Postado por Lucas Silva em 30/11/2023 11:50
Se o título te chamou a atenção por parecer até um controvérsia, já começamos bem, acredito que você assim como eu tem visto, mais e mais vezes, textos floriados sobre narcisimo, principalmente um narcisismo ligado as relações centrais de nossas vidas, pais, mães, namorados e namoradas, amigos, e esses relatos são todos focados em nos atentar o quanto é ruim para nós crescer ou ter que lidar com pessoas que pensam somente nelas mesmas, apagando nossos desejos e vontades. O conto de Narciso oriundo da mitologia grega, fala sobre um jovem de beleza avassaladora, que chamava a atenção de todos exatamente por essa característica, mas ao mesmo ponto em que era muito lindo, também era arrogante, por sempre se ver como superior, não acreditava que ninguém estava a sua altura, dispensando mortais e semi-deuses, seu final trágico, dependendo da vertente do conto, se dá por ele olhando para seu reflexo nas águas de um lago e definhando ali mesmo, sobre o encanto de sua própria imagem, em outro conto, na tentativa de ter o que via para si, cai no lago e morre afogado em busca de sua própria imagem, em uma versão alternativa, se enamora por sua irmã gêmea.
Mas por mais que pareça que esse mito represente apenas algo negativo. Para os criadores desse conto mitológico, a revelação e a moral dessa história, se dão no quão dramática é a individualidade e como é profundo (cair em um lago e se afogar) quando um indivíduo toma consciência de si mesmo, experimentando seus próprios dramas humanos. A questão é o excesso, precisamos saber muito sobre nós mesmos, nutrirmos carinho pelo que somos e que estamos nos tornando, mas sem esquecer que esse mesmo processo acontece aos outros, então em meio aos relacionamentos diversos que teremos ao longo da vida, precisaremos encontrar o equilíbrio, pensar em nós primeiro, priorizar nossos desejos basais, mas também não negar a existência do desejo, da autoestima e da importancia do outro. E sim, parece e realmente é, um processo complicadíssimo, temos de nos importar conosco e com os outros, as vezes ao mesmo tempo, as vezes com alternância, em alguns momentos esqueceremos esse cuidado em todos os lugares, perderemos o ego e nos sentiremos insignificantes diante do mundo ou aumentaremos ele tanto que esmagaremos os outros com nossa estima aumentada por nós mesmos.
A questão é, sempre existem dois lados de todas as vertentes, até mesmo para o narcisismo, visto que não gostar de si mesmo, baquear sua autoestima com autocriticas, colocar os sonhos, desejos e vontades dos outros em primeiro plano, também vai lhe fazer mal, então em alguns momentos você vai ter que performar algo narcisista, pensar em si primeiro, cuidar das próprias feridas, pegar alguns holofotes para você, se gostar, antes de gostar do outro, se priorizar financeiramente, enfim, se escolher, e não tem nada de errado nisso. O erro seria tentar uma permanência, ser sempre aquele que faz as vontades dos outros ou ser sempre aquele que só faz as próprias vontades, não faz bem para você, internalizar que está tudo bem alternar entre esses dois estados, e talvez mais alguns que surjam deles, é entender que você precisa dessas alterações, em alguns momento da vida mais em outros menos, mas você não é estável ou fixo quanto aos seus desejos, então está tudo bem pensar em si primeiro, ser narcisista, quando se nota permissivo demais.
Você pode ser narcisista, quando precisar, só não pode ser só isso, para sempre.
Psicólogo Lucas Silva
CRP 12/17971