Erro

A artesania da clínica

Postado por Gabriel Leva França Maciel em 07/05/2024 15:52


Mais do que nunca é preciso pensar a clínica como uma produção individual, singular, particular e própria. A clínica não se encaixa, às vezes, inclusive, ela desencaixa.

Na psicanálise, a construção de um caso clínico, sua leitura textual, as interpretações possíveis, as estruturas pensadas, tudo isso só se sustenta sobre a história do indivíduo e sobre o seu discurso em análise. Mas não acho que isso seja, ou devesse ser, coisa de psicanalista. Devia ser coisa de todo e qualquer terapêuta que se dispõe a ouvir e lidar com a fala, com a linguagem ou o discurso.

Não é possível encontrar uma resposta rápida, mais ou menos pronta, baseada nas categorias pré-existentes desse ou daquele diagnóstico, desse ou daquele sintoma, para se "consertar" a vida de alguém. É preciso realizar (e talvez essa seja a parte mais essencial do processo clínico) a elaboração, composição e invenção de um discurso sobre o sofrimento ou a queixa, sobre o desejo e o medo. Doravante, vê-se o que fazer com tal discurso.

A clínica está muito mais próxima de um serviço artesanal do que de uma fábrica ou grande indústria. Como um trabalho de artesão, manual, lento e cuidadoso, a análise ou a terapia acontecem. Acho que não apenas a análise é artesanal, mas qualquer tipo de terapia.

Do lado das produções em massa estão as respostas rápidas e a superabundância de técnicas despersonalizades que podem se encaixar mais ou menos em cada história, às vezes é justamente o que se desencaixa que é mais particular daquele ser, mais único e especial.

Do lado de artesania há apenas uma história que importa para aquele trabalho, um encontro entre duas ou mais pessoas distintas e comprometidas em uma transformação. Seja ela qual for, será única.

Portanto, de certa forma, também a clínica está na contramão do mundo.

Precisamos da artesania na clínica para que a história que se produza seja a mais fidedigna possível, porque é única daquele sujeito. É sobre ser autor da própria história, tornar o paciente/analisante/cliente mais ciente sobre a sua autoria na própria história, sobre como reinvindicá-la.






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