Erro

"Vou a terapia para ouvir o que eu tenho a dizer"

Postado por Flavia Franciny Costa Rojas em 29/11/2021 21:46


Que a terapia é um espaço de acolhimento e escuta, isso todo mundo já sabe. Porém engana-se quem pensa que o profissional é a única figura capaz de proporcionar isso no setting terapêutico. 

Embora o cuidado feito pelo outro alcance outras dimensões, que nos remetem muitas vezes aos cuidados que tivemos ou deixamos de ter na nossa história de vida, grande parte do trabalho na terapia gira em torno do que o sujeito pode ou poderá oferecer a si mesmo no cuidado da sua dor.  Isso irá acontecer de forma gradual, e dependendo de suas condições no momento, porém é essa dinâmica que sustenta o trabalho terapêutico enquanto um processo. O terapeuta possui ferramentas e metodologias que auxiliam o paciente em seu percurso, e muitas vezes funcionará como um espelho para o paciente, possibilitanto que este veja pontos críticos da sua vida e ciclos viciosos na sua história. Porém o paciente, frente aquilo que irá ouvir de si mesmo, é quem vai perceber e descobrir como ele costuma reagir diante do seu sofrimento e o que pode fazer com isso.  

Uma das principais carcaterísticas da terapia é que de fato, na tarefa de falar para o outro, o paciente passa a se escutar contando sua própria história. É percebendo como ele organiza os fatos, relembra o que aconteceu em voz alta e e se depara com suas divergências e contradições que o sujeito consegue se ouvir para além de como ele se imaginava. Muitas vezes, dentro de nossas cabeças tudo se encaixa e faz sentido, ou caminha para um fim que nós já conhecemos e nos contamos tantas vezes. Quando isso é direcionado para fora, e as vezes encontra um outro que nos escuta sem julgar,   várias coisas ganhar outras formas e cores. Mas é acima de tudo mediante a um exercício nosso de dizer - possibilitando que a palavra dê contorno a experiências que parecem ser difíceis de suportar. Assim, a relação terapêutica torna-se uma sustentação (um chão) para que o sujeito possa falar sobre si e, dentro das suas condições, poder se olhar e cuidar. 

Assim, tão importante quanto um feedback profissional, o paciente está ali para ouvir o que ele mesmo tem a dizer. É o material trazido pelo paciente que torna a terapia possível, o que irá proporcionar abertura de caminhos. E o quanto antes isso é percebido, mais do que entendido racionalmente, é o que o paciente conseguirá se apropriar ainda mais  desse espaço e  do que a terapia pode proporcionar. 

 

 

Psicóloga Flávia Costa

CRP 05/60279

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