Erro

A morte e seus processos em vida

Postado por Rafaela Cristina Brasil Cavalcanti em 12/09/2025 20:23


Enfrentar a morte não é fácil. Noticiar a morte de alguém é penoso para quem noticia e para quem recebe a notícia. Por quê? Porque por mais que saibamos dos processos naturais, não sabemos lidar com a ideia de finitude, tendo em vista que lembranças, memórias, histórias e saudades permanecem conosco até findarmos nosso ciclo vital. Também não sabemos lidar com a ideia de perda. Por quê? Porque fomos condicionados a conquistar. Conquistar pessoas, status, bens materiais, e a ideia de perder nos causa sentimento de frustração.

 

Colecionamos momentos e congelamos alguns do passado no aqui e agora. Logo, conviver com essa presença em meio à ausência de quem amamos, não é fácil. Aprender, não é fácil. Quem dirá aprender a ressignificar a presença, passando da física para uma denotação espiritual...

 

É que não sabemos como lidar com a dor.

 

José, 40 anos, diagnosticado com câncer. É metástase. José vivencia a morte em vida, bem como seus familiares e amigos também experimentam da mesma dor.

É que José está cansado, seu corpo já não responde mais, sua mente já não processa informações como antes. Mas, luta.

Ele luta por uma vida que já busca qualidade por meios paliativos. Ele luta pelo medo da morte e pela vontade de viver e ver seus filhos, netos. Luta pela esperança, mesmo exausto de lutar.

Sua família, exausta em vê-lo sofrendo, e sofrendo por participar de seus processos, só quer que tudo acabe, sem "acabar". É que vivenciar a morte dói e passar pelas fases do luto ainda em vida se torna cruel.

 

José se foi. Cansou de relutar contra o descanso e fechou seus olhos para descansar, deste plano, para sempre.

Sua família, um misto de alívio e dor.

 

É que aos poucos, a dor dá espaço para a saudade, e se vive com as memórias de alguém que se foi, mas permanece em vida dentro de nós.

 

Porque a morte, ainda que silenciosa, nunca consegue levar aquilo que foi verdadeiramente vivido. O amor não se enterra, a lembrança não se apaga, e a presença se transforma em parte de quem continua. E é nesse entrelaçar de dor e eternidade que aprendemos que ninguém parte por completo: seguimos sendo feitos de quem amamos.

Psicóloga Rafaela Cristina Brasil Cavalcanti 

CRP-02/24616






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