Postado por Lucas Henrique Ferreira Alves em 25/08/2022 19:57
Como a psicanálise pode ajudar você?
Você já deve ter ouvido falar várias vezes na psicanálise, mas você sabe realmente do que se trata? O objetivo deste pequeno escrito é explicar a você um pouco sobre a psicanálise e mostrar como ela pode ajudá-lo, além de enfatizar que a teoria psicanalítica, dada como morta várias vezes pela ciência e por outras abordagens, sempre se faz presente, sendo atemporal.
O pai da psicanálise é Sigmund Freud, neurologista austríaco que revolucionou a forma de se pensar o ser humano, sendo considerado uma das mentes mais influentes da história. O método que Freud desenvolveu ao longo dos anos, consiste em trazer o material reprimido, portanto inconsciente, para a luz da consciência. O sujeito que se submete a este processo, passa, pelo que nós psicanalistas chamamos de análise. Analisar significa “dividir” ou “separar”. E na técnica do psicanalista, esse trabalho de dividir ou separar se faz de algum modo presente. Separa-se aquilo que é inconsciente, mas que gera grande impacto na vida do paciente, daquilo que é consciente e o paciente diz conhecer. Dessa forma, um dos objetivos centrais da análise é proporcionar aos pacientes um espaço de escuta em que eles, através do discurso, possam encontrar formas de eliminar seus sintomas e substituí-los por pensamentos conscientes (Mezan, 2014).
Já ouvi alguns questionamentos na clínica que de algum modo atravessam esse processo. Algumas pessoas perguntam: é possível sair da análise pior do que entrei? Essa pergunta pode ser pensada de outra forma: é possível, ao fazer análise e acessar o conteúdo reprimido, me sentir ainda mais angustiado do que eu estava antes? A resposta para ambas as construções é sim. Existe uma série de mecanismos de defesa que impedem nossos traumas, nossos tormentos, nossas vivências insuportáveis de serem acessadas. Por isso temos a tendência de deixar de lado, de não falar sobre, de negar, de suprimir. Mas a coisa continua ali. E gera sintomas, mesmo que o sujeito pense que não. Ao trazer à tona esse material, vivenciamos de perto a angústia. Mas essa angústia é transformada. Ela não é imutável. Ela pode ser ressignificada. Afinal, quem nunca falou sobre algo que estava engasgado e não sentiu um alívio ultra-terapêutico?
Desta forma, nós, psicanalistas, visamos oferecer aos pacientes a possibilidade deles se livrarem de sofrimentos excessivos, construindo modos de substituir o desprazer por formas mais criativas e emancipadas de lidar com a realidade. O principal instrumento de uma psicanálise é a fala. É na fala que captamos aquilo que há de presente e aquilo que se faz ausente (Carvalho, 2006).
Se o principal instrumento é a fala, o principal método é a associação livre. Associar livremente é falar, de forma livre e evitando o máximo de censura possível. Muitas pessoas se perguntam: mas falar livremente me ajuda em que? Bom, a resposta passa por dois campos. O primeiro deles parte mais da técnica do analista. Como já mencionado, ao utilizar sua atenção flutuante direcionada ao discurso do sujeito, o analista consegue perceber uma série de mecanismos que na verdade são produções inconscientes. O sujeito, nesse momento fala, mas desconhece grande parte das motivações por trás de suas palavras. O analista está ali para conseguir captar as incoerências, as contradições, os lapsos, os atos falhos, os desejos reprimidos, e, por conseguinte, lançar uma luz ao sujeito. A segunda resposta à pergunta recente já diz mais respeito ao próprio sujeito. Ao falar, falar e falar sobre si e sobre o seu desejo, o sujeito passa a se escutar.
Portanto, já ofereci neste escrito todos os elementos que respondem a minha pergunta inicial. A psicanálise nunca se tornará uma técnica obsoleta por ser a abordagem psicológica que mais se aproxima da completude do sujeito e de seus desejos. O paciente terá o tempo que precisar para vencer suas resistências, transformando suas angústias em palavras e transformando as palavras em melhores modos de se viver. Falará bastante, conseguirá dizer sobre aquilo que não dizia, fazendo do reprimido algo consciente. Se ouvindo melhor, se escutando melhor. Por fim, apenas pontuo que a psicanálise não se difere das demais abordagens no que diz respeito a um propósito central que deve ser o norte de qualquer psicólogo: a solidariedade e o acolhimento genuíno do sofrimento humano (Carvalho, 2014).
Referências:
CARVALHO, A.C. ; A teoria invisível. In: Ana Cecilia Carvalho; Cassandra Pereira França (Org.). Estilos do xadrez psicanalítco: a técnica em questão. 1ed.Rio de Janeiro: Imago, 2006, v.1, p.15-20.
CARVALHO, A.C. ; O ofício do psicanalista. Percurso. Revista de Psicanálise, São Paulo, v.1, n. 37, p. 17-26, 2006.
CARVALHO, V.O. Fundamentos da associação livre: uma valorização da técnica da psicanálise, 2017
MEZAN. R.; O tronco e os ramos. Estudos de história da psicanálise. 1ed.São Paulo: Companhia das Letras. 2014. v.1, p. 89-137.
Lucas Henrique Ferreira Alves - CRP-04/67750
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