Postado por Eloísa Martins Ferraz em 01/12/2024 20:11
Aceitação e Controle
Desde cedo aprendemos com as pessoas adultas que deveríamos ter controle sobre nossos sentimentos. Ouvimos “pare de chorar”, “pare de sentir pena de você mesmo", “deixa disso” “ relaxa ”como se a gente tivesse um botão onde podíamos ligar e desligar os nossos sentimentos.Controlamos eventos externos e temos a falsa ilusão que podemos controlar eventos internos também.
A não aceitação nos leva ao controle interno como a supressão de alguns pensamentos, sentimentos e controle externo como uso de bebidas alcoólicas, drogas ilícitas , isolamento. Os benefícios e os prejuízos dessas estratégias devem ser avaliados em curto e longo prazos na vida do indivíduo.
Quando paramos de usar o controle e abrimos para sentir como parte natural da vida, abrimos para construir uma nova vida.No momento em que abrimos mão do controle praticamos a aceitação.
Aceitação e Esquiva Experiencial.
A esquiva experiencial amplia a dor da presença. Quando a pessoa tem fobia social , sofre a dor da presença, no momento que esquiva de ir a eventos. A pessoa sofre a dor da ausência por não ter ido ao evento, principalmente, se relacionar for algo valoroso para ela. Muitas pessoas são atraídas em manter as esquivas tentando manter o controle das experiências internas.Através da aceitação a pessoa abre espaço para sentimentos e sensações desagradáveis, em vez de eliminar, tentar distanciar ou remover.
Quando a solução se torna um problema?.
As estratégias de controle mais comuns são as estratégias de fuga quando a pessoa evita pessoas, lugares, para não despertar pensamentos e sentimentos desagradáveis. As estratégias de luta eliminam pensamentos e sentimentos indesejados e as estratégias de desligamento a pessoa tende a usar álcool, remédios, drogas para tentar desligar de pensamentos e sentimentos desagradáveis. A autointimidação ocorre quando a pessoa se auto deprecia com o alto grau de criticismo.
O que é a aceitação na ACT?
A aceitação é uma postura aberta, flexível, sem crítica às experiências.
A aceitação possibilita que a pessoa se engaje nas experiências com uma atitude curiosa, com abertura para experienciar os eventos psicológicos.
A oração da serenidade é uma forma significativa de falarmos sobre aceitação. “Conceda-me a serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, a coragem para mudar as coisas que posso, e a sabedoria para saber a diferença.”
Aceitando estamos aumentando as opções comportamentais, desenvolvendo a flexibilidade para responder quando a situação exigir.
A metáfora do bolo de chocolate ajuda no entendimento da nossa falta de controle dos eventos privados. Não pense em um bolo de chocolate! Um bolo de chocolate quentinho! o bolo que acabou de sair do forno! O bolo está com uma calda quentinha! Não pense no bolo!
Os resultados são paradoxais na tentativa de controle mental. Algumas pessoas pensam em outra coisa pra não pensar no bolo, quando utilizam essa estratégia de pensar em outra coisa, primeiro pensam no bolo de chocolate.
Na abordagem da ACT as pessoas devem relacionar-se com as suas dores e não suprimi-las. Praticando o mindfulness, ou atenção plena o indivíduo maneja a dor de maneira mais eficiente, reconhecendo a permanência dos sentimentos e sensações desagradáveis . Acolhendo as nossas sensações , sentimentos e pensamentos e abrindo mão da luta interna contra eles. A aceitação deve estar alinhada com os nossos valores pessoais .
Visualização da Aceitação.
Russ Harris traz no livro Liberte-se esse exercício.
Faça, primeiro, um rastreamento do corpo e escolha a sensação que mais incomoda. Observe-a como um cientista curioso.Agora visualize-a como um objeto. Qual é o seu tamanho e forma? É líquido, sólido ou gasoso? Transparente ou opaco? De que forma? De que cor? Essa cor varia?Qual é a sua temperatura e forma? É leve, pesado ou não tem peso? Qual é a textura? Áspero, suave, úmida, seca, pegajosa, espinhosa, quente, fria? Faz algum barulho? Vibra , pulsa ou se movimenta? É fixa ou móvel?
Respire lenta e profundamente. Respire por dentro e em volta do objeto. Crie espaço para ele. Abra espaço à sua volta e permita que fique ali onde está. Não precisa gostar dele, deixe-o ficar. Não tente se livrar dele e não tente alterá-lo . Se ele mudar sozinho, ótimo. Se não, tudo bem. A meta é simplesmente aceitá-lo.
Esse exercício é realizado para que possamos aceitar os nossos sentimentos e ele permite a livre movimentação.
REFERÊNCIAS
Hayes, S. C., Strosahl, K. D. Wilson, K. G. (2021). Terapia de Aceitação e Compromisso: O Processo e a Prática da Mudança Consciente. Porto Alegre: Artmed. 2021 Harris Russ: 2011.Stoddard Jill A. e Afari Niloofar . O Grande Livro De Metáforas da ACT. SYNOPSYS. 2025
Russ Harris: LIBERTE-SE .Evitando as armadilhas da Procura da Felicidade. Russ Harris. Agir. 2011.