Postado por Laís Comini em 04/03/2024 13:53
Será possível que, apenas falando, consegue-se a cura para ansiedades, angústias, depressões, fobias? Essas são questões que muitas vezes surgem na clínica, quando o analisando se depara com o método clínico utilizado pela psicanálise: associação livre ou fala livre. Muitos questionam, mas é só falar? Você não vai sugerir que eu faça alguma coisa ou me ensinar alguma técnica?
Você também se questiona quanto a isso? Se sim, venha comigo...
Na psicanálise, reconhecemos que a raiz de diversos sofrimentos psíquicos se revela por meio de conteúdos inconscientes. Esses conteúdos se manifestam em sintomas como ansiedade, angústia, compulsão, fobias, depressão, entre outros. Freud observou que muitos desses sintomas operam como uma defesa contra a emergência de afetos que, por serem negados pela consciência, são mantidos reprimidos no inconsciente. Sendo, então, a energia pulsional detida pela repressão desses afetos, o principal desencadeador de sintomas neuróticos.
Nesse sentido, o analisando será encorajado a falar livremente, sem receio de julgamentos, repressão moral, medo ou possíveis sentimentos embaraçosos, para que esses afetos sejam evocados e elaborados. Ao trazer à tona esses afetos através da associação livre e explorar novos significados, essa energia deixa de ser direcionada para a criação de sintomas.
A psicanálise através de seu método clínico e da relação transferencial, pode então contribuir para dissipar, atenuar, aliviar e tratar sintomas psíquicos, porém não garante a cura dos sofrimentos psíquicos. Afinal, esses sofrimentos vão continuar a se manifestar em nossas vidas, de acordo com os desafios e entraves que surgem na nossa caminhada. O que contrapõe é o fato de que, ao serem restabelecidos novos caminhos psíquicos, abre-se possibilidades outras para a vida mental, para além daquela habitual, formadora de sintomas.
Ou seja, o tratamento psicanalítico é um recurso que nos permite "desatualizar" a maneira que nos habituamos a lidar com nossos sofrimentos. Possibilitando que encontremos outras alternativas para lidar com o que não tem sentido, com o horror das experiência angustiantes, com os desafetos e tudo o mais que, enquanto humanos, nos causa sofrimento. Mas, ele por si só, não pode evitar ou impedir que essas situações de sofrimento, de angústia ou de horror aconteçam.
Portanto, podemos considerar uma cura pelas das palavras, entendendo que essa cura não nos livra das vicissitudes que a vida nos reserva.
