Postado por Thaís Evelyn Cruz Gonçalves em 19/02/2025 17:22
Muitas pessoas buscam a psicoterapia com a esperança de encontrar paz e alívio para seu sofrimento. No entanto, a verdadeira transformação nem sempre vem do conforto, mas sim da capacidade de questionar e se indignar diante do que nos adoece. Em alguns contextos, a terapia pode não trazer a serenidade desejada, porque o que realmente se faz necessário é o enfrentamento.
A psicoterapia pode não trazer paz se você está inserida em um ambiente que constantemente te adoece. Se você vive em um espaço que te sobrecarrega, te esgota emocionalmente e perpetua dinâmicas abusivas, não é realista esperar que apenas o autoconhecimento traga alívio. Em situações assim, o papel da terapia não é apenas ensinar a suportar, mas ajudar a enxergar que certas dores precisam ser combatidas e não apenas compreendidas.
O mesmo acontece quando sua rotina é um ciclo ininterrupto de demandas, sem espaço para descanso ou lazer. Esperar que a terapia ajude apenas a "administrar melhor o tempo" é insuficiente se o problema real está na carga excessiva de trabalho e na falta de apoio estrutural para redistribuir essas responsabilidades.
Se você está em um relacionamento que te desrespeita, a terapia pode te ajudar a compreender padrões e mecanismos emocionais, mas ela não deve servir para te fazer aceitar o inaceitável. Da mesma forma, se você é discriminada, diminuída e constantemente desvalorizada, a solução não está em "se tornar mais resiliente" — está em reconhecer que a indignação é válida e necessária para promover mudança.
Muitas vezes, a solução esperada da terapia é que você se adapte, aprenda a suportar e a se ajustar ao que te machuca. Mas e se, em vez disso, você precisar mudar, romper padrões e enfrentar situações que antes pareciam impossíveis de serem contestadas? Esse é um ponto crucial: a psicoterapia não deve ser um espaço de conformismo, mas sim de reflexão e ação.
A indignação é um sentimento essencial quando algo está errado. Ela é o que nos impulsiona a questionar, a sair da passividade e buscar algo melhor. Se estamos presas a contextos que nos fazem mal, a paz não pode ser um objetivo imediato — antes dela, muitas vezes, vem a revolta e a necessidade de lutar por mudanças reais.
Isso não significa que a terapia não possa trazer alívio emocional e suporte, mas sim que ela também pode ser um espaço para fortalecer sua voz, para validar sua raiva e para entender que o desconforto às vezes é necessário para transformação.
A terapia não é apenas um espaço de aceitação, mas também de reflexão crítica. Ela pode te ajudar a identificar padrões nocivos, a construir estratégias para sair de situações que te aprisionam e a fortalecer sua capacidade de agir. Mas isso significa, muitas vezes, abrir mão da ideia de que a terapia sempre trará calma e serenidade.
A psicoterapia pode te ajudar a suportar o insuportável, mas também pode te mostrar que você não deveria estar suportando certas coisas. Pode te ensinar a respirar fundo e seguir em frente, mas também pode te dar força para dizer "basta". Pode te trazer paz, mas também pode te lembrar que, antes disso, você precisa se indignar.
Porque nem sempre o caminho é encontrar paz. Às vezes, o que você precisa é coragem para lutar.
