saudável.