Erro

Entre invisibilidades e cuidados: a saúde de mulheres bissexuais em foco

Postado por Carolina de Souza em 27/12/2025 13:40


Em meu artigo "Saúde de mulheres bissexuais: análise da produção científica nacional na pós-graduação", publicado na revista Psicologia Clínica (2023, v. 35, n. 1), analiso como a produção científica brasileira tem abordado a saúde de mulheres bissexuais ao longo das últimas décadas e o que esse conhecimento revela sobre cuidado, direitos, invisibilidades e desafios nos serviços de saúde. A pesquisa foi realizada a partir de uma revisão de teses e dissertações defendidas na pós-graduação no Brasil entre 1992 e 2021, com o objetivo de compreender quais temas vêm sendo priorizados, como essas mulheres são representadas e quais lacunas ainda persistem nas discussões sobre saúde.

Ao mapear os trabalhos encontrados, organizei os resultados em seis grandes eixos temáticos: saúde sexual e infecções sexualmente transmissíveis; encontros e experiências com profissionais de saúde; olhar e atuação dos profissionais diante das bissexualidades; invisibilidade das mulheres bissexuais nos serviços e nas políticas; políticas e programas de saúde relacionados ao tema; e saúde mental. Esses eixos ajudam a visualizar tanto o que já vem sendo discutido quanto aquilo que ainda precisa de maior atenção.

De modo geral, os estudos mostram que mulheres bissexuais enfrentam desafios importantes no campo da saúde. Muitos deles estão relacionados à bifobia, ao preconceito e à reprodução de estereótipos, tanto na sociedade quanto dentro dos próprios serviços de saúde. Em diversas situações, essas mulheres relatam experiências de julgamento, invisibilização ou silenciamento, o que afeta diretamente o acesso ao cuidado e a qualidade da atenção recebida.

Outro ponto que aparece com força na produção analisada é a invisibilidade das bissexualidades. Muitas vezes, políticas públicas e práticas de saúde ainda operam a partir de lógicas heteronormativas ou direcionadas principalmente a gays e lésbicas, deixando as mulheres bissexuais em um lugar intermediário, pouco reconhecido e pouco considerado. Essa invisibilidade não é apenas simbólica: ela impacta a forma como a saúde é pensada, monitorada e cuidada.

Os estudos também apontam para a importância de discutir a saúde mental dessas mulheres, considerando que o preconceito, a estigmatização e a negação de suas experiências podem contribuir para sofrimento psíquico, sentimentos de não pertencimento e dificuldades de buscar apoio. Ao mesmo tempo, a literatura mostra que há avanços importantes no campo da saúde coletiva, da psicologia e das pesquisas em gênero e sexualidade, o que indica um campo em crescimento e em transformação.

Um aspecto relevante deste trabalho é mostrar que a produção científica nacional sobre o tema ainda é relativamente limitada e concentrada em alguns contextos, o que reforça a necessidade de ampliar estudos, diversificar metodologias, incluir diferentes recortes e fortalecer investigações interseccionais que considerem raça, classe, território, idade e outras dimensões que atravessam a experiência de ser uma mulher bissexual no Brasil.

Ao longo do artigo, discuto também o papel dos serviços e dos profissionais de saúde, destacando a importância de formação adequada, práticas mais acolhedoras e políticas públicas efetivamente inclusivas. Reconhecer as especificidades das mulheres bissexuais não é apenas uma questão de identidade: é uma questão de equidade em saúde, garantia de direitos e cuidado digno.

Este post apresenta apenas uma síntese do estudo. Para conhecer detalhadamente o percurso metodológico, os resultados completos, as análises e reflexões desenvolvidas, convido você a acessar o artigo na íntegra no periódico científico em que foi publicado. A leitura completa permite aprofundar a compreensão sobre o tema e fortalecer o debate sobre uma saúde verdadeiramente inclusiva e comprometida com a diversidade.

Leia o artigo na íntegra: https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-56652023000100015






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