Postado por Diego do Nascimento Souza em 15/11/2025 16:24
Há dores que não dão aviso prévio. Elas apenas chegam, sentam na sala, cruzam as pernas e nos encaram como se sempre tivessem pertencido à casa. A sensação de “não ser suficiente” é uma dessas hóspedes silenciosas: ocupa espaço, muda o ar, e faz morada sem pedir permissão.
É curioso como essa dor nasce em lugares diferentes, mas produz efeitos parecidos. Alguns a conhecem na infância, quando tentavam agradar pais sempre distantes. Outros a encontram na adolescência, ao perceberem que não eram tão admirados quanto gostariam. Muitos esbarram nela na vida adulta, no trabalho, no amor, nos fracassos, nos silêncios.
A verdade é que a insuficiência raramente é construída por uma única experiência. Ela é sedimentada. Camada após camada, palavra após palavra, olhar após olhar. E quando finalmente percebemos, já estamos moldados por uma narrativa que não escrevemos — apenas decoramos.
Talvez o ponto mais perverso dessa dor seja o fato de que, mesmo quando conquistamos algo importante, ela faz questão de sussurrar: “Você só deu sorte.” É uma sabotagem elegante, sofisticada, quase inteligente demais para ser percebida de imediato.
E, no entanto, há algo profundamente humano nesse sentimento. Porque ele nasce do desejo legítimo de ser amado, reconhecido, visto. A dor de não ser suficiente é, antes de tudo, a dor de não se sentir digno de pertencimento.
O problema é que, ao tentar provar nosso valor o tempo inteiro, acabamos nos afastando de nós mesmos. Fazemos esforços enormes para sustentar personagens que não lembram em nada quem somos. E, ironicamente, quanto mais tentamos impressionar, mais distantes ficamos de sentir valor.
Alguns tentam resolver essa dor colecionando conquistas. Outros, colecionando relações. Há ainda quem colecione promessas de mudança — sempre começando do zero, sempre se sentindo em débito consigo mesmo. Nada disso funciona. Nada disso cura.
Porque o que sustenta a sensação de insuficiência não é a falta de resultados. É a falta de auto-reconhecimento. É a impossibilidade de se enxergar com generosidade. É a dependência crônica da validação alheia, como se todo e qualquer espelho externo fosse mais confiável do que o olhar que carregamos por dentro.
A libertação dessa dor não é um evento. É um processo — lento, às vezes frustrante, mas transformador. Exige uma honestidade difícil: admitir que a régua que usamos para medir nosso valor nunca foi nossa. E que talvez a vida até agora tenha sido vivida tentando alcançar padrões que não fazem sentido nenhum.
Também exige coragem: a coragem de rever histórias, enfrentar memórias, reavaliar crenças e questionar certezas que pareciam imutáveis. Libertar-se da sensação de insuficiência é, no fundo, reconstruir a própria identidade peça por peça, sem pressa, mas com profundidade.
E, acima de tudo, exige presença. Estar consigo, dentro do próprio corpo, com todas as falhas, tentativas, acertos, contradições. Não como um juiz, mas como alguém que finalmente decide ser companhia — não castigo.
Há um momento libertador nesse caminho em que percebemos que “ser suficiente” nunca foi sobre ter mais, fazer mais ou impressionar mais. Foi sempre sobre permitir-se existir como se é. Sem edição, sem filtro, sem prova de mérito.
. Quando isso acontece, a vida ganha outra textura. Não porque os problemas desaparecem, mas porque a relação consigo deixa de ser tão hostil. A crítica interna perde força. O medo diminui. O peito abre espaço para algo novo: autenticidade.
É claro que ninguém percorre esse caminho sozinho. Há dores que precisam ser ditas para perderem o poder. Há histórias que só ganham sentido quando são contadas. Há feridas que só cicatrizam quando alguém nos ajuda a olhar para elas sem desespero.
E talvez — apenas talvez — seja justamente nesse ponto que você comece a considerar a possibilidade de ter um espaço seu, seguro, discreto, onde finalmente possa falar sobre o que dói, reconstruir o que foi quebrado e descobrir aquilo que sempre esteve aí: a sensação de que você já era suficiente antes mesmo de acreditar.
Psicólogo Diego do Nascimento Souza
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